São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

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PF quebra sigilo de subprefeitura da Sé e diz que se enganou

Subprefeito Andrea Matarazzo é ligado a Serra; polícia afirma que intenção era obter dados de celular de mulher de Freud

Números dos dois aparelhos se diferenciam por apenas um dígito; telefone de Simone Godoy não teve o sigilo quebrado até hoje

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

LEONARDO SOUZA ENVIADO ESPECIAL A CUIABÁ Um telefone celular da Subprefeitura da Sé teve o seu sigilo quebrado no inquérito da Polícia Federal que investiga a negociação para a compra do dossiê contra candidatos do PSDB. O órgão municipal é comandado pelo coordenador das subprefeituras de São Paulo, Andrea Matarazzo, homem de confiança do governador eleito José Serra (PSDB).
Integrantes da Polícia Federal que investigam o caso dizem que ocorreu um erro de digitação. No lugar de solicitar à Justiça autorização para a obtenção de informações do celular de Simone Godoy, mulher do ex-assessor da Presidência Freud Godoy, a Polícia Federal pediu a quebra do sigilo do aparelho da subprefeitura.
O nome de Freud surgiu logo no começo das investigações sobre o caso como sendo suspeito de ter ordenado a compra do dossiê.
No dia 2 de outubro, a PF solicitou a quebra do sigilo telefônico dele e de mais 23 números com os quais Freud trocara telefonemas na época da negociação do dossiê. Entre eles, havia um celular em nome de Simone Godoy. No lugar do telefone dela, esses integrantes da PF afirmam que encaminharam à Justiça um celular da Subprefeitura da Sé, com um dígito de diferença no número. A Justiça autorizou a quebra.
Na noite de sexta, a Folha ligou para o número de Simone e a ligação foi atendida pelo próprio Freud que confirmou ser o telefone dela, mas não quis dar mais declarações.
Segundo a Folha apurou, até hoje a PF permanece sem os dados do sigilo telefônico de Simone. Já os dados do celular da subprefeitura estão no inquérito da PF e nos arquivos enviados à CPI dos Sanguessugas.
Procurado pela Folha, o delegado responsável pelo inquérito, Diógenes Curado, disse que verificaria se realmente houve erro na semana que vem.
No documento em que pede a quebra do telefone da subprefeitura, Curado usa redação idêntica à usada no pedido de quebra de sigilo do dia 24 de setembro, quando incluiu dois números da Folha.
"É imperiosa (...) a adoção de medidas que permitam a quebra do sigilo telefônico de todos os terminais suspeitos e a identificação dos que mantiveram contatos com estes", diz o ofício da quebra.
Curado pede ainda no documento que "um número restrito de policiais tenha, pelo menos nessa fase inicial até o final do mês de outubro, autorizações "em aberto" para fazerem consultas de dados cadastrais de terminais fixos e celulares, desde que vinculado aos terminais constantes dos extratos telefônicos já obtidos".
A Folha ligou na quarta-feira para o telefone que teve o sigilo quebrado. Uma pessoa de nome Jaime atendeu e repassou para uma pessoa de nome Luíza, que se identificou como coordenadora de um setor da Subprefeitura da Sé. Informada sobre o teor da reportagem, ela encaminhou o caso para a assessoria de imprensa do órgão, que o repassou para a assessoria de imprensa de Andrea Matarazzo.
O secretário afirmou, por meio da assessoria, que ficou "surpreso" com a informação e que vai mandar averiguar o episódio. Segundo a assessoria, o celular está desde março em posse de um funcionário da subprefeitura que coordena uma equipe de rua responsável por serviços como tapar buracos e consertar muros. Segundo o órgão, a conta do celular vem sempre dentro de um padrão normal de uso e nunca teria ultrapassado a cota. A assessoria afirmou que aguardará o fim das investigações da PF para adotar providências.
A quebra do sigilo do telefone reúne 1.491 ligações feitas e recebidas entre 1º de agosto e 30 de setembro.


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