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ARTIGO
Vitória política, só a do "JN'
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
SE ALGUÉM saiu politicamente vitorioso nesta
semana de campanha
eleitoral, não foi Lula, nem Heloísa Helena, muito menos Geraldo Alckmin; foi a Rede Globo. Para quem ainda associava
a imagem da emissora ao escândalo do Proconsult em
1982, ao abafamento da campanha pelas Diretas-Já em 1984 e
à manipulação do debate entre
Collor e Lula em 1989, a mudança deste ano não poderia
ser maior, no sentido da seriedade e da isenção jornalística.
Não foi uma conversão instantânea. Há um bom tempo o
"Jornal Nacional" abandonava
não apenas o oficialismo dos
anos de Cid Moreira mas também a irritante política, em vigor durante certo período, de
privilegiar amenidades, histórias humanas e partos de animais no zôo em seu noticiário.
Seja como for, poder-se-ia dizer em tom de blague que, nesta semana, caiu mais um mito
da esquerda: o do papel alienante do jornalismo global.
As entrevistas de William
Bonner e Fátima Bernardes
com os candidatos à Presidência foram ganhando, a cada dia,
um ritmo e uma agressividade
jornalística poucas vezes visto
pelo telespectador brasileiro.
Se a primeira entrevista, com
Geraldo Alckmin, teve ainda
um tom cinza e enfadonho, isso
se deveu ao próprio candidato,
inabalável monstro de tranqüilidade em pleno incêndio do
PCC. As perguntas dos entrevistadores não lhe deram trégua: política de segurança, escândalo da Nossa Caixa, comprometimento de Eduardo
Azeredo com o valerioduto,
maus índices do Estado de São
Paulo na educação, tudo recebia de Alckmin respostas convencionais, típicas do horário
gratuito. Não foi um desempenho desastroso, mas o candidato do PSDB não conseguiu projetar-se nem um ponto sequer
além da mediania tecnocrática
que o mantém confinado nos
índices eleitorais de sempre.
Nos dias seguintes, é como se
Bonner e Bernardes se entusiasmassem mais e mais com a
função pública de que estavam
revestidos. Partiram como tigres em cima de Heloísa Helena, que se encarregou de tentar
domá-los alternando, metaforicamente, berros e torrões de
açúcar. Com Cristovam, deu-se
a oportunidade de uma discussão sobre política educacional
mais detalhada do que é comum na imprensa se o espetáculo foi menor, a seriedade saiu
ganhando.
O casal chegou cheio de si à
biblioteca do Planalto, onde o
aspecto de Lula parecia o de um
derrotado por antecipação.
Nunca um presidente brasileiro foi submetido a perguntas
tão certeiras e a tal nível de descontentamento com as respostas recebidas. Os tempos em
que presidentes da República
iam ao "Roda Viva" como a um
baile de gala, ou se refestelavam
em longas coletivas sem réplica, começam a fazer parte do
passado. Em meio a uma campanha singularmente insossa e
a um clima de desmoralização
generalizada na política brasileira, as entrevistas do "Jornal
Nacional" tiveram o paradoxal
efeito de fazer surgir, diante
das câmeras, um país mais sério, e mais adulto, do que o telespectador podia imaginar.
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