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ANÁLISE
Incoerente, oposição foi encurralada
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A nova CPMF ainda pode ser
derrubada no Congresso ou na
Justiça, mas o governo já pode
comemorar a vitória mais importante: como na campanha
presidencial de 2006, conseguiu encurralar a oposição em
sua própria fragilidade ideológica e programática.
Na falta de plataforma mais
consistente, tucanos e democratas tentam se qualificar como defensores do contribuinte
contra a escalada da carga tributária -iniciada, aliás, no governo FHC sustentado por ambos. Mas o passado até seria esquecido se os dois partidos estivessem de fato dispostos a assumir o complemento obrigatório da bandeira escolhida: o
combate à contínua expansão
do gasto público.
Logo após faturarem a extinção da CPMF no final do ano
passado, PSDB e DEM embarcaram sem reservas no projeto
que elevava em dezenas de bilhões de reais os gastos em saúde. Em parte, agiram rebocados
pelos interesses dos parlamentares ligados ao setor; em parte,
queriam criar um constrangimento político para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que
seria obrigado a vetar o texto.
Com a contraproposta lulista
de criar a CSS, a oposição foi levada, de um dia para o outro, do
ataque à defesa. O máximo que
pôde fazer, desde então, foi tentar retardar as votações na Câmara, enquanto era chamada
de irresponsável pelos governistas por pretender aumentar
gastos sem nomear as fontes de
receita, e preferiu nem responder que o projeto era do senador acreano Tião Viana, do PT.
Enquanto criticam genericamente a "gastança" do governo,
tucanos e pefelistas não se animam a votar contra nenhuma
das principais propostas de aumento de despesas. Em silêncio, ajudaram a aprovar os reajustes do salário mínimo, as
obras do PAC e todos os benefícios para o funcionalismo público. Já os petistas defendem a
expansão dos gastos em voz alta e com plena convicção.
É a repetição da estratégia vitoriosa na última eleição presidenciável, quando Geraldo
Alckmin teve de renegar em
público todas as suas idéias para conter a expansão do Estado
e de seus custos para a sociedade, enquanto Lula foi mais convincente, como era previsível,
prometendo o continuísmo.
Qualquer que seja o destino
da CSS, o Planalto já reassumiu
o discurso de defesa da saúde e
afastou o risco de um veto impopular antes das eleições municipais. Não há urgência nem
real necessidade de aprovar o
novo tributo -daqui para a
frente, o que vier será lucro.
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