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Em reunião com superintendentes do órgão, secretário disse que tem respaldo do ministro contra corregedor
Na briga da Receita, Palocci apóia Rachid
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) tomou partido na
guerra administrativa que se instalou na Receita Federal. Entre o
corregedor do fisco, Moacir Leão,
e o secretário da Receita, Jorge Rachid, optou por prestigiar o segundo. Em diálogos reservados, o
governo começou a analisar a hipótese de afastar Leão de suas
funções.
Mantida em segredo, a estratégia não é de execução simples.
Depende da transposição de obstáculos administrativos e políticos. No campo administrativo, o
corregedor da Receita dispõe de
mandato. Foi instituído por decreto, na gestão do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso.
No caso de Moacir Leão, nomeado em junho de 2002, o mandato vai até 2005. Nesse período,
só poderia ser afastado em três hipóteses: 1) mediante revogação
do decreto; 2) a pedido do próprio
corregedor; ou 3) como consequência de comprovação de que o
titular da função cometeu falha
grave. Algo que depende da abertura de sindicância ou inquérito
administrativo.
Na arena política, o eventual
afastamento de Moacir Leão poderia, na opinião da cúpula da Fazenda, passar à opinião pública
uma impressão indesejada: a de
que o governo estaria se contrapondo à apuração de supostos
atos de corrupção praticados no
âmbito da Receita.
A elite do fisco, integrada pelos
superintendentes da Receita nos
Estados, reuniu-se na semana
passada em Brasília, longe dos
olhares da imprensa. O encontro
começou na manhã de terça-feira
e só foi concluído na tarde de sexta. Oficialmente, discutiu-se a
programação orçamentária do
fisco para a gestão de Luiz Inácio
Lula da Silva.
Abriu-se, porém, uma "janela"
nas reuniões para debater a crise
que corrói a imagem pública da
Receita. Falando em tom pausado, o secretário Jorge Rachid informou aos subordinados que Palocci apóia integralmente a sua
gestão. Não apenas no embate
com a Corregedoria. Mencionou
o empenho do ministro, com o
respaldo da Casa Civil da Presidência, para barrar nomeações
políticas na Receita.
Conforme revelou a Folha no
mês passado, é intenso o assédio
de parlamentares aos postos de
relevo no fisco. Tão intenso que
alguns superintendentes ameaçaram renunciar aos cargos. Registrou-se pressão mais vigorosa na
regional de São Paulo, chefiada
pelo auditor Maurício Almeida.
O presidente do Senado, José
Sarney, desejava nomear para o
posto um outro auditor, chamado
Jefferson Salazar. A julgar pela explanação de Rachid, malogrou a
intenção do senador, um dos
principais aliados do governo no
Congresso.
Rachid evitou entrar em detalhes sobre as diferenças que mantém com Moacir Leão. Disse apenas que o governo não está de
braços cruzados. Providências
para apurar eventuais atos de corrupção serão, segundo afirmou,
apoiadas com vigor.
Mas não há a intenção de tolerar
a manutenção de uma atmosfera
de suspeição indiscriminada. O
corregedor Moacir Leão já abriu
quatro inquéritos envolvendo ex-integrantes e funcionários graduados da cúpula da Receita.
Um deles envolve auto de infração lavrado em 1994 contra a
construtora baiana OAS. Rachid,
à época um mero auditor lotado
em Salvador, compunha a equipe
que multou a empresa em R$ 1,1
bilhão. Julgando recurso da OAS,
o Conselho de Contribuintes reduziu o débito a R$ 25 milhões.
Rachid contou aos superintendentes ter recebido instruções para evitar o embate público com
Moacir Leão. Uma recomendação
que vem seguindo ao pé da letra.
Permitiu-se abrir uma exceção na
semana passada.
Reagiu a uma nova suspeita levantada pelo corregedor. Moacir
Leão disse ter recebido denúncia
de que uma suposta conspiração
para desmoralizá-lo fora tramada
no gabinete de Rachid, com o auditor Edson Pedrosa.
Em nota oficial, Rachid classificou a acusação de "totalmente absurda e desprovida de qualquer
fundamento". Aos superintendentes, disse que nem mesmo conhece o auditor Edson Pedrosa,
desafeto de Moacir Leão.
Exorbitância
A impressão da cúpula da Fazenda de que Moacir Leão exorbita de suas atribuições é compartilhada pela maioria dos superintendentes reunidos em Brasília.
Um deles, Nilton Tadeu Nogueira, responsável pela região Centro-Oeste, relatou aos colegas um
episódio que o envolveu.
Nilton disse ter recebido de
Moacir Leão um ofício confidencial intimando-o a responder a
questões que julgou despropositadas. Perguntou-se, por exemplo, se privava da intimidade de
Jorge Rachid, se frequentava a casa do secretário, se os seus filhos
conviviam com os do chefe etc.
Obteve da Justiça mandado de segurança para não responder à inquirição. Alegou invasão de privacidade.
Nos diálogos paralelos travados
pelos superintendentes ao longo
da última semana, Moacir Leão
foi chamado de "Luiz Francisco
da Receita". Uma referência ao
procurador da República Luiz
Francisco de Souza, dono de personalidade voluntariosa e de perfil polêmico.
Por ora, a única providência
concreta do Ministério da Fazenda para tentar enquadrar Moacir
Leão foi um ofício de Rachid à Polícia Federal. Autorizado por Palocci, pediu a abertura de inquérito para apurar o vazamento de informações confidenciais de investigações internas da Corregedoria. Entre elas o conteúdo de um
grampo telefônico feito por ordem judicial. Um grampo que levou à renúncia o auditor Leonardo Couto, um dos principais auxiliares de Rachid.
Couto responde a inquérito em
que é acusado por Moacir Leão de
tentar atrapalhar o trabalho da
Corregedoria da Receita. Por ordem de Palocci, a apuração saiu
das mãos de Leão. Foi transferida
para a Procuradoria da Fazenda
Nacional.
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