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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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Esquerda do PT vai enfrentar Marta

FABIO SCHIVARTCHE
DO PAINEL

Foi na última hora, literalmente. Às 17h de sexta-feira, apenas 60 minutos antes do prazo final para a inscrição de sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo pelo PT, é que o economista Plínio de Arruda Sampaio Jr. teve certeza: tinha 79 assinaturas a mais do que as 1.300 mínimas necessárias para disputar a prévia do partido contra a prefeita Marta Suplicy.
Nesta semana, se comprovar a validade das assinaturas das listas de apoio, a direção do partido vai marcar a prévia para 9 de novembro. Seria uma conquista das correntes de esquerda do PT, que formam a base da candidatura de Plínio Jr. Sabem que a corrente majoritária do partido apóia Marta, mas buscam algo além da prévia: querem obrigar o PT de 2003 a sentar-se no divã e fazer uma análise do que é ser governo.
"Estou preocupado com a qualidade do debate dentro do PT", diz o candidato a candidato, professor de Economia da Unicamp e uma das vozes petistas mais críticas ao governo Lula. Foi ele quem organizou, em junho, "A Agenda Interditada", documento de economistas que critica a política macroeconômica de Lula. Dois meses depois, assinou o manifesto "Resgate do PT", com críticas à direção do partido. Foi ele também quem organizou um júri paralelo que "absolveu" a senadora Heloísa Helena e os deputados ameaçados pela direção da sigla.
As tendências de esquerda do PT -principalmente O Trabalho- representam o grosso das assinaturas à sua candidatura. Há também intelectuais de peso da sigla, como Paulo Arantes, Ricardo Antunes e Chico de Oliveira.
Filho do ex-deputado federal Plínio de Arruda Sampaio, um dos fundadores do PT, Plínio Jr. passou a adolescência no exílio, no Chile e nos EUA. Voltou ao Brasil e cursou economia na USP, em plena ditadura, época em que construiu seu estofo socialista.
Hoje, aos 45 anos, sem filiação a nenhuma corrente do multifacetado PT, vê-se diante de uma "tarefa utópica". "A minha candidatura é a do David contra o Golias, do PT de luta contra o PT chapa branca", alfineta, sem modéstia. Leia trechos da entrevista:

Folha - Por que o senhor decidiu concorrer contra Marta Suplicy?
Plínio de Arruda Sampaio Jr. -
Há uma insatisfação grande na base do partido sobre os rumos do governo Marta. É uma administração que aceita docilmente o parâmetro neoliberal. Não questiona, por exemplo, o endividamento da cidade com a União. É um governo que se subordina à lógica do capital imobiliário e das grandes empreiteiras. A prefeitura virou refém do status quo.

Folha - O que o senhor faria diferente como prefeito?
Plínio Jr. -
É uma pergunta precipitada, porque, no quadro atual, é difícil eu ganhar a prévia. Minha candidatura quer fazer um debate honesto sobre os problemas da cidade e do PT. Mas, se o milagre ocorrer, e David ganhar de Golias, as pessoas podem esperar uma prefeitura afinada com os compromissos históricos do PT.

Folha - O senhor tem sido um dos maiores críticos do governo Lula dentro do partido. Pensa em sair do PT se não vencer a prévia?
Plínio Jr. -
Não. Minha luta é para que não se repitam no governo Lula os desvios que se verificam na gestão Marta. E para mudar a forma de fazer política em São Paulo. Marta incorreu em erros que o PT sempre combateu, como o loteamento da subprefeituras. O vice-líder do governo na Câmara é o vereador Viviani Ferraz, antigo aliado de Maluf. Assim não dá.



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