São Paulo, sábado, 12 de julho de 2008

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Grampo indica que Nahas sabia de novo campo da Petrobras

Gravações da PF mostram investidor orientando operador de Bolsa a comprar ações da estatal apesar de estarem em queda

Sérgio Rosenthal, que defende Nahas, disse que começará a analisar CDs com informações sobre seu cliente na segunda-feira


JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Naji Nahas lucrou ao menos 8,2% com as ações da Petrobras em uma semana com o suposto uso de informações privilegiadas de que seria anunciada a descoberta de que as reservas do megacampo de petróleo na bacia de Santos chegariam a 33 bilhões de barris, em abril, caso seu corretor na Bovespa tenha seguido a orientação de comprar papéis da empresa.
Gravações telefônicas realizadas pela Polícia Federal flagraram Nahas orientando o operador de Bolsa Miguel Jurno Neto a comprar ações da Petrobras entre os dias 7 e 8 de abril deste ano, apesar de os papéis estarem em queda, como alertava seu interlocutor.
Na semana seguinte, dia 14 de abril, o diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima, confirma a informação após um evento. Com a alta das ações, Lima disse que a notícia era antiga e conhecida desde dezembro do ano passado, tendo sido até mesmo divulgada por uma publicação especializada.
A hipótese da Polícia Federal de que Nahas obteve acesso antecipado a descobertas de petróleo é reforçada em outra gravação, feita entre os dias 19 de março e 2 de abril deste ano.
Nahas diz ao doleiro Lúcio Bolonha Funaro, o "maluquinho", como era tratado pelo grupo, que tinha uma "chamada gigantesca na Petrobras".
Para a polícia, esta seria a senha de que o especulador já sabia, de antemão, que os papéis da Petrobras se valorizariam, graças às novas descobertas.
Em 7 de abril, as ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobras eram negociadas na Bovespa a R$ 94,55.
Após as declarações do diretor-geral da ANP, uma semana depois, os papéis da Petrobras dispararam na Bolsa e passaram a valer R$ 102,41. As ações ordinárias fecharam em alta de 7,67% -mesmo com a queda de 0,69% do Ibovespa no dia.
Em razão do sigilo de dados, não é possível saber qual o volume de ações negociadas por corretoras ligadas a Nahas. Segundo um operador do mercado, ele é ligado a cerca de duas dezenas de corretoras.
Jurno Neto, apontado como misto de operador de Bolsa e doleiro, seria contumaz interlocutor de Nahas nas transações no mercado mobiliário.

Cesp
Em novembro do ano passado, quando o governo de São Paulo avaliava vender toda a participação na Cesp (Companhia Energética de São Paulo), Nahas e Jurno Neto discutem fazer "negócios" em que citam a estatal paulista.
Outro trecho de grampos telefônicos revelariam interesses cruzados entre o banqueiro Daniel Dantas e Nahas. Em fevereiro, Roberto Sande Caldeira Bastos, em conversa com Nahas, fala em ações do "porto", dizendo que 50% são de Dantas. As ações estariam no mercado. "Nahas fica bravo e pede que Roberto não fale nada por telefone", segundo a PF.
O uso de informações privilegiadas configura crime, previsto no artigo 27-D da lei 6.385/ 1976, que prevê pena de 1 a 5 anos de prisão e multa de até três vezes a vantagem (lucro) obtida com o dado.
Além desse crime, o investidor é acusado de operar instituição financeira sem autorização, evasão de divisas, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
O crime de lavagem de dinheiro, pelo qual também é suspeito o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, tem pena de 3 a 10 anos de reclusão.

Defesa
O advogado Sérgio Rosenthal, que defende Nahas, disse que recebeu dois CDs da 6ª Vara Criminal com os dados sobre seu cliente. Rosenthal disse que começará a analisar os papéis na segunda-feira, quando começa a elaborar a defesa.


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