São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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PT diz que ataques não colam e Lula manterá 'paz e amor'

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Os ataques velados de Armínio Fraga e os abertos de José Serra ao candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, não colaram e, por isso, o petista vai continuar sendo "paz e amor" na abertura da campanha pela TV na segunda-feira.
A avaliação de que os ataques não machucaram Lula surgiu das pesquisas qualitativas que o partido faz regularmente. Mesmo assim, o publicitário Duda Mendonça, responsável pela programação de TV, colocou Lula de plantão para gravar eventualmente um programa no domingo, se até lá surgir um fato novo que exija algum tipo de resposta.
Por que os ataques não colaram? Responde Luiz Dulci, secretário-geral do PT e um dos quatro homens do estado-maior de Lula:
1 - Porque, nas qualitativas, já vinha prevalecendo uma percepção forte de que o país passa, de fato, por uma instabilidade, em parte por motivos externos, mas que a mudança não seria fator para agravá-la.
Para os agentes de mercado e para a tática eleitoral do governismo, é exatamente o inverso. A instabilidade aumentaria com qualquer mudança. Essa tática "teria chance de prevalecer se houvesse percepção de que há estabilidade e que a mudança traria crise, o que não ocorre", diz Dulci.
2 - A suposição, esgrimida por Serra, de que o Brasil poderia enfrentar uma turbulência como a que ocorre na Venezuela não só não colou como até produziu efeito contrário, sempre de acordo com as qualitativas feitas pelo PT.
O PT acha que o perfil de pessoa racional e equilibrada que Serra construiu durante a campanha fica abalado com o que Dulci chama de "comparação sem base".
O comando da campanha petista tem um motivo adicional para não mudar o estilo "paz e amor" que adotou no primeiro turno, de acordo com a descrição feita pelo próprio Lula: o partido acha que custou para desfazer a imagem de "raivoso" que impregnava o PT em campanhas anteriores. "Agora, eles querem, com essas provocações, que o PT parta para um tom raivoso. Por que faríamos isso?", pergunta Dulci.
Mas esse estilo não é imutável, diz até mesmo Duda Mendonça, o principal responsável por sua adoção nesta campanha. "Se eles subirem muito o tom, vamos ter que responder de alguma forma", afirma o publicitário.
Na conversa com a Folha, Duda até deixa escapar uma frase que, eventualmente, servirá de base para algum tipo de resposta: "Se o governo tivesse feito o seu trabalho [na área econômica], o candidato dele teria ganho no primeiro turno". É uma alusão à perspectiva de que o PT, se chamado a debater responsabilidades pelo fato de o dólar ter chegado perto dos R$ 4, dirá que a culpa não é de Lula, mas do próprio governo -e, por extensão, de seu candidato.
Na pesquisa diária por telefone que o partido faz, Lula conseguiu um motivo adicional para estar tão tranquilo quanto é possível em uma campanha eleitoral: o publicitário queria ter uma idéia de como se transfeririam, no segundo turno, os votos que, no primeiro, foram para Anthony Garotinho e Ciro Gomes. A pesquisa foi feita, por isso, no Rio e no Ceará, Estados em que cada um deles tem o maior balaio de votos. Deu 63% a 22% para Lula, no Rio de Janeiro, e uma diferença ainda maior no Ceará: 72% a 14%.
Traduzindo: os votos de Garotinho e Ciro estão migrando em maior proporção para Lula, sempre de acordo com as informações do PT.
Toda essa animação no coração da campanha petista não significa que o partido deixará de usar, na TV, questões como a da alta do dólar. "O que não vamos fazer é adotar um tom defensivo", antecipa Dulci, o secretário-geral.
Ou seja, o PT não pretende dizer que Lula não é o responsável pela alta do dólar. Pretende, ao contrário, mostrar seu próprio diagnóstico e, mais que isso, suas propostas. Mas, "se sentir que algum tipo de questionamento é importante para a população, aí sim responderemos", diz o secretário-geral.
E acrescenta: "Assim mesmo, será do jeito que quisermos, e não do jeito que eles querem".
O PT confia em que o empresariado, aparentemente ainda pró-Serra em maior número, trabalhará para moderar a campanha na fase final.
Aposta em que a preocupação com a governabilidade, seja qual for o eleito, faz com que os empresários desejem algum tipo de convivência PT-PSDB, o que, de resto, já foi expresso de público pelo presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva.
Uma campanha com sangue dificultaria ou até inviabilizaria essa convivência, como é óbvio.


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