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ELIO GASPARI
Geraldo Alckmin precisa ouvir o Bussunda
Você sabia que o Pão de Açúcar tem 396 metros de altura e o índice de fuga de presos em São Paulo é 0,13?
GERALDO Alckmin dá a impressão de reencarnar do sujeito que decorou a letra R da
enciclopédia. Com uma diferença:
memoriza números. O Estado que
governou por cinco anos teve cerca
de 50 agentes da ordem assassinados em menos de 90 dias, 1.500 presos foram confinados como bichos
num espaço onde caberiam 150 e ele
tem o seguinte a dizer:
"A fuga no Estado de São Paulo no
ano passado foi 0,13. Isso é número
europeu".
Se o doutor estivesse no mundo do
futebol, poderia anunciar que formará um time que faça muitas faltas, dê poucos passes e recue a bola
sempre que possível. Um levantamento de 1.500 partidas feitos pelo
Datafolha, mostra que essas são as
características de 53% a 67% dos
vencedores. E daí?
Quando os bandidos soltos matam policiais e agentes penitenciários na porta de suas casas, o índice
de fugas é uma irrelevância. Quando
os presos são tratados como bichos,
transformando o poder coercitivo
do Estado em selvageria, degrada-se
o governo. Um cidadão disposto a
apoiar medidas repressivas contra o
crime organizado pode defender a
pena de morte, a prisão perpétua ou
os cárceres de segurança máxima.
São pontos de vista legítimos. Esse
mesmo cidadão nada tem a ver com
as práticas do presídio de Araraquara. Um homem de bem não se associa ao que se fez lá. Pena que o advogado Cláudio Lembo tenha deixado
sua biografia escorregar numa administração na qual bandidos exterminam policiais e presos são vilipendiados.
As platitudes do candidato Alckmin fazem do conselheiro Acácio
um James Joyce. Coisa assim, dita
na convenção de Belo Horizonte:
"Tenho uma visão de Estado que
não comporta amadorismos". Ou
assim, dita em Lisboa: "Nós estamos
dando grande destaque à maior inserção internacional do Brasil. Queremos a busca de mercado internacional, acordos comerciais importantes". Fora disso, recita meia dúzia de números e supõe ter mostrado preparo para discutir a questão.
O índice europeu de fugas dos presídios paulistas tem pouco a ver com
o que acontece no Brasil. Muito
mais relevante é a indicação de que
aqui morrem mais policiais do que
em qualquer outro país. Isso numa
cultura de segurança que mata mais
cidadãos que todas as polícias da Europa somadas. Alckmin sabe que o
eixo da discussão é esse. Seu secretário de Segurança, Saulo de Castro
Abreu, a quem chamou de "servidor
público número um", também sabe.
A patuléia não está aí para ser ludibriada com números europeus em
conserva.
O candidato do PSDB recitou o
"0,13" antes de embarcar para Bruxelas e Lisboa. Na volta, poderá dizer
se notou outra semelhança entre a
segurança européia e a de São Paulo.
Alckmin cultiva um mantra de
campanha. Seja qual for o tema, diz
que Lula é omisso e que no seu governo haverá estudo, firmeza e determinação. No caso da segurança,
por mais omisso que seja o Nosso
Guia, o pudim paulista é de Geraldo
Alckmin. A ruína não começou com
ele, mas foi com ele quem cevou um
modelo truculento e espalhafatoso
que acabou em fracasso. Conseguiu
o impossível: tornou-se páreo para
Anthony Garotinho.
Alckmin deve uma caridade às
platéias. Enquanto houver policiais
espingardeados nas ruas de São
Paulo, ao tratar de segurança, poderia atender ao pedido do Bussunda:
"Fala sério".
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