São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2006

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Em viagem pelo Sul, Lula retoma frases de Vargas em sua carta-testamento

DA REDAÇÃO

Avançou muito além de uma menção explícita a comparação que o presidente Lula fez de si mesmo com Getúlio Vargas durante sua viagem pelo Sul, na sexta-feira e no sábado.
O petista aproveitou a ida à região de origem de Vargas para se valer de formulações que o gaúcho utilizou em um dos principais documentos da história nacional: sua carta-testamento, datada de 24 de agosto de 1954.
Esperou por meses para retomar uma idéia que ficou comum no auge do escândalo do mensalão -de que a oposição queria fazê-lo "sangrar"- e montou um discurso que, por exemplo, remete diretamente à "gota de sangue" que Vargas citou antes de se matar com um tiro.
No sábado, durante comício em Criciúma (SC), Lula disse que "foi humildemente ao povo brasileiro pedir uma gota do sangue brasileiro".
Vargas escreveu há 52 anos: "Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue (...) Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência".
Em Santa Maria (RS), Lula foi mais explícito: "Como é que o Lula sobreviveu a essa quantidade de calúnias e infâmias?". Vargas anotou: "O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram o meu ânimo".
Lula emendou, aí sim citando o nome de Vargas, ao lado dos de outros antecessores: "Estas infâmias que levaram Getúlio Vargas a se matar, as mesmas que não queriam deixar Juscelino Kubitschek governar, as mesmas que tiraram João Goulart do governo".
As semelhanças de discurso escorregam ainda para a maneira em que "o povo" é mencionado. "O povo oprimido agora é o artista principal", disse Lula; "Esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém", escreveu Vargas.
Na economia, Lula voltou a bater na idéia de que recebeu um país em desarranjo -o que também encontra eco na argumentação da carta de Vargas.
Presidente de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954, Vargas morreu dizendo que defendia "principalmente os humildes". No Sul, Lula parece ter escolhido com cuidado as palavras ao tocar no assunto. Trocou o tradicional "nunca antes neste país" por um singelo "quase" ao dizer que os brasileiros carentes "foram abandonados durante quase toda a história do país".
(ROBERTO DIAS)


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