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ELEIÇÕES 2008 / SÃO PAULO
TCM vê falhas nas gestões de Marta e Kassab na saúde
Deficiência na área é apontada por auditores das contas da prefeitura de 2001 a 2007
Apesar de aplicarem mínimo constitucional de 15% das receitas próprias na saúde, as duas administrações não cumpriram metas do PPA
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
As gestões de Gilberto Kassab (DEM) e de Marta Suplicy
(PT) na Prefeitura de São Paulo
entre 2001 e 2007 apresentaram deficiências na área da
saúde, segundo a visão de quem
tem a função de fiscalizar os
gastos municipais.
As críticas constam dos relatórios anuais produzidos pelos
auditores e avaliados pelos conselheiros do TCM (Tribunal de
Contas do Município).
Os cargos de conselheiro são
indicações políticas. Depois de
votados no tribunal, os relatórios foram remetidos, para nova análise e votação, à Câmara
Municipal. As sete prestações
do período 2001-2007 foram
aprovadas, tanto no tribunal
quanto na Câmara.
Contudo, a leitura dos documentos, que somam cerca de
260 páginas do "Diário Oficial"
do Município em corpo reduzido, revela falhas nas duas gestões e o descumprimento de diversas metas previstas nos
PPAs (Planos Plurianuais), peças elaboradas pela prefeitura
para nortear a área num período de quatro anos.
Receita
De acordo com o relatório do
TCM do ano de 2007, aprovado
em julho passado, a gestão de
Kassab cumpriu o mínimo
constitucional de 15% da receita própria de impostos a ser
aplicado em saúde. Mas não
conseguiu instituir vários dos
instrumentos de planejamento
do SUS (Sistema Único de Saúde), previstos desde 2006, como o plano de saúde, a programação anual de saúde e o relatório anual de gestão. Por isso,
os auditores concluíram que ficou comprometida a apresentação dos "indicadores do desempenho relativos à qualidade dos serviços públicos no município de São Paulo".
Para o TCM, as metas previstas no PPA (Plano Plurianual)
2006-2009 não foram vinculadas ao Orçamento municipal
de 2007, o que "não permite estabelecer vínculo" entre as metas e as ações adotadas.
Num parágrafo à página 195,
o voto do conselheiro relator
das contas de Kassab, Maurício
Faria, relata a produtividade e
os indicadores de saúde na gestão: "O número de atendimentos de urgência/emergência, de
cirurgias e de partos diminuiu
nas unidades de saúde, devido,
principalmente, à falta de profissionais e à criação de AMAs
[unidades de atendimento ambulatorial], enquanto cresceu o
número de consultas nos ambulatórios dos hospitais no
mesmo período".
Problemas foram verificados
no PSF (Programa de Saúde da
Família), que deveria atender,
segundo as metas de 2005, 60%
da população de São Paulo.
Segundo a prefeitura, que
não reconhece a meta de 60%,
hoje a cobertura é de 40%. A
auditoria concluiu que o programa está "estagnado".
"O município contava com
830 equipes em dezembro de
2007, 14% abaixo das 965 estabelecidas no PPA [Plano Plurianual]. O valor liqüidado do
PSF em 2007 foi de R$ 323 milhões, representando uma redução de 8% em relação ao ano
anterior. Não foram identificadas na LDO [Leia de Diretrizes
Orçamentárias] metas relativas ao PSF que estabelecessem
conexão entre planejamento e
Orçamento, ou seja, entre PPA
e LOA", diz relatório do TCM.
No ano de 2006 -Kassab assumiu o cargo de prefeito em
abril daquele ano, quando José
Serra saiu para fazer campanha
ao governo do Estado-, o conselheiro do tribunal Roberto
Braguim anotou que os auditores apontaram o "atendimento
médico" das AMAs é a "principal razão de descontentamento
dos usuários".
"Essa insatisfação está relacionada ao déficit de médicos
em todas as unidades, em diversas especialidades, principalmente ortopedia, clínica
médica e pediatria", apontou.
O secretário municipal de
saúde, Januario Montone, disse à Folha preferir "discutir as
realizações do ponto de vista
macro". Nesse sentido, segundo ele, a atual gestão sairia ganhando.
Marta
Segundo o relatório da gestão
de 2004, a exemplo de Kassab,
Marta também cumpriu os percentuais mínimos de aplicação
na área e teve avanços. Mas errou no planejamento da saúde.
Deixou de cumprir importantes metas do PPA: "Redução
da taxa de mortalidade infantil
e materna; expansão de cobertura do Programa Saúde da Família para 60% da população,
com implantação de 1.749 equipes de saúde e de 100% das
equipes de saúde bucal; informatização de toda a rede das
Unidades de Saúde; implantação de Sistemas de Custos nas
Unidades da rede de saúde no
município; ampliação da oferta
de serviços de saúde, que visava
à construção de dois hospitais
(M'Boi Mirim e Cidade Tiradentes), à construção de 23
unidades de saúde e à conclusão total das reformas das cem
Unidades de Saúde e 13 Hospitais Municipais; e a implantação de 100% das equipes de
saúde bucal/PSF [Programa de
Saúde da Família]".
Os auditores do TCM também apontaram problema de
transparência nos atos da saúde da gestão Marta no ano de
2003. "A PMSP não publicou a
demonstração detalhada dos
gastos realizados com a saúde,
o que prejudica o acompanhamento e a necessária transparência dos gastos efetuados."
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