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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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Sem-terra prometem fazer reforma na marra

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM NOVA MAMORÉ

Líderes de 2.000 famílias de sem-terra em Rondônia dizem estar fazendo a reforma agrária "na marra" no local onde cinco pessoas morreram num conflito nesta semana, em Nova Mamoré.
Na área, invadida há três anos, os sem-terra hoje desmatam a floresta e fazem queimadas para preparar o plantio. A madeira, eles dizem, é vendida por R$ 10 a R$ 80 por m3 a madeireiros.
Os sem-terra dizem ter se cansado de esperar a atuação de órgãos federais e demarcaram por conta própria lotes de 70 hectares para cada família. Além disso, construíram mais de 70 km de pequenas estradas de terra.
O assentamento montado por eles na localidade de Jacinópolis fica nos limites da cidade de Nova Mamoré. Para chegar lá, o acesso mais fácil é via Buritis (RO).
O fazendeiro Carlos Schumann, 53, diz que Jacinópolis fica dentro de uma área sua, a fazenda Schumann. Os sem-terra contestam a posse da área. "Sabíamos que essas terras eram da União e começamos a trabalhar na área. Nosso sonho aqui é ter um pedaço de terra e o apoio da Justiça para evitar os confrontos, porque vidas correm risco dentro dessa área", disse Samuel Dias Santos, 32, que deixou o Espírito Santo há três anos para montar o assentamento em Jacinópolis. Neste ano, ele trouxe a mulher e cinco filhos.
Santos é um dos líderes independentes dos sem-terra e se diz coordenador do assentamento independente Projeto Jacinópolis.
Das 2.000 famílias, cerca de 400 são comandadas pela Liga dos Camponeses Pobres (há ainda um grupo liderado pela Associação dos Produtores Rurais de Rio Branco). "Estou aqui desde junho acreditando que o governo vai liberar essas terras para termos um futuro melhor", disse Nascimento Pereira de Oliveira, 39, que construiu com a mulher e dois filhos um barracão no assentamento. Oliveira crê que sua voz será ouvida pelo presidente Lula, em quem diz ter votado: "Ele é a única pessoa que bate em cima da reforma agrária e é o nosso líder. Cremos que não nos abandonará". Em Jacinópolis não há escola, igreja, posto médico nem luz elétrica.
Segundo a polícia local, o comércio dos sem-terra com os pequenos madeireiros foi o estopim que desencadeou os conflitos, que já causaram as mortes de pelo menos dez pessoas em um ano.
O confronto maior é dentro das terras da fazenda Schumann. No ano passado ocorreu lá a primeira morte: no dia 27 de novembro o trabalhador rural Ozéas Martins de Souza, 17, foi assassinado. Segundo a PM, seguranças de Schumann são os principais suspeitos.
Schumann aparece agora como o suposto mandante das mortes de quatro trabalhadores rurais na última segunda-feira em sua fazenda: Devair Cordeiro Verbano, 52, e seu filho Evaldo Hilton Margoto Verbano, 26, Oswaldo Pereira, 44, e João Olegário da Silva, 53, o Ceará. O segurança Rodrigo Steffani Rahagnani, 26, também morreu no conflito. Schumann nega ter ligação com as mortes.



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