São Paulo, sábado, 12 de julho de 1997.



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ENTREVISTA
Presidente muda de idéia em poucas horas sobre a Previdência e nega troca de favor por voto com igreja
FHC diz que negociação seria 'insensatez'

ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

Até quinta-feira à noite, o presidente Fernando Henrique Cardoso ainda tentava defender a MP (medida provisória) que proibia o acúmulo de pensão e aposentadoria por uma mesma pessoa e que acabou sendo revista ontem, menos de 24 horas depois.
"Os marajás estão pegando carona na reclamação das velhinhas, das viúvas", disse o presidente a jornalistas, após jantar para o presidente da Guiné-Bissau, João Bernardo Vieira, no Itamaraty.
FHC falou sobre a possibilidade de um teto para o acúmulo dos dois benefícios e, só depois de insistentes perguntas, admitiu rediscutir o assunto com o ministro Reinhold Stephanes (Previdência).
Na entrevista no Itamaraty, FHC falou ainda sobre Lei Eleitoral e DNER mineiro. E negou troca de votos de deputados da Igreja Universal por um abrandamento da autuação da Receita Federal.

IGREJA UNIVERSAL - Fernando Henrique considerou "um absurdo", "uma insensatez" e "uma insanidade" a possibilidade de uma negociação para que os parlamentares da Universal votassem a favor da reforma administrativa em troca de um afrouxamento da autuação imposta pela Receita.
"Autuou, está autuado. Nem eu posso ir lá e desfazer isso", disse o presidente depois do jantar. O ministro Eduardo Jorge (Secretaria Geral da Presidência) acrescentou: "Só quem não conhece a administração pública poderia dizer que a Receita voltaria atrás".
Sobre a possibilidade de a cobrança ser "empurrada com a barriga", como perguntou um jornalista, o presidente respondeu: "Eles, da Universal, disseram que iriam entrar na Justiça. Aí, não temos mais nada com isso".
ENCONTRO EVANGÉLICO - O presidente confirmou que naquele dia à tarde havia concedido audiência a seis pastores evangélicos, inclusive o deputado Lamartine Posella (PPB-SP). Disse que eles foram pedir apoio do Itamaraty para as 150 delegações estrangeiras que irão participar do encontro mundial das igrejas batistas, entre 25 e 28 de setembro, em São Paulo.
Os pastores também o convidaram para o encerramento do encontro. Ele respondeu que pretende ir, se puder compatibilizar a participação com sua viagem no mesmo dia ao Chile.
Dos 29 deputados evangélicos, 21 votaram a favor da reforma administrativa. FHC disse que não há novidade disso: "O que é que tem? Eles sempre votam conosco".
LEI ELEITORAL - "O importante é ter uma regra clara", disse o presidente sobre a nova lei de regulamentação das eleições de 1998, que vai dizer como, e com quais limites, ele poderá fazer campanha no exercício da Presidência.
Sobre o pagamento pelo uso do avião oficial, seja em valores equivalentes a passagens aéreas, seja com a reposição do combustível, ele disse que considera "justo".
O presidente havia dito, duas semanas antes, que era impossível exigir pagamento correspondente a um aluguel de boeing, pois ficaria muito caro. Mas concorda com a forma encontrada.
Ele reclamou, porém, da condução das discussões sobre os limites de sua participação na campanha. "Alguém ganha eleição inaugurando obra? Isso é uma besteira."
DNER MINEIRO - Fez questão também de minimizar a crise no PSDB por conta da nomeação de um diretor para o DNER mineiro ligado ao prefeito de Contagem, Newton Cardoso, que é do PMDB e um dos virtuais candidatos ao governo do Estado em 98.
"Isso são 'peanuts'. Não têm a menor importância", disse ele. A tradução da palavra inglesa peanuts é amendoim. Usada em português, pode significar alguma coisa secundária, insignificante.
FHC conversou com o governador Eduardo Azeredo sobre o DNER numa quinta, e a nomeação do adversário político dele saiu menos de uma semana depois. "Falei com o Azeredo e liguei para o ministro (Eliseu Padilha, dos Transportes). E não me preocupei mais com isso. Eu mesmo me surpreendi com a nomeação", disse.
"É um cargo de quarto escalão, não tem a menor importância. Perguntem ao Covas (o governador Mário Covas) se ele sabe quem é o diretor do DNER em São Paulo. Aposto que não sabe", disse FHC.
MP DAS VIÚVAS - Na conversa de quinta à noite, o presidente, primeiro, menosprezou a pressão de entidades de aposentados contra a MP que proibia o acúmulo de aposentadoria e pensão. Depois, admitiu que iria conversar com o ministro Stephanes sobre isso.
Um dos jornalistas perguntou se o presidente não iria mudar a MP, pois "as velhinhas, as viúvas, é que seriam prejudicadas".
Resposta de FHC: "Que nada. Os marajás é que estão pegando carona na reclamação delas. Eles estão instrumentalizando as velhinhas, porque eles é que vão ser prejudicados", disse.
Ele até tentou defender a MP, dizendo que ela poderia só limitar a acumulação dos dois benefícios a um determinado teto. Depois, avisou: "Vou procurar o ministro para rediscutir isso". O recuo foi anunciado horas depois, durante a viagem de FHC ao Nordeste.



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