São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2000

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OUTRO LADO

Empresas preferem não comentar

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Poucas palavras e muitas negativas. Foi essa a tônica das reações de empresas e executivos citados como doadores na contabilidade paralela da campanha presidencial de Fernando Henrique Cardoso em 98, que somou pelo menos R$ 10,120 milhões.
O executivo Hélio Mattar, ex-secretário de Política Industrial do governo FHC, confirmou ter sido procurado para doar recursos. Mas negou que tivesse contribuído como pessoa física. Disse também que a GE-Dako, empresa que presidia, não fez doação, apesar do registro de R$ 50 mil.
A Sadia não conseguiu colocar em contato com a Folha o presidente da empresa, Luiz Fernando Furlan.
O diretor-jurídico da Sadia, Felipe Luz, disse que Furlan tem "excelentes relações" com o presidente Fernando Henrique e que, se houve algum contato para uma colaboração de R$ 300 mil, conforme registrado na planilha, foi em caráter pessoal. O nome de Furlan não está registrado na contabilidade entregue ao TSE.
O presidente da Panco, Franklin Yanomine, disse, por meio de sua assessoria, que não se lembra de ter sido procurado nem da doação registrada na planilha, de R$ 100 mil.
O vice-presidente de Finanças do BankBoston, Alex Zornig, negou que a instituição tenha doado R$ 200 mil, como descrito pelo documento com a contabilidade da campanha.
"Não doamos e não podemos doar. Há uma norma americana, do Federal Reserve (banco central daquele país), que proíbe qualquer banco dos Estados Unidos de doar recursos para campanhas políticas", disse Zornig.
Pela Papirus, cujo presidente é Dante Ramenzoni, a responsável por esclarecer a citação foi sua mulher e assistente, que se identificou apenas como Cidinha. Por meio de sua secretária, ela disse que a Papirus realmente contribuiu para a campanha da reeleição, sem mencionar valores, mas que Ramenzoni não iria falar sobre o assunto. Segundo a planilha, a Papirus doou R$ 60 mil.
Amarílio Macedo afirmou que o grupo J. Macedo foi procurado "por candidatos de todos os matizes e de todos os partidos". Não soube dizer, no entanto, quem o procurou como representante da campanha de FHC nem se tinha contribuído. A planilha registra doação de R$ 100 mil.
A Xerox do Brasil alegou que seu presidente à época das eleições de 1998, Carlos Salles, estava em viagem à China e, portanto, não poderia colocá-lo em contato com a reportagem. Salles seria o contato do comitê com a empresa para uma contribuição de R$ 300 mil. O atual presidente da Xerox, Guilherme Bittencourt, disse não reconhecer qualquer doação em dinheiro ou material para a campanha de FHC.
Sobre as informações relacionadas à inscrição Usiminas/Cosipa, na planilha, o presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, reconheceu que foi procurado por Bresser.
Mas disse que apenas encaminhou o pedido de contribuição ao departamento financeiro da empresa e não soube precisar o desfecho da demanda. A planilha informa uma contribuição de R$ 500 mil.
Procurados pela Folha, 14 empresas não quiseram se pronunciar ou negaram que tenham colaborado e até mesmo que tenham sido contatadas pelo comitê financeiro da campanha: Constran (que doou R$ 300 mil, segundo a planilha), Glaxo-Welcome (R$ 200 mil), Queiroz Galvão (R$ 500 mil), Petroquímica União (R$ 500 mil), Bozano, Simonsen (R$ 500 mil), agência de publicidade SMP&B (R$ 50 mil), General Motors (R$ 100 mil), Metalnave (R$ 200 mil), Saint Gobain (R$ 50 mil) e Arisco (R$ 400 mil).
Não responderam às ligações da Folha, para tratar das doações que constam da planilha, as seguintes pessoas e empresas: Richard Klein, da Transroll (R$ 500 mil), Gilberto Garbi, presidente da Nec do Brasil à época da reeleição (R$ 200 mil), Agnelo Pacheco, da agência de publicidade Agnelo Pacheco (R$ 100 mil), além das empresas Espírito Santo-Boa Vista (R$ 100 mil) e Magnesita (R$ 100 mil).
A Folha não conseguiu contatar as empresas Victory Italiano (R$ 100 mil), Construtel (R$ 50 mil) e Citrosuco (R$ 360 mil).
Também não foi localizado João Augusto Monteiro, que na planilha é apontado como contato para o segmento de transportes urbanos do Rio de Janeiro, juntamente com Jacob Barata. Teriam doado à campanha R$ 500 mil.
Dono da Guanabara Diesel, uma concessionária Mercedes-Benz, Barata não respondeu aos recados deixados pela Folha, após três tentativas.
Outros cinco citados na planilha deram explicações à Folha sobre suas contribuições à campanha pela reeleição de FHC: a empresa Atlântica Empreendimentos (R$ 100 mil), a companhia de aviação Vasp (R$ 150 mil), as agências de publicidade Publicis (R$ 50 mil) e DPZ (R$ 200 mil) e a empresária Nely Jafet (R$ 50 mil). A posição de cada um deles está descrita nesta e na página seguinte, ao lado da reprodução dos respectivos registros na planilha, assim como a do ministro Andrea Matarazzo (R$ 3 milhões).
A Folha não conseguiu identificar a razão social da "Empresa Construt. Brasil", como anotado na planilha, a quem é atribuída doação de R$ 150 mil.
Há, em Porto Alegre, uma empresa chamada Construtora Brasil. Mas em seus telefones ninguém atendeu às ligações do jornal.


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