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Esquerda do PT vai enfrentar Marta
FABIO SCHIVARTCHE
DO PAINEL
Foi na última hora, literalmente.
Às 17h de sexta-feira, apenas 60
minutos antes do prazo final para
a inscrição de sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo pelo
PT, é que o economista Plínio de
Arruda Sampaio Jr. teve certeza:
tinha 79 assinaturas a mais do que
as 1.300 mínimas necessárias para
disputar a prévia do partido contra a prefeita Marta Suplicy.
Nesta semana, se comprovar a
validade das assinaturas das listas
de apoio, a direção do partido vai
marcar a prévia para 9 de novembro. Seria uma conquista das correntes de esquerda do PT, que formam a base da candidatura de
Plínio Jr. Sabem que a corrente
majoritária do partido apóia Marta, mas buscam algo além da prévia: querem obrigar o PT de 2003
a sentar-se no divã e fazer uma
análise do que é ser governo.
"Estou preocupado com a qualidade do debate dentro do PT",
diz o candidato a candidato, professor de Economia da Unicamp e
uma das vozes petistas mais críticas ao governo Lula. Foi ele quem
organizou, em junho, "A Agenda
Interditada", documento de economistas que critica a política
macroeconômica de Lula. Dois
meses depois, assinou o manifesto "Resgate do PT", com críticas à
direção do partido. Foi ele também quem organizou um júri paralelo que "absolveu" a senadora
Heloísa Helena e os deputados
ameaçados pela direção da sigla.
As tendências de esquerda do
PT -principalmente O Trabalho- representam o grosso das
assinaturas à sua candidatura. Há
também intelectuais de peso da
sigla, como Paulo Arantes, Ricardo Antunes e Chico de Oliveira.
Filho do ex-deputado federal
Plínio de Arruda Sampaio, um
dos fundadores do PT, Plínio Jr.
passou a adolescência no exílio,
no Chile e nos EUA. Voltou ao
Brasil e cursou economia na USP,
em plena ditadura, época em que
construiu seu estofo socialista.
Hoje, aos 45 anos, sem filiação a
nenhuma corrente do multifacetado PT, vê-se diante de uma "tarefa utópica". "A minha candidatura é a do David contra o Golias,
do PT de luta contra o PT chapa
branca", alfineta, sem modéstia.
Leia trechos da entrevista:
Folha - Por que o senhor decidiu
concorrer contra Marta Suplicy?
Plínio de Arruda Sampaio Jr. - Há
uma insatisfação grande na base
do partido sobre os rumos do governo Marta. É uma administração que aceita docilmente o parâmetro neoliberal. Não questiona,
por exemplo, o endividamento da
cidade com a União. É um governo que se subordina à lógica do
capital imobiliário e das grandes
empreiteiras. A prefeitura virou
refém do status quo.
Folha - O que o senhor faria diferente como prefeito?
Plínio Jr. - É uma pergunta precipitada, porque, no quadro atual, é
difícil eu ganhar a prévia. Minha
candidatura quer fazer um debate
honesto sobre os problemas da cidade e do PT. Mas, se o milagre
ocorrer, e David ganhar de Golias,
as pessoas podem esperar uma
prefeitura afinada com os compromissos históricos do PT.
Folha - O senhor tem sido um dos
maiores críticos do governo Lula
dentro do partido. Pensa em sair
do PT se não vencer a prévia?
Plínio Jr. - Não. Minha luta é para que não se repitam no governo
Lula os desvios que se verificam
na gestão Marta. E para mudar a
forma de fazer política em São
Paulo. Marta incorreu em erros
que o PT sempre combateu, como
o loteamento da subprefeituras. O
vice-líder do governo na Câmara
é o vereador Viviani Ferraz, antigo aliado de Maluf. Assim não dá.
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