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São Paulo, sábado, 12 de julho de 2003

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Lula propõe bloco da língua portuguesa

DO ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou ontem mais um bloco no jogo diplomático brasileiro, destinado a construir relações com outros países do Sul para poder, em tese, melhor negociar com as nações ricas do Norte.
O novo bloco tem a sigla CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), composto por oito países: Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.
O presidente Lula falou da CPLP a empresários portugueses, ao receber o título de membro honorário da AIP (Associação Industrial Portuguesa): "A CPLP, talvez mais que nenhuma outra instância, mostra o quanto Portugal e Brasil podem realizar juntos. Afinal, não nos faltam o que poderiam chamar de vantagens comparativas -a língua, a cultura, a afinidade natural".
O presidente sonhou alto com um entrelaçamento entre Mercosul, União Européia e CPLP, citando números que, à primeira vista, impressionam: o Mercosul, lembrou Lula, tem um PIB (Produto Interno Bruto, medida da renda de um país ou bloco) de US$ 1 trilhão e representa "a quarta maior economia do mundo".
Mais tarde, na sede da CPLP, outros números: o conglomerado de língua portuguesa envolve 220 milhões de pessoas, distribuídas por oito países de quatro continentes (América, África, Europa e Ásia-Pacífico).
O problema do sonho é que os números precisam ser postos em perspectiva. O Mercosul é, de fato, a quarta maior economia do mundo, mas apenas porque a União Européia é contada como um só país, em vez dos 15 que a compõem, alguns com economia maior que os quatro do bloco do Sul juntos (como a Alemanha).
Os países da CPLP têm, de fato, 220 milhões de habitantes, mas dois terços estão concentrados em um só deles -o Brasil.
Sonhos à parte, a visita de Lula a Portugal serviu, segundo ele próprio, para consolidar um relacionamento que o primeiro-ministro anfitrião, José Manuel Durão Barroso, definiu como de "cumplicidade estratégica".
Feliz com os resultados, Lula não deu importância à cobrança feita anteontem pelo presidente da Assembléia da República (Parlamento português), João Bosco Mota Amaral, que dissera estar chegando a "hora da verdade" para o governante brasileiro.
"Continuo na fase Lulinha paz e amor. Estava mais preocupado com o que tinha a dizer para os deputados e o povo português do que com o que ele tinha a falar", desdenhou. (CLÓVIS ROSSI)


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