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Sem-terra prometem fazer reforma na marra
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM NOVA MAMORÉ
Líderes de 2.000 famílias de
sem-terra em Rondônia dizem estar fazendo a reforma agrária "na
marra" no local onde cinco pessoas morreram num conflito nesta semana, em Nova Mamoré.
Na área, invadida há três anos,
os sem-terra hoje desmatam a floresta e fazem queimadas para preparar o plantio. A madeira, eles
dizem, é vendida por R$ 10 a R$
80 por m3 a madeireiros.
Os sem-terra dizem ter se cansado de esperar a atuação de órgãos federais e demarcaram por
conta própria lotes de 70 hectares
para cada família. Além disso,
construíram mais de 70 km de pequenas estradas de terra.
O assentamento montado por
eles na localidade de Jacinópolis
fica nos limites da cidade de Nova
Mamoré. Para chegar lá, o acesso
mais fácil é via Buritis (RO).
O fazendeiro Carlos Schumann,
53, diz que Jacinópolis fica dentro
de uma área sua, a fazenda Schumann. Os sem-terra contestam a
posse da área. "Sabíamos que essas terras eram da União e começamos a trabalhar na área. Nosso
sonho aqui é ter um pedaço de
terra e o apoio da Justiça para evitar os confrontos, porque vidas
correm risco dentro dessa área",
disse Samuel Dias Santos, 32, que
deixou o Espírito Santo há três
anos para montar o assentamento
em Jacinópolis. Neste ano, ele
trouxe a mulher e cinco filhos.
Santos é um dos líderes independentes dos sem-terra e se diz
coordenador do assentamento independente Projeto Jacinópolis.
Das 2.000 famílias, cerca de 400
são comandadas pela Liga dos
Camponeses Pobres (há ainda
um grupo liderado pela Associação dos Produtores Rurais de Rio
Branco). "Estou aqui desde junho
acreditando que o governo vai liberar essas terras para termos um
futuro melhor", disse Nascimento
Pereira de Oliveira, 39, que construiu com a mulher e dois filhos
um barracão no assentamento.
Oliveira crê que sua voz será ouvida pelo presidente Lula, em quem
diz ter votado: "Ele é a única pessoa que bate em cima da reforma
agrária e é o nosso líder. Cremos
que não nos abandonará". Em Jacinópolis não há escola, igreja,
posto médico nem luz elétrica.
Segundo a polícia local, o comércio dos sem-terra com os pequenos madeireiros foi o estopim
que desencadeou os conflitos, que
já causaram as mortes de pelo
menos dez pessoas em um ano.
O confronto maior é dentro das
terras da fazenda Schumann. No
ano passado ocorreu lá a primeira
morte: no dia 27 de novembro o
trabalhador rural Ozéas Martins
de Souza, 17, foi assassinado. Segundo a PM, seguranças de Schumann são os principais suspeitos.
Schumann aparece agora como
o suposto mandante das mortes
de quatro trabalhadores rurais na
última segunda-feira em sua fazenda: Devair Cordeiro Verbano,
52, e seu filho Evaldo Hilton Margoto Verbano, 26, Oswaldo Pereira, 44, e João Olegário da Silva, 53,
o Ceará. O segurança Rodrigo
Steffani Rahagnani, 26, também
morreu no conflito. Schumann
nega ter ligação com as mortes.
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