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OPERAÇÃO ANACONDA
Law Kin Chong, apontado por deputados como contrabandista, revela que liberava presentes para policial federal preso
Empresário admite "favores" a delegado
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário chinês naturalizado brasileiro Law Kin Chong, 43,
apontado pela CPI da Pirataria da
Câmara como um dos principais
contrabandistas do país, admitiu
ontem aos deputados que fazia
"favores" ao delegado da Polícia
Federal José Augusto Bellini, preso na Operação Anaconda.
Segundo Chong, em depoimento prestado em São Paulo, os favores consistiam apenas em liberar
presentes em lojas suas e de sua
família para o delegado, com pagamento posterior. A CPI acredita, porém, que os dois estejam envolvidos em atividades ilícitas, como venda de sentenças judiciais e
proteção policial ao contrabando.
Chong e Bellini foram flagrados
em escutas telefônicas feitas pelo
Ministério Público Federal. Preso
na PF de São Paulo, o delegado foi
denunciado por supostamente
participar de um esquema que
beneficiaria criminosos, em troca
de dinheiro, por meio de falsificação de documentos, liberação de
cargas ilegais e até a concessão de
sentenças de liberdade.
Nove pessoas, entre eles o juiz
federal João Carlos da Rocha Mattos, estão presas. Dos acusados de
participar da quadrilha, Chong
admitiu conhecer apenas Bellini.
Réu em um processo na 7ª Vara
Criminal de São Paulo que apura
descaminho, segundo denúncia
da Procuradoria da República
que embasou a Operação Anaconda, Chong negou ontem que
esses favores fossem ilegais. Ele
disse que recebia ligações telefônicas de Bellini, que pedia brinquedos e até pedras semipreciosas da loja de uma de suas tias.
Os brinquedos seriam distribuídos em um festa beneficente realizada nos finais de ano. "Ele [Bellini] era uma pessoa de expressão.
Pediu um favor, e eu atendi. Por
que não? Não vejo problema algum", disse o empresário.
Revelação só no final
Chong só admitiu os favores
prestados ao delegado no final do
depoimento, quando passou a ser
questionado pelos deputados sobre os grampos telefônicos.
No início, Chong disse que encontrava casualmente Bellini em
almoços em um restaurante árabe
na região da rua 25 de Março, no
centro da capital paulista. Depois,
passou a dizer que recebia ligações do policial convidando apenas para os almoços. Por último,
reconheceu a prática de favores.
Chong afirmou, no entanto, não
se lembrar de trechos das conversas grampeadas pela Procuradoria da República. "Como eu posso
me lembrar de conversas de mais
de um ano atrás?"
Em uma das escutas, segundo
denúncia da Procuradoria, Bellini
teria dito que está ansioso "porque é a última carruagem que vai
passar". "Eu não tenho mais carruagem não, meu irmão", diz o
trecho da escuta, feita no dia 21 de
janeiro deste ano.
O empresário não soube dizer
aos deputados o que significava a
palavra carruagem no diálogo.
"Ele [o delegado] é cheio de gírias.
Tem hora que não dá para entender o que está falando", afirmou.
Para a CPI, a carruagem pode significar um carregamento de material contrabandeado.
Em outro grampo, gravado no
dia 17 de dezembro de 2002, Bellini teria dado seu endereço para
"deixar a mercadoria", "tratando
da divisão depois". No final da
conversa, o delegado se despede
recomendando que o empresário
tenha cuidado. Chong disse que
essa recomendação era apenas a
advertência de um amigo em relação à violência de São Paulo.
Em uma terceira escuta, Bellini
teria dito que iria "apanhar uns
presentes" em uma loja do empresário. Só que, ao contrário do
que disse Chong à CPI, Bellini não
seria cobrado.
Ele disse à CPI ter um patrimônio de R$ 6 milhões e ser dono de
três shoppings na região central
de São Paulo. Ele negou envolvimento com contrabando e afirmou que é mentira a acusação de
que deu TVs importadas pra Bellini e Rocha Mattos.
Policiais federais e civis, promotores e deputados vistoriam ontem dois depósitos que pertenceriam ao empresário. Foram
apreendidos centenas de produtos supostamente falsificados ou
contrabandeados, entre eles bolsas de marcas famosas, eletroeletrônicos e CDs virgens. A Receita
Federal analisará o material.
Chong foi liberado pela CPI no
final do depoimento, mas deve
ser ouvido novamente pelos deputados na semana que vem.
Apesar de vários processos, ele
não foi condenado. Segundo a
CPI, ele pode ter se beneficiado do
suposto esquema envolvendo policiais e membros do Judiciário.
Em 1997, Chong recebeu o título
de Cidadão Paulistano pela Câmara Municipal. A indicação foi
do ex-vereador e deputado cassado Hanna Garib, acusado de chefiar um suposto esquema de cobrança de propina a camelôs. "Ele
é apenas um amigo pessoal", disse o empresário.
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