São Paulo, domingo, 12 de junho de 2005

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QUESTÃO AGRÁRIA

Evento da Folha na quinta discutiu reforma agrária no país

Em debate, líder do MST acusa Lula de repetir FHC

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em debate sobre reforma agrária, João Pedro Stedile, coordenador nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao contrário do prometido, repete a política de compensação social de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
A declaração foi feita em evento promovido pela Folha na noite da última quinta-feira. Também participaram do debate, mediado pelo jornalista Eduardo Scolese, o presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Rolf Hackbart, o presidente nacional da SRB (Sociedade Rural Brasileira), João de Almeida Sampaio Filho, e o professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Bernardo Mançano.
"O PT defendia uma reforma que conseguisse alterar a estrutura da propriedade da terra. Mas a política do atual governo não é ainda de reforma agrária. Nos dois anos e meio, o presidente Lula apenas repetiu a política de compensação social de Fernando Henrique. Só distribuir terras não é suficiente para tirar a população rural da pobreza", disse Stedile.
Para o dirigente do MST, o governo federal precisa apoiar uma reforma que case a distribuição de terras com a implantação de agroindústrias e de escolas e que facilite ainda o acesso dos assentados a novas técnicas agrícolas.
À fala de Stedile se contrapôs a do presidente do Incra. Para Hackbart, a reforma agrária já é uma realidade. "A medida é importante e está sendo feita no Brasil." Reclamou, porém da falta de verbas. Após concordar que a reforma agrária é uma realidade, o presidente da SRB pediu "menos ideologia e mais isenção" aos movimentos. Sampaio Filho sugeriu um programa de financiamento federal para que os sem-terra comprem suas propriedades.
O professor Mançano comparou dados do Incra de 1992 e 2003 e disse que o país nunca teve reforma agrária em escala nacional.
"Entre 1992 e 2003, as propriedades capitalistas, com mais de 200 hectares, aumentaram 60 milhões de hectares. As propriedades familiares cresceram 30 milhões de hectares. Podemos dizer então que teve reforma agrária? Não." Para Mançano, o país conhece apenas reforma agrária em escala municipal/microrregional.
A temperatura do debate subiu quando foram discutidas as formas de pressão usadas pelos movimentos sem terra, como as invasões de propriedades privadas.
O ruralista Sampaio Filho pregou formas de pressão "dentro da lei" e o "respeito às instituições".
"Quem faz pressão pela reforma agrária decididamente não sou eu. Mas quem faz deveria encontrar formas de pressão que fossem dentro da lei, que respeitassem o direito de outras pessoas. As invasões aumentam e criam um clima de insegurança. E o Brasil não precisa disso neste momento."
Irritado, Stedile retrucou: "Nenhuma família assentada em projeto de reforma agrária recebeu a terra por iniciativa do Estado. Sempre foi porque se mobilizou antes. A mobilização é necessária para construir cidadãos dignos".
Para o presidente do Incra, nenhuma política pública "anda se não é empurrada pela sociedade".
O professor Mançano fez uma associação positiva entre conflito e desenvolvimento. "Tenho visto que, nos assentamentos onde há conflito, há desenvolvimento. O Pontal do Paranapanema (SP), por exemplo, é a segunda região com mais conflito no Brasil. E está se desenvolvendo."

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