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Assembléia de RO pagou dívidas privadas
Legislativo gastou mais de R$ 3,5 mi no pagamento de parcelas de empréstimos tomados por 19 empresas no Banco Rural
Esquema envolvia emissão
de notas frias e a tomada
de empréstimos no mesmo
valor para justificar desvios;
banco nega irregularidades
FRANCISCO FIGUEIREDO
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA
A Assembléia Legislativa de
Rondônia pagou parcelas de
empréstimos tomados no Banco Rural por 19 empresas privadas que somam mais de R$ 3,5
milhões, segundo documento
obtido pela Folha que integra
as investigações da Polícia Federal na Operação Dominó.
Segundo a apuração, o grupo
criminoso que atuava na Assembléia quitava as dívidas tomadas em nome de particulares para desviar recursos públicos. A assessoria do Banco Rural negou que, em relação ao
banco, tenha havido irregularidade nos empréstimos. O Rural
esteve envolvido no escândalo
do mensalão, por conta de saques feitos por deputados e
empréstimos concedidos a
Marcos Valério.
Ao menos um dos empresários relacionados ao esquema
investigado pela Operação Dominó sugere, segundo o documento, que os empréstimos faziam parte de operação triangular. A empresa cedia nota fiscal fria por serviço não prestado. A mando de deputados, um
intermediário utilizava a nota
para desviar recursos, e orientava a empresa a tomar empréstimo no banco com o mesmo valor da nota emitida. Ao final, o empréstimo era pago
com dinheiro da própria Casa.
Especialistas ouvidos pela
Folha afirmam que é possível
que a situação descrita pelo documento da PF indique uma irregularidade. "Se for uma dívida contraída em um banco e paga diretamente pela Assembléia, me parece que a transição
nunca será legal", diz Ricardo
Penteado, advogado especializado em direito administrativo.
"O Estado deve pagar a quem
ele deve, e não a terceiros. Trata-se de dinheiro público", afirma Odete Medauar, professora
titular de direito administrativo da USP. O constitucionalista
Dalmo Dallari disse que precisaria conhecer detalhes do caso
para avaliar sua legalidade. Ele
ressalvou que a ação pode ter
sido legal se a Assembléia tivesse dívida com a empresa endividada com o banco. A cobrança por meio de um terceiro é
conhecida como sub-rogação.
Por meio de sua assessoria, o
Banco Rural informou que a
operação está "devidamente
identificada e registrada na documentação mantida nos arquivos do Banco Rural e encaminhada às autoridades competentes". Segundo informou
um empresário à PF, o objetivo
original da operação era saldar
dívidas de campanha contraídas pelos deputados.
Desconto em folha
Servidores comissionados
(contratados sem concurso) da
Assembléia fizeram empréstimos com desconto em folha,
usando dados fraudulentos,
que somam R$ 4,7 milhões.
Os empréstimos são listados
pela PF como uma das formas
pelas quais o grupo acusado na
Operação Dominó desviava recursos públicos, junto com o
superfaturamento de contratos
e o pagamento de salários a
"fantasmas".
Segundo o documento, a
maioria dos empréstimos eram
obtidos em nome de servidores
da "lista oficial" da Assembléia
nos bancos HSBC, Panamericano, Schahin e Unibanco. Da
conta dos servidores, os valores
eram desviados para outros
participantes do esquema.
Os descontos em folha chegavam em alguns casos a 80%
do salário do servidor. O máximo permitido por lei é de 30%.
Para isso, os dados enviados a
cada um dos bancos omitiam
empréstimos já obtidos em outras instituições e "inflavam" a
remuneração do funcionário.
O documento da PF não acusa os bancos pela fraude, mas
levanta suspeita pela facilidade
com que as liberações eram obtidas sem a apresentação de garantias. Servidores comissionados podem ser demitidos a
qualquer momento. Segundo a
PF, a palavra dos deputados de
que não haveria demissões era
a garantia dos empréstimos.
O presidente da Assembléia,
Carlão de Oliveira (PSL), está
preso. Outros dez deputados
são suspeitos de participação
nesse esquema.
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