São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2000

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OUTRO LADO

Bresser nega autoria da planilha

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, presidente do comitê financeiro da reeleição de FHC, admite que usou planilhas na contabilidade das doações, mas nega que seja o autor da principal e mais completa delas.
Ele diz que jogou fora todas as planilhas utilizadas no comitê e que já não se lembra dos detalhes de cada doação.
Bresser se negou a receber a Folha, em São Paulo, para analisar as planilhas criadas por seu irmão, Sérgio Luiz Gonçalves Pereira, e alimentadas com informações dele. "Acho que está bom assim (por telefone)", disse.
Nas duas entrevistas à Folha, o ex-ministro afirmou que todas as doações foram devidamente registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas fez questão de atribuir essa responsabilidade ao tucano Egydio Bianchi, ex-presidente da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) e seu braço direito no comitê financeiro. "Quem fez isso foi o Egydio. Tudo o que passou por mim foi entregue ao Egydio", afirmou Bresser.
Procurado pela Folha, Bianchi admitiu haver guardado planilhas com a contabilidade -que chamou de "segredo comercial do PSDB". Mas não quis dar entrevista sobre o assunto.

Folha - Essa planilha não é mesmo sua?
Bresser -
Não. Alguém pode ter pegado cópia dessa planilha e usado. Eu não gravava em disquete essa planilha, que era de uso único e exclusivo meu.

Folha - O que aconteceu?
Bresser -
Pode ser que alguém tenha gravado num disquete e passado a usar (os arquivos obtidos pela Folha estão protegidos por sistema de segurança -só podem ser lidos, não alterados).

Folha - Pelo menos outras duas pessoas têm isso: Luiz Fernando Furquim e Egydio Bianchi.
Bresser -
Eu não dei para eles.

Folha - Não?
Bresser -
Não dei para ninguém.

Folha - Se algum deles tem, pegou sem avisar?
Bresser -
Isso.
O ex-ministro reconheceu que, numa das planilhas elaboradas por ele, relacionou nomes de concessionários e permissionários de serviços públicos entre os doadores -o que é proibido por lei.
Mas disse que não procurou nenhuma dessas empresas. "Pode ser que alguém tenha sugerido os nomes. Depois se verificou que não poderiam (contribuir). Aí, foram abandonadas", afirmou.

Folha - Mas a planilha informa que a Vasp foi procurada.
Bresser -
Não sei se as empresas aéreas são... Mas não deu, não. Quer dizer, eu acho que não deu nada. As empresas aéreas não deram nada, que eu me lembre.

Folha - Aparece aqui um registro de R$ 150 mil da Vasp.
Bresser -
Olha que maravilha!!

Folha - O sr. acha bom ou acha pouco?
Bresser -
Seria bom, seria ótimo (risos). Ai, ai...
Sérgio Pereira, que hoje é presidente da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), admitiu haver criado planilhas para o comitê financeiro, mas resumiu sua participação a uma ajuda ao irmão. "Eu tomava conta do escritório", disse Pereira. Ajudava na contabilidade? "Não. Nunca, nunca, nunca me meti porque não era comigo. Quem coordenava isso era o Bresser. Era ele", disse.
Mesmo sabendo que alguns dos arrecadadores haviam confirmado o uso de siglas para designá-los, Bresser negou que os tratasse assim. "Usava os nomes deles."
Afirmou que a Previ não teve participação na campanha, mas se lembrou imediatamente que a Perdigão também pertence ao fundo de pensão -tal e qual a anotação da planilha. "Quais são as empresas em que a Previ tem participação? Perdigão, por exemplo. Eu não lembro se a Perdigão deu algum dinheiro. Lembro, porque eu vi nos jornais, que a Previ tem participação. Mas esse não foi um critério", declarou.

Folha - A Previ tem 15% da Perdigão.
Bresser -
Só 15%? Pensei que a Perdigão fosse controlada pela Previ. Aliás, a Previ não existiu na campanha -do meu lado, pelo menos.

Folha - Existiu para mais alguém?
Bresser -
Como é que eu posso saber? Acho que não.
Procurado pela Folha, o ex-secretário Eduardo Jorge Caldas Pereira negou que tivesse ajudado a levantar fundos e que comandasse um time paralelo de coletores. Bresser disse o mesmo.
"Nunca tratei de contribuições com Jair Bilachi. Tive contatos com Mário Petrelli, mas para tratar de política. E Pedro de Freitas várias vezes falava comigo sobre o cenário político", afirmou EJ.


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