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Lula propõe bloco da língua portuguesa
DO ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva colocou ontem mais um
bloco no jogo diplomático brasileiro, destinado a construir relações com outros países do Sul para poder, em tese, melhor negociar com as nações ricas do Norte.
O novo bloco tem a sigla CPLP
(Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), composto por
oito países: Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau,
Cabo Verde, São Tomé e Príncipe
e Timor Leste.
O presidente Lula falou da
CPLP a empresários portugueses,
ao receber o título de membro honorário da AIP (Associação Industrial Portuguesa): "A CPLP,
talvez mais que nenhuma outra
instância, mostra o quanto Portugal e Brasil podem realizar juntos.
Afinal, não nos faltam o que poderiam chamar de vantagens
comparativas -a língua, a cultura, a afinidade natural".
O presidente sonhou alto com
um entrelaçamento entre Mercosul, União Européia e CPLP, citando números que, à primeira
vista, impressionam: o Mercosul,
lembrou Lula, tem um PIB (Produto Interno Bruto, medida da
renda de um país ou bloco) de
US$ 1 trilhão e representa "a quarta maior economia do mundo".
Mais tarde, na sede da CPLP,
outros números: o conglomerado
de língua portuguesa envolve 220
milhões de pessoas, distribuídas
por oito países de quatro continentes (América, África, Europa e
Ásia-Pacífico).
O problema do sonho é que os
números precisam ser postos em
perspectiva. O Mercosul é, de fato,
a quarta maior economia do
mundo, mas apenas porque a
União Européia é contada como
um só país, em vez dos 15 que a
compõem, alguns com economia
maior que os quatro do bloco do
Sul juntos (como a Alemanha).
Os países da CPLP têm, de fato,
220 milhões de habitantes, mas
dois terços estão concentrados
em um só deles -o Brasil.
Sonhos à parte, a visita de Lula a
Portugal serviu, segundo ele próprio, para consolidar um relacionamento que o primeiro-ministro anfitrião, José Manuel Durão
Barroso, definiu como de "cumplicidade estratégica".
Feliz com os resultados, Lula
não deu importância à cobrança
feita anteontem pelo presidente
da Assembléia da República (Parlamento português), João Bosco
Mota Amaral, que dissera estar
chegando a "hora da verdade" para o governante brasileiro.
"Continuo na fase Lulinha paz e
amor. Estava mais preocupado
com o que tinha a dizer para os
deputados e o povo português do
que com o que ele tinha a falar",
desdenhou.
(CLÓVIS ROSSI)
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