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ELIO GASPARI
Um remendo ministerial
A reforma ministerial
que Lula está cozinhando
cheira a queimado. Sua primeira equipe nasceu carbonizada e
tudo indica que será reforçada
por um híbrido de jacaré com
cobra d'água. Vai pedir ao
PMDB (versão velha e piorada
do Flamengo) que escale dois
novos jogadores para um time
que jamais teve Ronaldinho
Gaúcho ou Rivaldo.
Em dezembro do ano passado, inebriado pela vitória eleitoral, Lula agiu como um técnico de futebol que escala 34 jogadores, põe em campo dois goleiros, o massagista e o roupeiro.
Num lance inédito, o time de
Lula joga com duas bolas. Uma
(preta) só para o comissário José Dirceu.
O ministério está fatigado. O
presidente poderia devolver à
equipe o tamanho que o jogo
requer, mas isso parece estar fora de cogitação. É o caso de
manter dois goleiros em campo? (Há um ministro para a
Promoção Social, outro para a
Segurança Alimentar.) O roupeiro deve ser escalado? (Lula
criou uma Secretaria Nacional
da Pesca.) Não seria melhor se
os outros jogadores pudessem
chutar a bola preta de José Dirceu? Essas anomalias são estruturais, independem das virtudes e dos defeitos dos 34 atletas
que o presidente pôs em campo.
Os bons técnicos respeitam o
desempenho dos jogadores. Lula inova. Pula do banco, atravessa o gramado e vai abraçar o
jogador que perdeu um pênalti.
Fez isso com Benedita da Silva,
Ricardo Berzoini e Humberto
Costa. Em time ruim, quem se
mexe corre riscos, e Cristovam
Buarque aprendeu essa lição.
Quem fica parado acaba protegido. Desconhece-se o paradeiro de Olívio Dutra, ministro das
Cidades, e de Emília Fernandes, secretária das Mulheres.
A reforma de Lula cheira a
queimado porque não traz ventos que sejam ao mesmo tempo
novos e bons. Por exemplo:
FFHH trocou o ministro da
Saúde e nomeou José Serra. Outro: Itamar Franco tirou o professor Fernando Henrique Cardoso do Itamaraty e deu-lhe a
Fazenda. Aquele timão cinematográfico que Duda Mendonça botou no ar durante a
campanha eleitoral, mostrando
a qualidade da equipe petista,
virou peça de museu. Em quase
três meses de conversa sobre a
reforma, o PT-Federal não tirou do cadastro um só nome
que traga esperança.
Lula deixou que se propagasse a imagem segundo a qual dá
"puxões de orelha" em sua
equipe. Deixou também que se
firmasse a idéia de que existem
dois tipos de ministro. Os que
mandam e os que talvez possam mandar.
É um estilo arriscado. Em geral, o presidente só percebe que
algumas pessoas se afastaram
dele quando o mandato já acabou. Aí é tarde.
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