São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2008

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JANIO DE FREITAS

Para fora do controle


Como sempre, é esperado um incidente trágico para dar início a considerações sérias sobre as ações de movimentos sociais

OS EFEITOS perceptíveis das ações "de protesto" que os movimentos MST, Via Campesina e Assembléia Popular e outros vêm realizando, como as invasões com alguns quebra-quebras em 13 Estados na terça-feira, são os mesmos para os dois lados: não aproximam os movimentos das conquistas que pretendem e mais comprovam a ineficiência do governo Lula, quando diante de problemas para os quais o neoliberalismo não lhe deu uma receita. No meio, as entidades públicas e empresas atingidas.
Como representações de classes socioeconômicas, aqueles e outros movimentos reivindicatórios contam, a priori, com justificativa histórica e contemporânea. Mas toda ação política objetiva efeitos favoráveis, por custosos e lentos que sejam, e isso deixou de ser o resultado dos métodos em que persistem o MST e seus similares.
As invasões banalizaram-se como ação e como mensagem à opinião pública, já incapacitadas de obter mais do que um noticiário efêmero e minguante e muito pouca ou nenhuma repercussão pública. Quanto à eficácia, qual poderia ser a de invadir durante algumas horas, por exemplo, dependências neutras de uma hidrelétrica remota, ou interromper a atividade de um porto secundário, em reação a projetos de termoelétricas, siderúrgicas e refinarias? Nenhum desses planos se desenvolve e decide nas áreas atingidas, mas em centros que mal tomam conhecimento das reações distantes. E, de qualquer modo, continuam acobertados pela indiferença dos respectivos ministérios e da Presidência da República.
O resultado da conjunção de ineficácia e indiferença é o acirramento físico das ações de reivindicação ou protesto, com quebradeiras que não precisam dos exageros da imprensa/TV conservadora ou sensacionalista, tal como fez na "depredação da Câmara" com a quebra de uma porta de vidro e de um dos computadores de uso público. Se atingir bens de uma empresa privada pode descarregar ódios, a destruição de um serviço de pesquisas científicas, em universidade federal, atesta o nível de irracionalidade a que pode chegar a frustração das ações inconseqüentes, por sua própria ineficácia ou pela omissão do governo. De outra parte, a reação tende a também crescer em violência, no que o Rio Grande do Sul deu clara demonstração anteontem.
Já passou há muito tempo a ocasião de começarem considerações sérias sobre esse quadro. Mas, como sempre, para isso é esperada a ocorrência de incidente gritantemente trágico. Cada vez mais próximo, à medida que as partes aumentam os riscos.

Calma no Brasil
Carlos Minc foi para o governo por apressar licenças de obras em áreas susceptíveis de degradação. Mas não precisaria se apressar tanto, sendo preferíveis as certezas convincentes em relação à vasta e importante área do rio Madeira. E, mais ainda, conviria pensar melhor em sua apressada proposta de conceder licenças contra o meio ambiente em troca da criação de mais reservas ambientes.
O fundamental nessa idéia não seria a troca, mas os meios de assegurar que seria no mínimo equitativa, se não for favorável ao meio ambiente.
Aprovar tudo depressa é muito fácil. O necessário, e mais difícil, é fazê-lo com segurança e no tempo hábil.


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