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Emenda cria uma nova elite de Câmaras "inchadas"
Cidades que têm entre 160 mil e 192 mil habitantes passarão de 12 vereadores para 21; PEC deve ir à votação em 2º turno dia 22
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A emenda à Constituição que
pretende tornar possível a posse imediata de cerca de 7.700
novos vereadores levará um
grupo de 27 cidades brasileiras
a ver suas Câmaras quase dobrarem de tamanho -subirão
dos atuais 12 vereadores para
21, um salto de 75%.
Essas cidades, que têm hoje
entre 160 mil e 192 mil habitantes, representam o grupo que
proporcionalmente terá o seu
Legislativo mais inchado caso a
emenda entre em vigor. Nele,
estão cidades como Palmas, capital do Tocantins, e Sobral,
238 km ao oeste de Fortaleza.
Aprovada pela Câmara em
primeiro turno na última quarta, a emenda redimensiona o
tamanho das Câmaras segundo
a população das cidades. Ela
deve ir à votação em segundo
turno no dia 22 ou 23, último
passo antes da promulgação.
A entrada em vigor, entretanto, deve depender de decisão dos tribunais superiores, já
que a medida será questionada
judicialmente. O presidente do
TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Carlos Ayres Britto, já afirmou que a jurisprudência do
tribunal só permite mudança
para as próximas eleições.
A rigor, a maioria das 5.564
cidades brasileiras teria, com a
emenda, novos vereadores,
sendo que isso ocorreria em
maior escala nos que têm entre
50 mil e 1 milhão de habitantes.
Nesse grupo, o percentual de
crescimento vai de 19% a 75%.
Presidentes de Câmaras Municipais ouvidos pela Folha criticaram a medida e afirmaram
que ela representará aumento
de gastos, apesar de haver previsão de redução no limite que
as Câmaras podem usar hoje
-de até 8% da receita tributária (mais transferências constitucionais) para até 7%.
O aumento de despesas é
possível já que a média de gastos fica abaixo de 70% do atual
limite -ou seja, há espaço para
uma elevação, mesmo com a
redução do teto.
"É lógico que terá aumento
de gasto. Um vereador tem assessores e uma série de outras
coisas", lembra a presidente da
Câmara de Rio Claro (SP), Mônica Hussni Messetti (DEM). A
cidade, 173 km ao noroeste de
São Paulo, tem 12 vereadores.
Com a emenda, iria a 21.
O presidente da Câmara de
Cabo Frio (RJ), Alfredo Gonçalves (PPS), diz que a Câmara
não tem recurso para receber
mais nove vereadores (também
passaria de 12 para 21). "É óbvio que não há recursos, não temos espaço para abrigar 21 vereadores. De cara, vamos ter
que alugar um espaço."
O diretor-geral da Câmara de
Araçatuba (527 km ao noroeste
de São Paulo), Edison Eduardo
Gomes, disse que "será o caos"
caso sejam adicionados nove
vereadores aos 12 já existentes.
Na linha oposta estão os suplentes de vereadores que lotaram salões e gabinetes da Câmara durante a semana. "Há
redução de gastos de quase R$
2 bilhões, infelizmente parte
dos órgãos de imprensa estão
faltando com a verdade", disse
o suplente de vereador Cirineu
Guimarães (PSB), o "Zoca",
que quer assumir uma cadeira
em Petrópolis (RJ), que passaria de 15 vereadores para 23.
Para o presidente da CNM
(Confederação Nacional dos
Municípios), Paulo Ziulkoski, o
debate em torno do tema tem
sido equivocado. "Acho que
não é o número de vereadores
o que interessa. Em um primeiro momento, o que interessa é
o gasto do Legislativo", disse.
"Acho alto, e com o aumento
do número de vereadores certamente haverá aumento de
gastos", disse. Ele lembra que a
própria Câmara dos Deputados
havia aprovado uma proposta
em que o limite de gastos dos
Legislativos municipais era reduzido de forma mais acentuada -dos atuais 8% da receita
para 4,5%. "Lamentavelmente,
houve reação e essa proposta
acabou sendo superada."
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