São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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Estilo Jobim agrada ao presidente

Lula recomendou ao ministro comprar brigas com as companhias aéreas e Anac

Governador José Serra incentivou Jobim a aceitar o cargo no governo, mas com uma condição, desde que fosse com carta branca

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A forte exibição pública do novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, agrada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao contrário das recomendações que deu aos ministros da área econômica, Lula pediu a Jobim que falasse bastante. Aos auxiliares que o advertiram de que Jobim poderia ser uma sombra com supostas ambições eleitorais para a sucessão de 2010, o presidente respondeu: "Bobagem. Não me incomoda".
Em conversa com Jobim, Lula elogiou os três comandantes das Forças Armadas, mas recomendou a ele que reformulasse o Ministério da Defesa e que comprasse as brigas que julgasse necessárias com as companhias aéreas e a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Lula também não se incomoda com a proximidade que Jobim tem com o tucanato, sobretudo com o governador de São Paulo, José Serra. Acha que é bom para o governo, pois essa relação ajuda a manter canais de diálogo.
Na eleição presidencial de 2002, Lula estreitou a sua boa relação com Jobim, então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). No primeiro mandato, quando Jobim presidiu o STF (Supremo Tribunal Federal), Lula considera que ele ajudou o seu governo. Tanto que desejou que Jobim, peemedebista, fosse seu vice na disputa eleitoral de 2006.
Sem aliança com o PMDB, esse sonho não se realizou. Lula torceu para Jobim presidir o PMDB, mas não teve força para levá-lo ao posto. Nesse episódio, Jobim ficou chateado com o presidente, pois desejava maior empenho.
Cotado para ministro da Justiça no segundo mandato do petista, Jobim recusou. Como recusou pelo menos duas vezes o cargo de ministro da Defesa. A operação de convencimento de Jobim envolveu até o ministro do STF Gilmar Mendes e uma consulta a Serra. Amigo do casal, Mendes convenceu a mulher de Jobim a tirar o veto à ida dele para o governo. Serra opinou a favor da aceitação da Defesa com uma condição, carta branca, e uma avaliação, a gravidade da crise não permitia dizer não ao presidente.
Enquanto articulava a entrada de Jobim no governo, Lula enviou emissários ao então titular da Defesa, Waldir Pires. Recado: ele deveria se antecipar e pedir demissão. Pires se recusou.
Após uma noite em que teve insônia, Lula chamou Pires ao Palácio do Planalto na manhã de 25 de julho.
Segundo a Folha apurou, o ministro disse que entendia os motivos de Lula. Primeiro, divulgou-se que o presidente o demitira. Depois, o governo soltou nota para dizer que Pires pedira demissão. A primeira versão é a correta.
Lula já havia decidido demitir Pires desde o fim do ano passado, mas aguardava um momento de trégua na crise aérea para que ele não deixasse o cargo como culpado.
Levava em conta também aspectos da vida política e pessoal de Pires. O presidente tem respeito pela biografia de Pires, que foi ministro no governo Jango. Até a condição de viúvo pesava contra a demissão. Mais: Lula achava injusto que ele pagasse só o preço da crise, mas a tragédia do acidente da TAM evitou que o presidente aguardasse ainda mais para efetuar a troca.


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