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Paraíba financiou doadores do governador
Assessor jurídico do tucano Cássio Cunha Lima recebeu R$ 71 mil para tratamento médico e doou R$ 500 a campanha
Pelo menos mais 4 pessoas que fizeram doações para campanha receberam no mínimo R$ 2.500 em auxílio financeiro do Executivo
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JOÃO PESSOA
Beneficiários de programa de
assistência social promovido
pelo governo da Paraíba estão
entre os doadores da campanha
que reelegeu o governador Cássio Cunha Lima (PSDB) no ano
passado. Rômulo Araújo de Lima, assessor jurídico do governador, recebeu R$ 71 mil -R$
53 mil em 2005 e outros R$ 18
mil em 2006- da Casa Civil para tratamento médico e doou
R$ 500 à campanha tucana.
Pelo menos mais quatro pessoas, entre elas o procurador-chefe da Assembléia Legislativa, receberam no mínimo R$
2.500 em auxílios financeiros
em 2005 e depois fizeram doações à campanha.
No último 30 de julho, Cunha
Lima teve seu mandato cassado
pelo TRE (Tribunal Regional
Eleitoral) da Paraíba pela acusação de distribuir, em ano eleitoral e sem respaldo legal, cerca
de 35 mil cheques por meio da
FAC (Fundação de Ação Comunitária), vinculada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Humano. A cassação foi
decidida por cinco votos contra
um. O único juiz do TRE da Paraíba que votou contra a cassação de Cunha Lima doou ele
próprio R$ 500 à campanha pela reeleição do tucano. O juiz
eleitoral Renan de Vasconcelos
Neves alegou que fez a doação
quando ainda não era juiz.
O governador Cunha Lima se
manteve no cargo porque entrou com um recurso no TSE
(Tribunal Superior Eleitoral),
que ainda não foi julgado.
A investigação que levou à
cassação foi conduzida pelo
Ministério Público Eleitoral.
Mas, em inquérito do Ministério Público Estadual, outro
programa de assistência social
do governo paraibano -vinculado à Casa Civil do Estado-
também é investigado.
Perícia feita pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) da
Paraíba, anexada à ação que levou à cassação do mandato de
Cunha Lima, detectou que, em
2005, 258 beneficiários do programa da Casa Civil (do total de
5.767) receberam valores acima de R$ 1.000 e que "a maioria
deles não possui comprovação
da liquidação da despesa".
O laudo técnico do TCE mostra ainda que houve a concessão de auxílios para pagamentos de faturas de TV por assinatura, mensalidade de escola
particular e pagamento de plano de saúde particular "sem
qualquer comprovação do estado de carência extrema que deveria ser exigido para a concessão de tais auxílios".
"No mínimo, deveria haver
algum documento que provasse que a pessoa é carente. Quem
sai distribuindo dinheiro para
qualquer um? No INSS, há
muitas restrições para se conseguir um benefício. Lá [na Casa Civil] tinha que ser do mesmo jeito", disse José Guilherme Ferraz, procurador regional
eleitoral da Paraíba.
O atual consultor legislativo
da presidência da Assembléia
Legislativa, Gilbran Asfora, recebeu em 2005 R$ 12 mil para
tratamento médico do filho e
doou, no ano seguinte, R$ 500 à
campanha do tucano. Asfora
disse que estava desempregado
na época em que o filho ficou
doente (2004) e que não tinha
dinheiro para o tratamento.
Um ex-comandante da Polícia
Militar recebeu R$ 5.000 para
tratamento de saúde e doou R$
1.000 para a campanha de Cunha Lima.
José Maranhão
O segundo colocado nas eleições de 2006 para o governo da
Paraíba, o senador José Maranhão (PMDB), entrou com uma
ação de investigação eleitoral
pedindo a apuração de possível
utilização indireta de dinheiro
público na campanha tucana. A
defesa do governador alega que
a legislação permite "distribuir
auxílio financeiro em situações
emergenciais sem distinção entre carentes e não-carentes".
Os nomes dos beneficiários e
os valores das assistências financeiras vieram à tona com a
apresentação de documentos
durante a ação que gerou a cassação do mandato de Cunha Lima pelo TRE.
Os procuradores eleitorais tiveram acesso à lista dos beneficiários pelo programa de assistência social da Casa Civil, custeado com dinheiro do Tesouro
estadual, e constataram que os
benefícios concedidos em 2005
"não obedeceram a qualquer
critério de seleção", segundo
parecer do Ministério Público
Eleitoral.
A representação elaborada
pelos procuradores eleitorais e
encaminhada ao Ministério
Público Estadual, que gerou a
instauração do inquérito, diz
que "foram beneficiadas pessoas que, notoriamente, não
são pobres ou carentes, tais como radialistas, políticos, parentes de políticos, entre outros,
em total desacordo à legislação
que trata da assistência social".
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