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Futuros cadetes do Exército escolhem Médici como patrono da turma deste ano
DA SUCURSAL DO RIO
Na noite de sábado, horas antes da morte de Augusto Pinochet, o general que comandava
a ditadura no Brasil quando o
chileno ascendeu ao poder em
1973 foi homenageado pela futura elite militar do país.
A turma de formandos deste
ano da Escola Preparatória de
Cadetes do Exército intitulou-se "General Emílio Garrastazu
Médici" e o celebrou como patrono. Médici (1905-1985) foi
presidente de 1969 a 1974, período mais duro do regime militar, quando a tortura se tornou
instrumento determinante no
combate à oposição.
A formatura reuniu mais de
400 alunos na sede da escola,
em Campinas (SP). No ano que
vem, eles começam a cursar a
Academia das Agulhas Negras,
passagem obrigatória dos futuros generais e outros oficiais.
Em texto na internet, um dos
futuros cadetes qualificou Médici como "estadista". Escreveu
que ele deixou "exemplos de
nobreza de caráter, coerência
de atitudes, patriotismo, humildade, honradez e generosidade". Não houve formando
orador no sábado.
O Clube Militar -reduto de
oficiais da reserva e reformados- elogiou a escolha do general que "soube conduzir o
país com firmeza e equilíbrio,
levando-o a atingir os mais altos índices de desenvolvimento
registrados em nossa história".
"Lamento profundamente",
reagiu a presidente do Grupo
Tortura Nunca Mais-RJ, Elizabeth Silveira e Silva: "Fico triste que um pessoal tão novo não
tenha feito a leitura do que representou a permanência de
Médici no poder. A tortura era
uma política de Estado".
Em nota, o Exército afirmou
que a escolha do nome "foi uma
decisão da turma de formandos
e respeitada de acordo com a
prática e a efetivação dos valores democráticos vigentes e
cultuados pelo Exército Brasileiro". Sobre Pinochet, a Força
não quis se pronunciar, "uma
vez tratar-se de personagem da
história do Chile".
O ministro-chefe da Secretaria dos Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, preso político durante a ditadura, disse preferir
"não comentar".
Para Celso Castro, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas e autor do clássico estudo
antropológico "O Espírito Militar", a nomeação do patrono é
quase sempre escolha do comando, não dos alunos. "Reflete a mentalidade do comando, e
não dos alunos."
(MM)
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