São Paulo, Sábado, 12 de Junho de 1999
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GOVERNO
Presidente diz não dispor, ""até agora", de dados sobre suposto envolvimento do novo chefe da PF com tortura
Não há prova contra Campelo, diz FHC

ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, por intermédio do porta-voz Georges Lamazière, que o governo "não dispõe, até agora, de nada" que sustente as denúncias de tortura feitas pelo ex-padre José Antônio Monteiro contra o diretor-geral nomeado para a Polícia Federal, João Batista Campelo. Segundo o porta-voz da Presidência, é "palavra contra palavra".
A posse de Campelo está prevista para a próxima terça-feira. No dia seguinte, o ex-padre irá depor na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Campelo disse ontem que o ex-padre, que o acusa de tê-lo submetido a tortura nos anos 70, durante o regime militar (64-85), era "dedo-duro" da direção do seminário de São Luís (MA), onde ambos estudavam no final da década de 50.
Georges Lamazière disse que FHC recebeu cópias de cartas e de documentos da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) referentes à época do regime militar e "em nenhum momento eles mencionam o nome de Campelo".
Lamazière afirmou que Campelo "goza de prestígio" por parte do presidente e no meio policial.
João Batista Campelo disse ontem que o ex-padre concordava com os castigos que sofreu no seminário, de onde acabou expulso. Entre os castigos estavam pancadas de palmatórias dadas pelo então reitor do seminário.
"Eu é que deveria dizer que fui vítima de tortura ou de castigos", disse Campelo. "Na época, ele era "dedo-duro", era o regente, ou seja, era aquele que fiscaliza os alunos menores. Ele nunca me aplicou castigo diretamente, mas, como ele era um dos chefes da disciplina, naturalmente concordava com todas essas práticas", afirmou.
Campelo, que na época tinha 12 anos, se descreveu como "um menino raquítico, porém rebelde".
"Eu fui colocado em pé de castigo, em frente de uma coluna do seminário por várias horas, fiquei de joelhos numa escadaria e passei três meses incomunicável", afirmou o novo diretor da PF.
Em sua defesa, Campelo passou a exibir um fax da presidente do Grupo Tortura Nunca Mais de Pernambuco, Amparo Araújo, que informa não constar o nome dele da lista de 26 mil torturadores relacionados em levantamento obtido no Supremo Tribunal Militar.

Covas
O governador de São Paulo, Mário Covas, disse ontem que Campelo não será mantido no cargo se for comprovada sua participação em torturas.
"A origem da denúncia é aparentemente séria e o fato deve ser apurado. Se for verdadeira (a denúncia), o governo não manterá a nomeação", disse o tucano.


Colaborou a Reportagem Local

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