|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Especialistas criticam aprovação de 316 mil
Mesmo professores de administração pública que defendem aumento do funcionalismo dizem que concurso da Chesf é ruim
"Isso não tem a menor lógica", afirma especialista da FGV; "fazer essa coisa absurda não leva a nada", declara professor da UnB
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O concurso da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São
Francisco) deu um susto em especialistas em administração
pública e reacendeu a discussão
sobre a necessidade de contratar ou não mais servidores para
as estatais.
Todos pediam para a reportagem repetir o número de
aprovados e, apesar das diferenças entre eles, afirmaram:
316 mil pessoas para cadastro
de reserva mostra incompetência e reforça a idéia de que o Estado, incluindo suas empresas,
engatinha no processo de modernização da gestão.
"Isso não tem a menor lógica", afirma Nelson Marconi, especialista em administração
pública e professor da FGV.
"Cria uma falsa expectativa, jamais a companhia vai contratar
tantas pessoas." Ele trabalhou
com o ministro Luiz Carlos
Bresser-Pereira na pasta da Administração Federal e Reforma
do Estado, durante o primeiro
mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998).
O objetivo do ministério foi,
segundo Bresser, aumentar a
eficiência do Estado por meio
de uma "reforma gerencial". Isso significa, em linhas gerais,
contratar funcionários públicos de nível superior, criando
uma burocracia qualificada e
bem paga, e cortar despesas
com pessoal em outras áreas.
Os cargos de nível médio, como auxiliares administrativos,
seriam preenchidos por empregados terceirizados -sem
os mesmos direitos do funcionalismo público, como a estabilidade no emprego. Nas empresas estatais (Petrobras e Chesf,
por exemplo), a maior parte das
contratações é por concurso,
pela CLT. Ao longo dos anos,
contudo, a estabilidade virou
costume nessas companhias.
Bresser não quis comentar o
caso Chesf. A especialidade dele é a administração direta. O
ex-ministro ressaltou que o governo do presidente Lula, embora lento, segue a reforma iniciada sob FHC.
"O governo Lula está fazendo
devagar, mas está fazendo. Não
dá para engavetar. No mundo
todo os governos buscam ser
mais eficientes", afirma.
Uma das medidas do PAC
(Plano de Aceleração do Crescimento) enviadas à Câmara
pelo governo federal limita os
gastos com pessoal. Nos últimos anos, o Planalto teve de ceder a pressões do Ministério
Público e abrir concurso para
substituir os terceirizados no
governo FHC por servidores.
Marconi afirma que um passo importante a ser dado pelo
governo é regulamentar a avaliação de desempenho dos funcionários públicos, medida parada desde o governo FHC.
Contratar mais
No começo de outubro, o
presidente Lula afirmou que
choque de gestão é contratar
mais funcionários públicos
porque o Estado não teria, hoje,
capacidade de atender a população como deveria.
José Matias Pereira, professor da pós-graduação em administração pública da UnB, concorda com Lula. "No governo
FHC, algumas áreas foram privilegiadas e outras, esvaziadas.
Lula está contratando, mas ainda não está no patamar necessário para o país."
Matias afirma que o Brasil
tem pouco mais de seis funcionários públicos para cada cem
pessoas. Nos EUA, esse número sobe para 18. Na Europa, a
média é de 25 servidores para
cada 100 cidadãos. "Não é inchar o Estado, e sim discutir o
que está faltando."
Matias também critica o concurso da Chesf. "A administração pública tem que trabalhar
com métodos da racionalidade
privada", afirma. "Fazer essa
coisa absurda não leva a nada e
prejudica a imagem do Estado."
O professor Frederico Lustosa, coordenador do Programa
de Estudos em Reforma do Estado e Governança da FGV,
concorda com Matias: é preciso
contratar mais gente e o processo da Chesf é ruim.
"É um processo muito mal
feito", afirma ele. "Mas é bom
dizer que não terá impacto nas
finanças públicas, porque é um
cadastro de reserva."
Texto Anterior: Imagem motivou as inscrições, afirma diretor Próximo Texto: Frases Índice
|