São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004

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ELEIÇÕES 2004/CAMPANHA

Sob ameaça de retaliação, postulantes à vaga na Câmara são obrigados a identificar em suas propagandas o candidato a prefeito que apóiam

Partidos enquadram vereadores em SP

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em tempos de flagrantes de infidelidade nas ruas de São Paulo, os partidos políticos agem com mão-de-ferro para impedir a debandada de seus candidatos a vereador para o time adversário. Atribuindo a exigência à decisão do diretório, líderes partidários ameaçam tirar do programa eleitoral, ou mesmo cassar o registro de candidatura, todos que não exibirem o nome do candidato oficial a prefeito em seu material de campanha.
No PTB - palco de uma rebelião liderada pelo deputado estadual Campos Machado - não só os candidatos a vereador foram alertados, mas uma equipe do partido tem percorrido a cidade para descobrir quem está excluindo o nome da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), em seu material de campanha.
"Só os que declararam apoio a Marta vão participar do programa de TV", avisou o deputado federal Luiz Antônio Fleury, um dos coordenadores da campanha da prefeita.
Até agora, dois petebistas já foram advertidos pelo partido: o vereador Dr. Farhat e o candidato Adilson Amadeo. Além do risco de ficarem fora da TV, os dissidentes também não receberão material produzido pelo comando da campanha petista. "Está certo. Temos de ter um lado", endossou o deputado Paulo Frange.
No PL, a ordem é a mesma. "Todo mundo precisa pôr o nome da Marta. Quem não fizer será advertido. O reincidente terá a candidatura cassada", disse o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto.
Líder do partido na Câmara, Antônio Carlos Rodrigues diz que essa foi "uma exigência dos diretórios nacional e municipal do PL"."Ou aceita ou vai embora", disse.
Para os fiéis, o comando da campanha de Marta oferece a compensação: 100 mil panfletos. Existe ainda outro recurso para selar o apoio dos candidatos.
No programa de TV, haverá uma espécie de carimbo, com a inscrição "Com Marta 13", a cada vez que um candidato aliado aparecer.
No PPS, aliado oficial do tucano José Serra, os dissidentes estão sendo enquadrados. O presidente municipal do partido, Carlos Eduardo Fernandes, pediu, ao comando nacional do partido, a expulsão do deputado João Hermann (SP) e da senadora Patrícia Gomes (CE) por sua manifestação de apoio à candidatura de Marta. Seis candidatos a vereador que participaram do ato, no sábado, foram notificados a justificar sua presença. "Ou terão o registro de candidatura cassado", avisou Fernandes.
A pressão é tanta que ontem mesmo o candidato Wagner Denys assinou uma carta em que reafirma o apoio a Serra e alega ter participado do ato por ter sido "contratado para confeccionar os banners e faixas para o evento".
Também ontem, o vereador Edivaldo Estima (PPS) foi chamado ao partido para explicar por que não usa o nome de Serra na campanha. "Prefiro fazer campanha para mim e para meu filho. Na Câmara, apóio o governo do PT. Continuo na mesma situação", disse.
Se mantiver essa política, Estima ficará fora do programa de TV, porque essa é ordem no próprio tucanato: "Desleal, infiel, sai da televisão e do rádio, que é o momento mais nobre da campanha", alertou Walter Feldman, coordenador da campanha, prometendo aos fiéis a recompensa: 300 mil panfletos.
No PMDB, o presidente nacional do partido e vice na chapa de Luiza Erundina (PSB), Michel Temer reconhece como é difícil conter dissidência. Mas promete conversar com os candidatos antes de medidas mais drásticas: "Se houver infidelidade, tomaremos as providências. Não podemos admitir infidelidade".
Nas ruas de São Paulo, material de candidato a vereador com o nome do cabeça de chapa é exceção. E a campanha solteira é suprapartidária. Só numa breve passagem é possível constatar esse toque de infidelidade no material afixado pelos candidatos Celso Jatene, Dr. Farhat e Adilson Amadeo (PTB), Dra. Vitória (PFL), Edivaldo Estima (PPS), Aurélio Miguel (PL), e Joarez Távora (Prona). Em geral, eles alegam que o material foi confeccionado antes da costura de alianças com os candidatos à prefeitura.


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