São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Presidente visitará países com "democracia relativa'

Lula irá primeiro a Burkina Fasso, país cujo presidente está no comando há 20 anos; República do Congo e Angola estão no roteiro

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na sétima viagem que fará à África, na semana que vem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defenderá a democracia, mas na maior parte do tempo ficará cercado por colegas que não praticam um de seus princípios fundamentais: o rodízio no poder. Para o Itamaraty, que o orienta nas viagens, cabe respeitar os "processos autóctones" no desenvolvimento político dos países.
No ministério, vale a argumentação relativista usada para justificar o contato de Lula com ditadores na própria África e sua amizade com a Cuba de Fidel Castro. "No geral, há uma evolução muito positiva. [...] É ingênuo e arrogante dizer que há uma receita de democracia que pode se aplicar a todos os países. Achar que países com profundas diferenças tribais possam chegar a democracias nórdicas rapidamente é ingenuidade", disse o embaixador Roberto Jaguaribe, subsecretário-geral político do Itamaraty.
Já na primeira escala da viagem, em Burkina Fasso, Lula participará de um seminário sobre "democracia e desenvolvimento na África", promovido pelo governo. A seu lado estará o presidente Blaise Compaoré, que governa o país há 20 anos.
Coincidentemente, o dia da visita de Lula, 15 de outubro, é o aniversário do golpe de Estado que levou Compaoré ao poder, em 1987. Na ocasião, seu ex-aliado, o presidente Thomas Sankara, acabou assassinado.
Compaoré disputou eleições em 1991, 1998 e 2005, vencendo com índices próximos a 80%. Burkina não é dos piores exemplos: há liberdade partidária e relativa liberdade de imprensa. A organização norte-americana Freedom House, que classifica os países quanto à liberdade e democracia, dá nota 4 ao país, numa escala de 1 (mais livre) a 7 (menos livre). O país é considerado "parcialmente livre". O Brasil tem nota 2.
Mais grave é a situação na segunda e na quarta escalas de Lula no continente: a República do Congo e Angola.
No Congo, o presidente Denis Sassou-Nguesso chegou ao poder em 1979 por meio de golpe. Em 1992, ele disputou eleições, foi derrotado por um oposicionista e deixou o cargo. Voltou em 1997, em meio a uma guerra civil, e se mantém no poder. Pela Freedom House, o regime tem nota 5,5, o que o coloca na condição de "não-livre".
A mesma nota tem Angola. O país é governado ininterruptamente desde 1979 por José Eduardo dos Santos -um dos chefes de Estado mais duradouros do mundo. A guerra civil de três décadas do país acabou em 2002, mas até agora as eleições não ocorreram. Elas estão marcadas para 2009.


Texto Anterior: Lula obriga TV paga a passar canal público
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.