São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2008

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JANIO DE FREITAS

O fim de sempre


A pusilanimidade dos governantes pelo mundo afora está respaldada pelas insuficiências do jornalismo

O CINISMO com que o mundo assiste às pretensas críticas morais de Bush à ferocidade bélica entre Rússia, Geórgia e Ossétia do Sul, como se ele não fosse o invasor e destruidor do Iraque, ainda ocupante do Afeganistão e ameaçador do Irã, é ainda mais forte do que aquelas guerras como fator de desalento, tanto das relações no amanhã mundial, como do avanço tecnológico hoje oferecido ao jornalismo.
A pusilanimidade dos governantes pelo mundo afora está respaldada e é disseminada pelas insuficiências e pelos comprometimentos do jornalismo, cujos recursos inovadores, contrariamente às crenças e esperanças tão cantadas, mais uma vez demonstram repetir seus antecessores: os novos recursos acompanham-se pouco, ou nem se acompanham, de nova essência.
A Geórgia que atacou e ocupou o enclave autônomo da Ossétia do Sul, de população russa em grande proporção, foi armada e treinada com "ajuda" dos Estados Unidos. Não foi um procedimento repentino do governo Bush. Os meios de comunicação internacionais, em especial os que são parte dos centros de decisão mundial, repletos de especialistas e cercados de "scholars" de alto nível, não suspeitaram da ação americana, não pressentiram a sua conseqüência quase infalível, nada perceberam?
A Rússia seguiu a sua tradição de desprezo por negociações e diplomacia estratégica e repôs em prática a ferocidade que passou do czarismo à URSS, vitimando Polônia, Alemanha Oriental, Hungria, Tchecoslováquia, Afeganistão e muito do seu próprio povo. Surpresa, agora, para o grande jornalismo? Nem da índole política do poder russo, nem do fato bélico em si, motivo de inúmeras advertências por longo tempo, depreciadas pelo jornalismo.
Militares de carreira que jazem estraçalhados são vítimas do que se dedicaram, na vida, a fazer com os outros, dependendo só de circunstâncias. Mas as vítimas civis, filhos e mães aos milhares, crianças e idosos, homens pacíficos e soldados involuntários, esses objetos do sacrifício injustificável e impiedoso, tão previsíveis na clara elaboração das guerras, mereceriam ao menos que o jornalismo se pusesse acima da pusilanimidade dos governantes. Em vez de reproduzir e disseminar cinismo com o silêncio de tudo o que conhece e finge desconhecer.

Anistia
Nas distorções feitas de má-fé, os ministros Paulo Vannuchi e Tarso Genro passam como proponentes de mudança e até de anulação da Lei de Anistia. O que fazem é uma interpretação jurídica da lei, considerando-se incapazes de anistiar a tortura, que não é crime político, é crime comum inclusive pela legislação penal vigente na ditadura. Não faz sentido, portanto, a única manifestação do ministro da Defesa, Nelson Jobim, a respeito: "A Lei da Anistia não vai mudar".
É inverdadeiro, também, que Tarso Genro "ameaça a toda hora botar militares envolvidos com tortura no banco dos réus". Nem teria como fazê-lo, mesmo no caso de sua tese prevalecer. As próprias deformações deliberadas, porém, atestam que o assunto é sério. E a presença de dois representantes do Alto Comando do Exército em reunião no Clube Militar deu-lhe implicação ainda maior e imediata.
O ministro da Defesa continua sem ter o que dizer? Que pena. Dele.


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