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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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RUMO A 2004
Publicitário do presidente oferece consultoria para dez prefeituras

Reunião mensal com Duda custa R$ 200 mil a prefeitos

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"Haverá uma reunião mensal com o diretor-geral da agência, sr. Duda Mendonça", diz o aviso dentro de um quadro na proposta entregue à Prefeitura de Porto Alegre, hoje comandada pelo petista João Verle. Mais adiante, o custo total do contrato: "Valor mensal: R$ 200 mil".
Por essa "fee mensal", expressão usada na proposta a que a Folha teve acesso, a prefeitura também receberia outros serviços. Por exemplo, "análise", "plano estratégico", "recomendações de comunicação", "elaboração de diagnóstico de imagem" e "criação" (não produção) de campanhas publicitárias.
A Prefeitura de Porto Alegre não aceitou contratar o marqueteiro predileto do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não há informações, por ora, sobre alguma cidade que tenha fechado com a DMMP (Duda Mendonça Marketing Político). Trata-se de uma empresa privada. A sua carteira de clientes não é pública.
O Brasil tem cerca de 5.600 cidades. O PT governa 183 municípios, a maioria de porte médio ou grande. De acordo com a assessoria de Duda Mendonça, proposta semelhante à oferecida em Porto Alegre só teria sido formalizada para cerca de dez prefeituras. Mas a DMMP confirma já ter estabelecido "dezenas" de contatos iniciais com administradores municipais em todo o país.
Há uma controvérsia a respeito de como é realizada a abordagem. A DMMP, por meio de sua assessoria, afirma que os serviços são mais procurados do que oferecidos. No caso de Porto Alegre, uma pessoa da empresa teria encontrado casualmente o prefeito João Verle em um evento público. Nesse contato, teria ficado acertada a reunião para tratar de um eventual contrato. O encontro se realizou em 6 de junho.
Em Porto Alegre, a Folha ouviu outro relato. "Foram eles que nos procuraram há uns quatro meses. Eram duas senhoras. Estavam fazendo prospecção. Não nos interessou. Já temos estrutura para isso", declara o coordenador geral de Comunicação da capital gaúcha, Airton Kanitz.
Publicitário mais badalado do país, o baiano Duda Mendonça, 59, ex-marqueteiro de malufistas e tucanos, foi incumbido no mês passado da tarefa de coordenar e integrar toda a propaganda do governo federal.
Duda também venceu a licitação (junto com outras duas agências) para comandar a conta de R$ 150 milhões que cuida da imagem da Presidência da República por 12 meses. A esse respeito, o presidente Lula fez um comentário no último dia 2:
"Eu ouvi outro dia reclamação porque nós contratamos o Duda Mendonça. Queriam que eu contratasse o publicitário do Fernando Henrique Cardoso, o do Collor? Eu tenho que contratar quem eu confio".
Se tiver sucesso na sua empreitada de "consultoria de imagem" para prefeituras em diversas partes do país, Duda Mendonça se consolida como o mais influente homem de propaganda política que o governo federal já teve. O objetivo desses contratos locais é pavimentar o caminho para a agência do marqueteiro trabalhar também nas campanhas eleitorais do ano que vem, quando serão escolhidos novos prefeitos.

Serviço cerebral
O contrato oferecido por Duda Mendonça trata de um serviço intelectual. A DMMP não arca com os custos das pesquisas de opinião. O publicitário e sua equipe vendem um trabalho mais cerebral do que braçal.
Dentro de um quadro (idêntico ao que anuncia a reunião mensal com Duda Mendonça), está escrito o seguinte aviso ao futuro cliente, com a primeira palavra em negrito: "Importante: o custo de todas as pesquisas será de responsabilidade do cliente".
A rigor, o prefeito que contratar os serviços do publicitário do Planalto pagará R$ 200 mil -preço sugerido a Porto Alegre- para ter proximidade com o marqueteiro e ouvir suas idéias e interpretações dos fatos.
Eis alguns serviços prestados na primeira fase do trabalho, chamada de "Diagnóstico e Recomendações de Comunicação":
1) "Avaliação do desempenho da atual administração, grau de satisfação, principais reivindicações e problemas";
2) "Avaliação da imagem do prefeito, com identificação de seus pontos fortes e fracos";
3) "Quem é o prefeito que a mídia e o povo estão vendo".
Como está especificado, a empresa de Duda Mendonça não paga pelas pesquisas realizadas. Só faz o "acompanhamento" desses levantamentos. Também se propõe a fazer o mesmo serviço em relação aos "principais atores da mídia", numa referência a entrevistas com jornalistas que atuam na região da prefeitura que fechar o contrato.
Nessa primeira fase, portanto, Duda e sua equipe analisam pesquisas e levantamentos pagos pela prefeitura com o dinheiro público. Depois de 45 dias de trabalho, fazem um "relatório final".
Esse esquema foi aplicado para a Prefeitura de São Paulo. Duda produziu um diagnóstico para a prefeita paulistana Marta Suplicy (PT), que é casada com Luis Favre -que, por sua vez, é funcionário do publicitário.
Procurada pela Folha, a Prefeitura de São Paulo declarou por meio de sua assessoria que o custo do trabalho foi pago pelo PT.
Depois da fase do diagnóstico, quando Duda dá suas opiniões sobre a imagem de uma determinada prefeitura, vem o trabalho seguinte -com as tais reuniões mensais com o publicitário. Nessa segunda fase, chamada de "Consultoria de Imagem", a DMMP continuará oferecer idéias e análises. Fará a "conceituação, criação e orientação das estratégias que devem reger as atitudes e discursos do prefeito e da prefeitura". Ficará também com a "criação" de campanhas publicitárias e a "supervisão" da assessoria de imprensa. O contrato não prevê a produção das peças publicitárias.
Duda Mendonça arcará com os custos de sua equipe, que fará análises, recomendações e criação de campanhas usando como base os escritórios já instalados em São Paulo, Brasília e Salvador. Outros gastos, como pesquisas e a produção de campanhas, terão ser pagos pela prefeitura -além dos R$ 200 mil cobrados mensalmente, como seria o caso da administração de Porto Alegre.



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