São Paulo, segunda-feira, 12 de novembro de 2007

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Rio e SP mantêm desigualdade, diz estudo

Análise indica que as duas maiores regiões metropolitanas do Brasil ficam fora da lenta queda na concentração de renda do país

Para economista, as duas regiões, por serem as mais industrializadas, foram as mais atingidas pela política econômica dos anos 90

Rafael Andrade/Folha Imagem
Victoria Ramos, 32, na sala que era usada como capela na antiga fábrica Confiança, no Rio


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de ainda ser pouco para comemorar, o Brasil vem conseguindo reduzir sua desigualdade desde 1995, num movimento que se acelerou, principalmente, a partir de 2001. Uma análise feita pelo Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade) mostra, no entanto, que as duas principais regiões metropolitanas do país ficaram de fora desse processo.
Ao trabalhar com os dados de rendimento domiciliar per capita da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, o economista André Urani percebeu que, enquanto a diminuição da desigualdade em todo o país foi lenta, mas constante, as regiões metropolitanas do Rio e de São Paulo chegaram a 2006 com praticamente os mesmos níveis de concentração verificados em 1995, apesar das oscilações.
Não bastasse a falta de melhoria significativa na desigualdade, Urani -em estudo para o projeto Rio Além do Petróleo, financiado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis- constatou também que a renda per capita média dos domicílios teve queda de 6% na região metropolitana de São Paulo no período. Na região metropolitana do Rio, houve aumento de 10% e, em todo o Brasil, de 13%.
Para o economista, esses e outros dados mostram que as duas principais metrópoles brasileiras, que já foram vanguarda do desenvolvimento econômico do país, hoje representam um freio. "Quando analisamos os dados de pobreza, desigualdade, desemprego ou renda, verificamos que, em todos eles, Rio e São Paulo estão avançando de forma mais lenta do que no resto do país."
Na sua avaliação, uma das razões que explicam por que as duas metrópoles não acompanham o resto do país é que o modelo econômico adotado a partir da década de 90 -de manutenção da inflação sob controle com uma política de juros altos que freou o desenvolvimento- foi mais prejudicial para essas duas regiões, que concentravam as indústrias.
"O modelo desenvolvimentista do passado transformou nossa economia, que saiu de um padrão rural para se tornar urbana, com o crescimento de uma classe média concentrada no eixo Rio-São Paulo, carro-chefe dessa transformação. Quando esse modelo começa a ser desmanchado, são essas metrópoles que vão sofrer mais", diz o autor do estudo.
Ele lembra também que uma parte significativa dos empregos industriais migraram para o Nordeste. De um lado, esse movimento é positivo por ajudar a reduzir as desigualdades regionais. O desafio, na opinião de Urani, é que é preciso agora oferecer outra alternativa às metrópoles.
"Não dá mais para imaginar que o futuro de São Paulo ou do Rio seja o de voltar a atrair grandes indústrias para a região do ABC ou para o subúrbio. Muitas metrópoles no mundo passaram por crises semelhantes e souberam se reinventar. É essa a discussão que precisamos fazer no Brasil. Não avançar na resolução dos problemas das nossas metrópoles é ruim não apenas para elas, mas porque isso atrapalha o desenvolvimento nacional."


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