São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2008

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PF retoma investigação do caso Dorothy

Taradão, suspeito de envolvimento na morte da missionária, se reuniu com o Incra para pedir a posse de área onde aconteceu o crime

Para promotor, pedido causa reviravolta no caso; acusado não foi encontrado, mas sua mulher diz que o objetivo era formar assentamentos


BRENO COSTA
DA AGÊNCIA FOLHA

A Polícia Federal anunciou que vai abrir inquérito hoje para apurar o conteúdo da ata de uma reunião realizada no fim de outubro entre o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, e o chefe da unidade do Incra em Altamira (PA).
Regivaldo é acusado de ser um dos mandantes da morte da missionária Dorothy Stang, em fevereiro de 2005, em Anapu (750 km de Belém). Ele chegou a ser preso, mas responde ao processo em liberdade.
No encontro, ocorrido no dia 28 de outubro e que durou 40 minutos, Regivaldo, segundo a ata do encontro, declarou como sua uma área de 2.500 hectares dentro do lote 55 (de 3.000 hectares) da Gleba Bacajá, dentro do município de Anapu.
Regivaldo disse, segundo a ata, que "realizou benfeitorias no mencionado lote e que tem como provar que essa terra não é grilada". Foi nesse lote que Dorothy foi assassinada. Ela coordenava um projeto de desenvolvimento sustentável com assentados na área, que era cobiçada por pecuaristas.
Os ministérios públicos Federal e Estadual, além da CPT (Comissão Pastoral da Terra), interpretaram a declaração registrada em ata como uma real possibilidade de guinada no caso -que já teve outro acusado de encomendar o crime absolvido, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida.
Regivaldo sempre sustentou que havia passado a posse da área para Bida e que não tinha mais qualquer relação ou interesse no lote 55. Por isso, não tinha motivo para encomendar a morte de Dorothy. A ata, no entanto, o contradiz. O promotor Édson Souza disse que a ata "vem reforçar aquilo que ele [Regivaldo] sempre negava" e que vai aguardar a conclusão do inquérito policial para anexá-la aos autos do processo judicial.
A reportagem tentou contato ontem com Regivaldo e com o advogado dele, mas eles não ligaram de volta. A mulher de Regivaldo, Rosângela Galvão, disse que o encontro foi motivado por um pedido feito por assentados do lote 55. A advogada da CPT, Élcia Betânia, disse que apenas dois assentados em um universo de 30 famílias acompanharam Regivaldo.
Na reunião, de acordo com a ata, Regivaldo propôs, sem sucesso, a troca de uma área de 2.500 hectares de vegetação, que disse ser sua, por uma outra de pasto de 500 hectares, no mesmo lote 55. Segundo Rosângela, essa proposta era para que fazendeiros da região doassem parte de suas terras para a promoção de assentamentos.
O procurador Alan Mansur disse que a investigação vai apurar o envolvimento de Regivaldo com o lote 55 e a eventual negociação de terras públicas.


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