|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Foco
Em viagem pelo Sul, Lula retoma frases de Vargas
em sua carta-testamento
DA REDAÇÃO
Avançou muito além de
uma menção explícita a
comparação que o presidente Lula fez de si mesmo com
Getúlio Vargas durante sua
viagem pelo Sul, na sexta-feira e no sábado.
O petista aproveitou a ida
à região de origem de Vargas
para se valer de formulações
que o gaúcho utilizou em um
dos principais documentos
da história nacional: sua carta-testamento, datada de 24
de agosto de 1954.
Esperou por meses para
retomar uma idéia que ficou
comum no auge do escândalo do mensalão -de que a
oposição queria fazê-lo "sangrar"- e montou um discurso que, por exemplo, remete
diretamente à "gota de sangue" que Vargas citou antes
de se matar com um tiro.
No sábado, durante comício em Criciúma (SC), Lula
disse que "foi humildemente
ao povo brasileiro pedir uma
gota do sangue brasileiro".
Vargas escreveu há 52
anos: "Nada mais vos posso
dar a não ser meu sangue (...)
Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na
vossa consciência".
Em Santa Maria (RS), Lula
foi mais explícito: "Como é
que o Lula sobreviveu a essa
quantidade de calúnias e infâmias?". Vargas anotou: "O
ódio, as infâmias, a calúnia
não abateram o meu ânimo".
Lula emendou, aí sim citando o nome de Vargas, ao
lado dos de outros antecessores: "Estas infâmias que
levaram Getúlio Vargas a se
matar, as mesmas que não
queriam deixar Juscelino
Kubitschek governar, as
mesmas que tiraram João
Goulart do governo".
As semelhanças de discurso escorregam ainda para a
maneira em que "o povo" é
mencionado. "O povo oprimido agora é o artista principal", disse Lula; "Esse povo
de quem fui escravo não
mais será escravo de ninguém", escreveu Vargas.
Na economia, Lula voltou
a bater na idéia de que recebeu um país em desarranjo
-o que também encontra
eco na argumentação da carta de Vargas.
Presidente de 1930 a 1945
e de 1951 a 1954, Vargas morreu dizendo que defendia
"principalmente os humildes". No Sul, Lula parece ter
escolhido com cuidado as
palavras ao tocar no assunto.
Trocou o tradicional "nunca
antes neste país" por um singelo "quase" ao dizer que os
brasileiros carentes "foram
abandonados durante quase
toda a história do país".
(ROBERTO DIAS)
Texto Anterior: Lula afirma que pobres são "cada célula do seu corpo e cada gota do seu sangue" Próximo Texto: Entrevista: Não dá para comparar, diz historiador Índice
|