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PF retoma investigação do caso Dorothy
Taradão, suspeito de envolvimento na morte da missionária, se reuniu com o Incra para pedir a posse de área onde aconteceu o crime
Para promotor, pedido causa reviravolta no caso; acusado não foi encontrado, mas sua mulher diz que o objetivo era formar assentamentos
BRENO COSTA
DA AGÊNCIA FOLHA
A Polícia Federal anunciou
que vai abrir inquérito hoje para apurar o conteúdo da ata de
uma reunião realizada no fim
de outubro entre o fazendeiro
Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, e o chefe da unidade do
Incra em Altamira (PA).
Regivaldo é acusado de ser
um dos mandantes da morte da
missionária Dorothy Stang, em
fevereiro de 2005, em Anapu
(750 km de Belém). Ele chegou
a ser preso, mas responde ao
processo em liberdade.
No encontro, ocorrido no dia
28 de outubro e que durou 40
minutos, Regivaldo, segundo a
ata do encontro, declarou como
sua uma área de 2.500 hectares
dentro do lote 55 (de 3.000
hectares) da Gleba Bacajá, dentro do município de Anapu.
Regivaldo disse, segundo a
ata, que "realizou benfeitorias
no mencionado lote e que tem
como provar que essa terra não
é grilada". Foi nesse lote que
Dorothy foi assassinada. Ela
coordenava um projeto de desenvolvimento sustentável
com assentados na área, que
era cobiçada por pecuaristas.
Os ministérios públicos Federal e Estadual, além da CPT
(Comissão Pastoral da Terra),
interpretaram a declaração registrada em ata como uma real
possibilidade de guinada no caso -que já teve outro acusado
de encomendar o crime absolvido, o fazendeiro Vitalmiro
Bastos de Moura, o Bida.
Regivaldo sempre sustentou
que havia passado a posse da
área para Bida e que não tinha
mais qualquer relação ou interesse no lote 55. Por isso, não tinha motivo para encomendar a
morte de Dorothy. A ata, no entanto, o contradiz. O promotor
Édson Souza disse que a ata
"vem reforçar aquilo que ele
[Regivaldo] sempre negava" e
que vai aguardar a conclusão do
inquérito policial para anexá-la
aos autos do processo judicial.
A reportagem tentou contato
ontem com Regivaldo e com o
advogado dele, mas eles não ligaram de volta. A mulher de
Regivaldo, Rosângela Galvão,
disse que o encontro foi motivado por um pedido feito por
assentados do lote 55. A advogada da CPT, Élcia Betânia, disse que apenas dois assentados
em um universo de 30 famílias
acompanharam Regivaldo.
Na reunião, de acordo com a
ata, Regivaldo propôs, sem sucesso, a troca de uma área de
2.500 hectares de vegetação,
que disse ser sua, por uma outra de pasto de 500 hectares, no
mesmo lote 55. Segundo Rosângela, essa proposta era para
que fazendeiros da região doassem parte de suas terras para a
promoção de assentamentos.
O procurador Alan Mansur
disse que a investigação vai
apurar o envolvimento de Regivaldo com o lote 55 e a eventual
negociação de terras públicas.
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