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Renan volta a distribuir ameaças veladas
Presidente do Congresso diz que Jefferson Péres foi acusado de gestão fraudulenta; pedetista quer processá-lo por calúnia
Renan detém as prestações
de contas das chamadas
verbas indenizatórias dos
parlamentares e autoriza
viagens em missões oficiais
FERNANDA KRAKOVICS
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mesmo com o tom mais conciliador assumido no plenário
no fim da semana passada, o
presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), continua fazendo ameaças veladas
aos colegas para intimidá-los e
tentar derrubar eventual pedido de cassação de seu mandato.
Em conversas reservadas,
Renan revela aos poucos supostos fatos depreciativos contra senadores que defendem as
investigações contra ele. Um
deles é o senador Jefferson Péres (PDT-AM), o primeiro a pedir seu afastamento do cargo.
Nos bastidores o presidente
do Senado se refere a Peres como "flor do lodo" e diz que ele
foi acusado de gestão fraudulenta de uma empresa na década de 50. A lógica de Renan seria mostrar que os senadores
que o atacam de forma mais
veemente têm telhado de vidro.
"Eu fui diretor de uma siderúrgica no Amazonas, e a empresa faliu. Como não pôde recolher o Imposto de Renda e os
encargos sociais dos empregados, toda a diretoria foi denunciada por apropriação indébita.
O juiz federal absolveu todos os
diretores porque a União devia
à siderúrgica mais do que o imposto que a empresa deixou de
recolher", afirmou Péres.
Ele reagiu aos ataques do
presidente do Senado. "Isso só
piora a situação do senador Renan Calheiros e mostra o lado
feio de seu caráter", afirmou
Péres. "Se o senador Renan Calheiros levantar isso, eu posso
processá-lo por calúnia", disse.
Em relação ao líder do DEM,
senador José Agripino (RN),
Renan passou da ameaça velada à tentativa pública de intimidação no plenário do Senado
na semana passada. Da tribuna,
fez referência a concessões de
rádio e TV de Agripino e a uma
dívida com o Banco do Nordeste. "Meu pai recebeu há 20 anos
a concessão da TV Tropical,
que é retransmissora da Record, e de cinco rádios. Ele
morreu e isso foi deixado para a
família. Não há nada de errado
nisso. Parlamentar não pode
ser dirigente de empresa de comunicação, mas pode ser sócio", declarou Agripino.
O presidente do Senado recuou apenas do tom explícito
de ameaça que adotou no início
da semana e afirmou na quinta
que não pretende ser "algoz" de
ninguém. Avaliou que criar um
clima aberto de terror na Casa
não vai ajudá-lo a se salvar.
Apesar disso, o recado dado a
Agripino na terça-feira surtiu
efeito e serviu de exemplo para
os demais. Senadores dizem
que Renan teria na cabeça um
dossiê contra vários deles.
Como presidente da Casa, ele
tem acesso à prestação de contas dos R$ 15 mil mensais da
verba indenizatória, que serve
para reembolsar despesas dos
senadores com gastos nos Estados, como combustível e divulgação do mandato, e autoriza
viagens em missões oficiais,
que são custeadas com dinheiro público. Essa seria outra forma de constranger os colegas.
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) já foi um dos alvos de Renan. Ele reconhece
que viajou no ano passado com
uma assessora para os EUA,
com passagens e diárias pagas
pelo Senado, para participar de
reunião da ONU, mas nega que
a funcionária seja sua namorada e disse que é praxe da Casa
levar assessores em viagens.
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