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TRANSIÇÃO
Premiê português diz que seu país deve diversificar investimentos, após despejar mais de US$ 10 bi no Brasil na era FHC
FHC "vende" Lula, mas Portugal não investe
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SINTRA
O presidente Fernando Henrique Cardoso deu enfáticas garantias ao governo português de que
o governo de Luiz Inácio Lula da
Silva respeitará os contratos, a estabilidade da economia e a responsabilidade fiscal e expandirá
"a boa acolhida aos investimentos
portugueses no Brasil".
O primeiro-ministro José Manuel Durão Barroso comprou as
explicações. "O governo português continuará confiando no
Brasil, na sua economia, nas suas
instituições democráticas e continuará a trabalhar no caminho que
nos foi apontado pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso",
disse o premiê, em entrevista coletiva ao lado de seu colega brasileiro, ao término da 6ª Cúpula
Brasil/Portugal (ou "Cimeira",
como preferem os portugueses).
Mas, declarações de amor e de
confiança à parte, o fato é que
muito dificilmente haverá novos
investimentos portugueses no
Brasil, depois dos mais de US$ 10
bilhões despejados na era FHC,
porque Durão Barroso acha necessário diversificar o investimento. "Não é correto um país
como Portugal concentrar quase
exclusivamente num só país o seu
investimento no exterior", disse.
Como o capital é escasso, ainda
mais em um país de economia relativamente pequena como Portugal, a diversificação significará
menos aportes para o Brasil, país
em que cerca de 300 empresas
portuguesas já têm mais de 370
subsidiárias e movimentam algo
em torno de US$ 20 bilhões.
A diversificação -fez questão
de dizer o primeiro-ministro-
"não é contra o Brasil nem exprime qualquer reserva (em relação
ao novo governo). Exprime, sim,
a vontade de diversificar, política
que o Brasil também tem".
Em todo o caso, o fato é que, como Durão Barroso admitiu, o governo Lula "vai ter outra orientação ideológica, diferente da que
tem o atual governo português".
Mas, sempre segundo o premiê
português, "isso não prejudica em
nada as nossas relações, desde
que haja, como estou seguro que
vai haver, um sentido de Estado".
Os dois governantes reuniram-se primeiro a sós no Palácio da Pena, construído no século 19 pelo
genro de Dom Pedro 1º, Fernando
Saxe-Coburgo-Gotha, na cidade
de Sintra, Patrimônio da Humanidade situada a 25 km de Lisboa.
Depois, com as respectivas comitivas, foram para o Hotel Palácio de Seteais, jóia da arquitetura
portuguesa do século 18.
Tanto nas conversas fechadas
como na entrevista coletiva, FHC
fez as vezes de avalista de Lula.
Primeiro, reafirmou a Durão Barroso a sua "plena confiança na
continuidade de um relacionamento positivo entre Brasil e Portugal com o novo governo".
Depois, numa mensagem implícita aos investidores portugueses, afirmou: "Aqueles que confiaram no Brasil confiaram em
um país que é sério, um país que
respeita contratos, um país que,
pela voz de seu governo e de seu
futuro governo, reafirmou o seu
compromisso com contratos,
com a estabilidade da economia,
um país que compreendeu que a
inflação é um flagelo que afeta os
mais pobres e que, portanto, a
responsabilidade fiscal passa a ser
bússola do comportamento dos
dirigentes".
Por fim, enfatizou não ter "nenhuma razão para duvidar de
quem, antes das eleições, declarou que esses compromissos seriam mantidos e, depois das eleições, reafirmou que assim será".
Durão Barroso comprou a tese,
mas manifestou mais confiança
nas instituições e no Brasil do que
no novo governo. "Portugal confia nas instituições democráticas
brasileiras. Portugal tem confiança na força da economia brasileira. Os princípios fundamentais
em que se assenta a economia
brasileira são princípios sólidos. É
uma economia exportadora, vigorosa, uma das maiores economias do mundo", disse.
Visita
De todo modo, Lula também foi
caloroso com o primeiro-ministro, quando Durão Barroso telefonou para cumprimentá-lo pela
vitória. "Lula me garantiu a sua
vontade de dar a Portugal um papel especial e me disse de seu carinho e admiração por nosso país",
reproduziu o premiê ontem.
O presidente eleito do Brasil disse também que Lisboa seria a primeira capital européia a ser por
ele visitada. "Vamos cobrar essa
promessa se ele não cumprir",
afirmou Durão Barroso.
Tal como na véspera FHC havia
confidenciado a interlocutores
que Lula estava espantado com a
quantidade de pedidos de cargos
que vem recebendo, Durão Barroso afirmou que, no telefonema
a Lula, sugerira que o novo presidente fizesse como ele próprio, ao
ser eleito em abril: "Fugisse para
um sítio onde estivesse sozinho,
para não receber pressões".
A sugestão chegou tarde. Lula
confessou ao premiê que já havia,
àquela altura, mais candidatos do
que lugares no governo do PT.
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