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ELEIÇÕES 2004/CAMPANHA
Sob ameaça de retaliação, postulantes à vaga na Câmara são obrigados a identificar em suas propagandas o candidato a prefeito que apóiam
Partidos enquadram vereadores em SP
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em tempos de flagrantes de infidelidade nas ruas de São Paulo, os
partidos políticos agem com
mão-de-ferro para impedir a debandada de seus candidatos a vereador para o time adversário.
Atribuindo a exigência à decisão
do diretório, líderes partidários
ameaçam tirar do programa eleitoral, ou mesmo cassar o registro
de candidatura, todos que não
exibirem o nome do candidato
oficial a prefeito em seu material
de campanha.
No PTB - palco de uma rebelião liderada pelo deputado estadual Campos Machado - não só
os candidatos a vereador foram
alertados, mas uma equipe do
partido tem percorrido a cidade
para descobrir quem está excluindo o nome da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), em seu
material de campanha.
"Só os que declararam apoio a
Marta vão participar do programa de TV", avisou o deputado federal Luiz Antônio Fleury, um
dos coordenadores da campanha
da prefeita.
Até agora, dois petebistas já foram advertidos pelo partido: o vereador Dr. Farhat e o candidato
Adilson Amadeo. Além do risco
de ficarem fora da TV, os dissidentes também não receberão
material produzido pelo comando da campanha petista. "Está
certo. Temos de ter um lado", endossou o deputado Paulo Frange.
No PL, a ordem é a mesma. "Todo mundo precisa pôr o nome da
Marta. Quem não fizer será advertido. O reincidente terá a candidatura cassada", disse o presidente
nacional do PL, Valdemar da Costa Neto.
Líder do partido na Câmara,
Antônio Carlos Rodrigues diz que
essa foi "uma exigência dos diretórios nacional e municipal do
PL"."Ou aceita ou vai embora",
disse.
Para os fiéis, o comando da
campanha de Marta oferece a
compensação: 100 mil panfletos.
Existe ainda outro recurso para
selar o apoio dos candidatos.
No programa de TV, haverá
uma espécie de carimbo, com a
inscrição "Com Marta 13", a cada
vez que um candidato aliado aparecer.
No PPS, aliado oficial do tucano
José Serra, os dissidentes estão
sendo enquadrados. O presidente
municipal do partido, Carlos
Eduardo Fernandes, pediu, ao comando nacional do partido, a expulsão do deputado João Hermann (SP) e da senadora Patrícia
Gomes (CE) por sua manifestação de apoio à candidatura de
Marta. Seis candidatos a vereador
que participaram do ato, no sábado, foram notificados a justificar
sua presença. "Ou terão o registro
de candidatura cassado", avisou
Fernandes.
A pressão é tanta que ontem
mesmo o candidato Wagner
Denys assinou uma carta em que
reafirma o apoio a Serra e alega ter
participado do ato por ter sido
"contratado para confeccionar os
banners e faixas para o evento".
Também ontem, o vereador
Edivaldo Estima (PPS) foi chamado ao partido para explicar por
que não usa o nome de Serra na
campanha. "Prefiro fazer campanha para mim e para meu filho.
Na Câmara, apóio o governo do
PT. Continuo na mesma situação", disse.
Se mantiver essa política, Estima ficará fora do programa de
TV, porque essa é ordem no próprio tucanato: "Desleal, infiel, sai
da televisão e do rádio, que é o
momento mais nobre da campanha", alertou Walter Feldman,
coordenador da campanha, prometendo aos fiéis a recompensa:
300 mil panfletos.
No PMDB, o presidente nacional do partido e vice na chapa de
Luiza Erundina (PSB), Michel Temer reconhece como é difícil conter dissidência. Mas promete conversar com os candidatos antes de
medidas mais drásticas: "Se houver infidelidade, tomaremos as
providências. Não podemos admitir infidelidade".
Nas ruas de São Paulo, material
de candidato a vereador com o
nome do cabeça de chapa é exceção. E a campanha solteira é suprapartidária. Só numa breve
passagem é possível constatar esse toque de infidelidade no material afixado pelos candidatos Celso Jatene, Dr. Farhat e Adilson
Amadeo (PTB), Dra. Vitória
(PFL), Edivaldo Estima (PPS),
Aurélio Miguel (PL), e Joarez Távora (Prona). Em geral, eles alegam que o material foi confeccionado antes da costura de alianças
com os candidatos à prefeitura.
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