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RUMO A 2004
Publicitário do presidente oferece consultoria para dez prefeituras
Reunião mensal com Duda custa R$ 200 mil a prefeitos
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Haverá uma reunião mensal
com o diretor-geral da agência, sr.
Duda Mendonça", diz o aviso
dentro de um quadro na proposta
entregue à Prefeitura de Porto
Alegre, hoje comandada pelo petista João Verle. Mais adiante, o
custo total do contrato: "Valor
mensal: R$ 200 mil".
Por essa "fee mensal", expressão usada na proposta a que a Folha teve acesso, a prefeitura também receberia outros serviços.
Por exemplo, "análise", "plano
estratégico", "recomendações de
comunicação", "elaboração de
diagnóstico de imagem" e "criação" (não produção) de campanhas publicitárias.
A Prefeitura de Porto Alegre
não aceitou contratar o marqueteiro predileto do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Não há informações, por ora, sobre alguma cidade que tenha fechado com a DMMP (Duda Mendonça Marketing Político). Trata-se de uma empresa privada. A sua
carteira de clientes não é pública.
O Brasil tem cerca de 5.600 cidades. O PT governa 183 municípios, a maioria de porte médio ou
grande. De acordo com a assessoria de Duda Mendonça, proposta
semelhante à oferecida em Porto
Alegre só teria sido formalizada
para cerca de dez prefeituras. Mas
a DMMP confirma já ter estabelecido "dezenas" de contatos iniciais com administradores municipais em todo o país.
Há uma controvérsia a respeito
de como é realizada a abordagem.
A DMMP, por meio de sua assessoria, afirma que os serviços são
mais procurados do que oferecidos. No caso de Porto Alegre, uma
pessoa da empresa teria encontrado casualmente o prefeito João
Verle em um evento público. Nesse contato, teria ficado acertada a
reunião para tratar de um eventual contrato. O encontro se realizou em 6 de junho.
Em Porto Alegre, a Folha ouviu
outro relato. "Foram eles que nos
procuraram há uns quatro meses.
Eram duas senhoras. Estavam fazendo prospecção. Não nos interessou. Já temos estrutura para isso", declara o coordenador geral
de Comunicação da capital gaúcha, Airton Kanitz.
Publicitário mais badalado do
país, o baiano Duda Mendonça,
59, ex-marqueteiro de malufistas
e tucanos, foi incumbido no mês
passado da tarefa de coordenar e
integrar toda a propaganda do
governo federal.
Duda também venceu a licitação (junto com outras duas agências) para comandar a conta de
R$ 150 milhões que cuida da imagem da Presidência da República
por 12 meses. A esse respeito, o
presidente Lula fez um comentário no último dia 2:
"Eu ouvi outro dia reclamação
porque nós contratamos o Duda
Mendonça. Queriam que eu contratasse o publicitário do Fernando Henrique Cardoso, o do Collor? Eu tenho que contratar quem
eu confio".
Se tiver sucesso na sua empreitada de "consultoria de imagem"
para prefeituras em diversas partes do país, Duda Mendonça se
consolida como o mais influente
homem de propaganda política
que o governo federal já teve. O
objetivo desses contratos locais é
pavimentar o caminho para a
agência do marqueteiro trabalhar
também nas campanhas eleitorais do ano que vem, quando serão escolhidos novos prefeitos.
Serviço cerebral
O contrato oferecido por Duda
Mendonça trata de um serviço intelectual. A DMMP não arca com
os custos das pesquisas de opinião. O publicitário e sua equipe
vendem um trabalho mais cerebral do que braçal.
Dentro de um quadro (idêntico
ao que anuncia a reunião mensal
com Duda Mendonça), está escrito o seguinte aviso ao futuro cliente, com a primeira palavra em negrito: "Importante: o custo de todas as pesquisas será de responsabilidade do cliente".
A rigor, o prefeito que contratar
os serviços do publicitário do Planalto pagará R$ 200 mil -preço
sugerido a Porto Alegre- para
ter proximidade com o marqueteiro e ouvir suas idéias e interpretações dos fatos.
Eis alguns serviços prestados na
primeira fase do trabalho, chamada de "Diagnóstico e Recomendações de Comunicação":
1) "Avaliação do desempenho
da atual administração, grau de
satisfação, principais reivindicações e problemas";
2) "Avaliação da imagem do
prefeito, com identificação de
seus pontos fortes e fracos";
3) "Quem é o prefeito que a mídia e o povo estão vendo".
Como está especificado, a empresa de Duda Mendonça não paga pelas pesquisas realizadas. Só
faz o "acompanhamento" desses
levantamentos. Também se propõe a fazer o mesmo serviço em
relação aos "principais atores da
mídia", numa referência a entrevistas com jornalistas que atuam
na região da prefeitura que fechar
o contrato.
Nessa primeira fase, portanto,
Duda e sua equipe analisam pesquisas e levantamentos pagos pela prefeitura com o dinheiro público. Depois de 45 dias de trabalho, fazem um "relatório final".
Esse esquema foi aplicado para
a Prefeitura de São Paulo. Duda
produziu um diagnóstico para a
prefeita paulistana Marta Suplicy
(PT), que é casada com Luis Favre
-que, por sua vez, é funcionário
do publicitário.
Procurada pela Folha, a Prefeitura de São Paulo declarou por
meio de sua assessoria que o custo
do trabalho foi pago pelo PT.
Depois da fase do diagnóstico,
quando Duda dá suas opiniões
sobre a imagem de uma determinada prefeitura, vem o trabalho
seguinte -com as tais reuniões
mensais com o publicitário. Nessa
segunda fase, chamada de "Consultoria de Imagem", a DMMP
continuará oferecer idéias e análises. Fará a "conceituação, criação
e orientação das estratégias que
devem reger as atitudes e discursos do prefeito e da prefeitura".
Ficará também com a "criação"
de campanhas publicitárias e a
"supervisão" da assessoria de imprensa. O contrato não prevê a
produção das peças publicitárias.
Duda Mendonça arcará com os
custos de sua equipe, que fará
análises, recomendações e criação
de campanhas usando como base
os escritórios já instalados em São
Paulo, Brasília e Salvador. Outros
gastos, como pesquisas e a produção de campanhas, terão ser pagos pela prefeitura -além dos R$
200 mil cobrados mensalmente,
como seria o caso da administração de Porto Alegre.
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