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Grampo indica que Nahas sabia de novo campo da Petrobras
Gravações da PF mostram investidor orientando operador de Bolsa a comprar ações da estatal apesar de estarem em queda
Sérgio Rosenthal, que defende Nahas, disse que começará a analisar CDs com informações sobre seu cliente na segunda-feira
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Naji Nahas lucrou ao menos
8,2% com as ações da Petrobras
em uma semana com o suposto
uso de informações privilegiadas de que seria anunciada a
descoberta de que as reservas
do megacampo de petróleo na
bacia de Santos chegariam a 33
bilhões de barris, em abril, caso
seu corretor na Bovespa tenha
seguido a orientação de comprar papéis da empresa.
Gravações telefônicas realizadas pela Polícia Federal flagraram Nahas orientando o
operador de Bolsa Miguel Jurno Neto a comprar ações da Petrobras entre os dias 7 e 8 de
abril deste ano, apesar de os papéis estarem em queda, como
alertava seu interlocutor.
Na semana seguinte, dia 14
de abril, o diretor-geral da ANP
(Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima, confirma a
informação após um evento.
Com a alta das ações, Lima disse que a notícia era antiga e conhecida desde dezembro do
ano passado, tendo sido até
mesmo divulgada por uma publicação especializada.
A hipótese da Polícia Federal
de que Nahas obteve acesso antecipado a descobertas de petróleo é reforçada em outra
gravação, feita entre os dias 19
de março e 2 de abril deste ano.
Nahas diz ao doleiro Lúcio
Bolonha Funaro, o "maluquinho", como era tratado pelo
grupo, que tinha uma "chamada gigantesca na Petrobras".
Para a polícia, esta seria a senha de que o especulador já sabia, de antemão, que os papéis
da Petrobras se valorizariam,
graças às novas descobertas.
Em 7 de abril, as ações ordinárias (com direito a voto) da
Petrobras eram negociadas na
Bovespa a R$ 94,55.
Após as declarações do diretor-geral da ANP, uma semana
depois, os papéis da Petrobras
dispararam na Bolsa e passaram a valer R$ 102,41. As ações
ordinárias fecharam em alta de
7,67% -mesmo com a queda de
0,69% do Ibovespa no dia.
Em razão do sigilo de dados,
não é possível saber qual o volume de ações negociadas por
corretoras ligadas a Nahas. Segundo um operador do mercado, ele é ligado a cerca de duas
dezenas de corretoras.
Jurno Neto, apontado como
misto de operador de Bolsa e
doleiro, seria contumaz interlocutor de Nahas nas transações no mercado mobiliário.
Cesp
Em novembro do ano passado, quando o governo de São
Paulo avaliava vender toda a
participação na Cesp (Companhia Energética de São Paulo),
Nahas e Jurno Neto discutem
fazer "negócios" em que citam
a estatal paulista.
Outro trecho de grampos telefônicos revelariam interesses
cruzados entre o banqueiro Daniel Dantas e Nahas. Em fevereiro, Roberto Sande Caldeira
Bastos, em conversa com Nahas, fala em ações do "porto",
dizendo que 50% são de Dantas. As ações estariam no mercado. "Nahas fica bravo e pede
que Roberto não fale nada por
telefone", segundo a PF.
O uso de informações privilegiadas configura crime, previsto no artigo 27-D da lei 6.385/
1976, que prevê pena de 1 a 5
anos de prisão e multa de até
três vezes a vantagem (lucro)
obtida com o dado.
Além desse crime, o investidor é acusado de operar instituição financeira sem autorização, evasão de divisas, formação de quadrilha e lavagem de
dinheiro.
O crime de lavagem de dinheiro, pelo qual também é
suspeito o ex-prefeito de São
Paulo Celso Pitta, tem pena de
3 a 10 anos de reclusão.
Defesa
O advogado Sérgio Rosenthal, que defende Nahas, disse
que recebeu dois CDs da 6ª Vara Criminal com os dados sobre
seu cliente. Rosenthal disse que
começará a analisar os papéis
na segunda-feira, quando começa a elaborar a defesa.
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