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Senadores inflam gabinetes com seus afilhados políticos
De cada 10 funcionários dos gabinetes, 8 são servidores comissionados -sem concurso
Ao menos dois integrantes da Mesa, Marconi Perillo (PSDB-GO) e Mão Santa (PMDB-PI), acomodaram aliados nos seus Estados
ALAN GRIPP
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
De cada 10 funcionários dos
gabinetes do Senado, 8 são indicações políticas sem concurso público. Fazem parte desta
legião ex-prefeitos, deputados
e vereadores que não se reelegeram, candidatos derrotados e
integrantes das máquinas partidárias. Rejeitados nas urnas,
são transformados em assessores parlamentares.
Os servidores comissionados
(sem concurso público), muitos com perfil político, representam 83% dos funcionários
lotados em gabinetes, aponta
levantamento feito pela Folha
com base em dados do Senado
na internet. Eles são hoje a
principal explicação para o inchaço na folha de pagamento.
O aparelhamento inclui a
Mesa Diretora, órgão que dirige a Casa. E inclui funcionários
que dão expediente fora de
Brasília, embora não haja qualquer atividade da Mesa que não
seja na capital, e isso vá contra
a orientação da área jurídica do
próprio Senado Federal.
Pelo menos dois integrantes
da Mesa acomodaram aliados
nos Estados: o primeiro-vice-presidente, Marconi Perillo
(PSDB-GO), e o terceiro-secretário, Mão Santa (PMDB-PI).
O Senado tem hoje 6.272 servidores, além de 3.512 funcionários terceirizados. Pouco
mais da metade (54,23%) ingressou por meio de concurso
público. O restante tem cargo
comissionado. Isso inclui toda
a Casa: gabinetes de senadores,
áreas técnicas, órgãos de assessoria, gráfica e o Instituto Legislativo Brasileiro, espécie de
"universidade" do Senado.
Fazendo o recorte só dos órgãos diretamente ligados a senadores, ocorre o oposto. São
2.673 assessores comissionados em gabinetes, lideranças,
comissões e na Mesa Diretora,
ou 83,11% do total. Apenas 543
concursados trabalham subordinados a senadores.
Nas comissões permanentes,
responsáveis por discutir e votar projetos antes que eles cheguem ao plenário, todos os 61
assessores são comissionados.
Não há nenhum concursado.
Senadores de praticamente
todos os partidos aproveitam
para preencher seus gabinetes
com aliados políticos. Perillo
colocou ao menos cinco ex-secretários de seu período como
governador de Goiás (1999-2006) na estrutura da Primeira
Vice- Presidência. Todos batem ponto em Goiânia, no escritório político do tucano.
Ele afirma que nunca houve
impedimento para a nomeação
de assessores nos Estados em
cargos na Mesa Diretora. Diz
que pediu a alteração dos ex-secretários para o seu gabinete
parlamentar na última quinta,
após reunião do órgão que dirige a Casa. Até o final da semana
passada, no entanto, as alterações não haviam ocorrido.
A área jurídica do Senado
afirma que já existe a minuta
de um ato que proíbe expressamente que funcionários da Mesa Diretora trabalhem fora de
Brasília. Deve ser votada na
próxima reunião do órgão.
"Não há norma que vede [a
contratação de funcionários
nos Estados], mas, nas poucas
vezes em que a advocacia do
Senado foi consultada, sugeriu
pela não contratação. Os servidores têm que trabalhar para a
Mesa, que fica em Brasília",
disse o advogado-geral do Senado, Luiz Bandeira de Mello.
Mão Santa emprega entre os
assessores da Terceira Secretaria três ex-prefeitos aliados no
Piauí. O senador admite que os
aliados têm funções políticas
-atuam com prefeitos e vereadores no Estado-, mas afirma
que eles também vão a Brasília
ocasionalmente.
A Folha identificou casos de
aparelhamento político em gabinetes de senadores de seis
partidos: PT, PSDB, PMDB,
DEM, PTB e PDT.
Reforma
A nomeação de assessores
políticos para gabinetes é estimulada pelas próprias regras
do Senado. Um gabinete pode
ter até 79 assessores comissionados, dependendo da subdivisão que o senador adotar para
as vagas disponíveis.
Já as vagas para os efetivos
são apenas nove por gabinete.
Mas alguns senadores nem as
preenchem. Gilvam Borges
(PMDB-AP), por exemplo, emprega apenas quatro concursados, mas 34 comissionados.
Na semana passada, a Fundação Getulio Vargas divulgou estudo contratado pelo Senado
propondo uma redução no número de cargos comissionados
nos gabinetes de 40%.
Se isso ocorrer, serão cerca
de mil assessores demitidos.
Ainda assim, os senadores terão algo como 1.600 cargos de
confiança à disposição, três vezes o total de concursados.
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