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ENTREVISTA
Presidente muda de idéia em poucas horas sobre a Previdência e nega troca de favor por voto com igreja
FHC diz que negociação seria 'insensatez'
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
Até quinta-feira à noite, o presidente Fernando Henrique Cardoso ainda tentava defender a MP
(medida provisória) que proibia o
acúmulo de pensão e aposentadoria por uma mesma pessoa e que
acabou sendo revista ontem, menos de 24 horas depois.
"Os marajás estão pegando carona na reclamação das velhinhas,
das viúvas", disse o presidente a
jornalistas, após jantar para o presidente da Guiné-Bissau, João Bernardo Vieira, no Itamaraty.
FHC falou sobre a possibilidade
de um teto para o acúmulo dos
dois benefícios e, só depois de insistentes perguntas, admitiu rediscutir o assunto com o ministro
Reinhold Stephanes (Previdência).
Na entrevista no Itamaraty, FHC
falou ainda sobre Lei Eleitoral e
DNER mineiro. E negou troca de
votos de deputados da Igreja Universal por um abrandamento da
autuação da Receita Federal.
IGREJA UNIVERSAL - Fernando
Henrique considerou "um absurdo", "uma insensatez" e "uma
insanidade" a possibilidade de
uma negociação para que os parlamentares da Universal votassem a
favor da reforma administrativa
em troca de um afrouxamento da
autuação imposta pela Receita.
"Autuou, está autuado. Nem eu
posso ir lá e desfazer isso", disse o
presidente depois do jantar. O ministro Eduardo Jorge (Secretaria
Geral da Presidência) acrescentou:
"Só quem não conhece a administração pública poderia dizer que a
Receita voltaria atrás".
Sobre a possibilidade de a cobrança ser "empurrada com a
barriga", como perguntou um jornalista, o presidente respondeu:
"Eles, da Universal, disseram que
iriam entrar na Justiça. Aí, não temos mais nada com isso".
ENCONTRO EVANGÉLICO - O
presidente confirmou que naquele
dia à tarde havia concedido audiência a seis pastores evangélicos,
inclusive o deputado Lamartine
Posella (PPB-SP). Disse que eles
foram pedir apoio do Itamaraty
para as 150 delegações estrangeiras
que irão participar do encontro
mundial das igrejas batistas, entre
25 e 28 de setembro, em São Paulo.
Os pastores também o convidaram para o encerramento do encontro. Ele respondeu que pretende ir, se puder compatibilizar a
participação com sua viagem no
mesmo dia ao Chile.
Dos 29 deputados evangélicos,
21 votaram a favor da reforma administrativa. FHC disse que não há
novidade disso: "O que é que tem?
Eles sempre votam conosco".
LEI ELEITORAL - "O importante
é ter uma regra clara", disse o presidente sobre a nova lei de regulamentação das eleições de 1998, que
vai dizer como, e com quais limites, ele poderá fazer campanha no
exercício da Presidência.
Sobre o pagamento pelo uso do
avião oficial, seja em valores equivalentes a passagens aéreas, seja
com a reposição do combustível,
ele disse que considera "justo".
O presidente havia dito, duas semanas antes, que era impossível
exigir pagamento correspondente
a um aluguel de boeing, pois ficaria muito caro. Mas concorda com
a forma encontrada.
Ele reclamou, porém, da condução das discussões sobre os limites
de sua participação na campanha.
"Alguém ganha eleição inaugurando obra? Isso é uma besteira."
DNER MINEIRO - Fez questão
também de minimizar a crise no
PSDB por conta da nomeação de
um diretor para o DNER mineiro
ligado ao prefeito de Contagem,
Newton Cardoso, que é do PMDB
e um dos virtuais candidatos ao
governo do Estado em 98.
"Isso são 'peanuts'. Não têm a
menor importância", disse ele. A
tradução da palavra inglesa peanuts é amendoim. Usada em português, pode significar alguma
coisa secundária, insignificante.
FHC conversou com o governador Eduardo Azeredo sobre o
DNER numa quinta, e a nomeação
do adversário político dele saiu
menos de uma semana depois.
"Falei com o Azeredo e liguei para
o ministro (Eliseu Padilha, dos
Transportes). E não me preocupei
mais com isso. Eu mesmo me surpreendi com a nomeação", disse.
"É um cargo de quarto escalão,
não tem a menor importância.
Perguntem ao Covas (o governador Mário Covas) se ele sabe quem
é o diretor do DNER em São Paulo.
Aposto que não sabe", disse FHC.
MP DAS VIÚVAS - Na conversa
de quinta à noite, o presidente,
primeiro, menosprezou a pressão
de entidades de aposentados contra a MP que proibia o acúmulo de
aposentadoria e pensão. Depois,
admitiu que iria conversar com o
ministro Stephanes sobre isso.
Um dos jornalistas perguntou se
o presidente não iria mudar a MP,
pois "as velhinhas, as viúvas, é
que seriam prejudicadas".
Resposta de FHC: "Que nada.
Os marajás é que estão pegando
carona na reclamação delas. Eles
estão instrumentalizando as velhinhas, porque eles é que vão ser
prejudicados", disse.
Ele até tentou defender a MP, dizendo que ela poderia só limitar a
acumulação dos dois benefícios a
um determinado teto. Depois, avisou: "Vou procurar o ministro
para rediscutir isso". O recuo foi
anunciado horas depois, durante a
viagem de FHC ao Nordeste.
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