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ELEIÇÕES 2004/RECURSOS PÚBLICOS
Dez anos depois, organização do Ceará citada em escândalo dos "anões" do Orçamento volta a receber recursos do governo federal
Emenda beneficia ONG ligada a deputado
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITAPIPOCA (CE)
Uma ONG do interior do Ceará,
a Fundação Amadeu Filomeno,
citada no escândalo dos "anões"
do Orçamento no início dos anos
90, voltou a receber, neste ano, recursos do governo federal.
A verba é para a entidade realizar a mesma obra pela qual foi alvo de denúncias há dez anos, a
construção do Hospital Regional
de Itapipoca, um esqueleto depredado que só tem as paredes, no
município de Itapipoca, distante
130 km de Fortaleza.
Seis deputados federais destinaram R$ 2,5 milhões para a ONG
em emendas ao Orçamento, dos
quais R$ 1,9 milhão já foi empenhado (isto é, houve comprometimento de gasto) pelo Fundo Nacional de Saúde.
A maior emenda, no valor de R$
1,5 milhão, é assinada pelo deputado Aníbal Ferreira Gomes
(PMDB), segundo dados da execução orçamentária de 2004 disponibilizados no site da Câmara.
Um irmão de Aníbal, Manoel
Duca da Silveira (PMDB), disputará a prefeitura em outubro. A
candidata a vice da chapa é a mulher de Aníbal, Rossana Gomes.
Aníbal presidiu a ONG na época
das acusações e recebeu uma condenação no caso. Ele e outro ex-presidente da fundação, Francisco Flávio Silveira Gomes, seu irmão, foram condenados pelo
TCU, em outubro de 2002, a pagar multas que somavam R$ 30
mil e a devolver R$ 426 mil (parte
do dinheiro federal liberado), pelas irregularidades.
No rol de irregularidades enumeradas pelo tribunal estão:
emissão de notas fiscais frias, gastos sem prestação de contas, fraude no processo licitatório, falsificação de documentos e pagamentos antecipados.
O deputado nega que mantenha, hoje, envolvimento com a
fundação e diz que só a está ajudando por causa da carência da
região. Apesar de não integrar
mais o conselho da entidade, um
de seus irmãos é o atual vice-presidente, sua mulher, Rossana Gomes, é conselheira suplente, e um
primo é o tesoureiro, como consta no estatuto da entidade.
O Ministério da Saúde informou que qualquer gestor que tenha acertado suas contas com a
União após condenação do TCU
volta a ser considerado apto a receber recursos federais em convênios que sejam aprovados pela
Comissão Mista de Orçamento.
No caso da fundação, em 31 de
dezembro de 2003, já foi firmado
um convênio de R$ 2,5 milhões
com o Fundo Nacional de Saúde.
Já foram liberados R$ 500 mil.
Para o novo convênio, com o R$
1,9 milhão de emendas orçamentárias já empenhadas, falta apenas
a assinatura do ministro da Saúde, Humberto Costa, que tem até
31 de outubro para formalizar o
repasse de recursos.
"Anões" do Orçamento
Em 1992, a Fundação Amadeu
Filomeno assinou dois convênios
com o Fundo Nacional de Saúde
no valor total equivalente a US$
850 mil (hoje, cerca de R$ 2,6 milhões). A obra era estimada em
cerca de R$ 4 milhões (hoje, já
passa dos R$ 5 milhões).
Na época, a verba também foi
conseguida por emendas orçamentárias, liberadas a partir da
iniciativa do então deputado federal Carlos Benevides, do PMDB,
cassado como um dos "anões" do
Orçamento. As acusações foram
apuradas pela Comissão Mista
Parlamentar de Inquérito do Orçamento, a CPI do Orçamento,
em 1993 (leia texto nesta página).
Aníbal ainda não era deputado,
mas, até o final de 1992, exerceu o
mandato de prefeito de Acaraú,
cidade próxima a Itapipoca. Ele se
elegeu deputado federal pela primeira vez em 1994 e está no terceiro mandato. Hoje, o deputado integra a base governista.
Segundo a acusação, na época,
um cheque nominal à fundação,
emitido pelo Fundo Nacional de
Saúde, foi endossado para o então
candidato a prefeito de Acaraú,
Francisco José Magalhães Silveira,
primo do hoje deputado e presidente da comissão de licitação da
fundação. O dinheiro, segundo o
inquérito policial e o relatório do
TCU, foi usado para a compra de
materiais para a campanha eleitoral. Francisco José se elegeu prefeito em 1992 e hoje é o tesoureiro
da Fundação Amadeu Filomeno.
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