São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 2006

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Futuros cadetes do Exército escolhem Médici como patrono da turma deste ano

DA SUCURSAL DO RIO

Na noite de sábado, horas antes da morte de Augusto Pinochet, o general que comandava a ditadura no Brasil quando o chileno ascendeu ao poder em 1973 foi homenageado pela futura elite militar do país.
A turma de formandos deste ano da Escola Preparatória de Cadetes do Exército intitulou-se "General Emílio Garrastazu Médici" e o celebrou como patrono. Médici (1905-1985) foi presidente de 1969 a 1974, período mais duro do regime militar, quando a tortura se tornou instrumento determinante no combate à oposição.
A formatura reuniu mais de 400 alunos na sede da escola, em Campinas (SP). No ano que vem, eles começam a cursar a Academia das Agulhas Negras, passagem obrigatória dos futuros generais e outros oficiais.
Em texto na internet, um dos futuros cadetes qualificou Médici como "estadista". Escreveu que ele deixou "exemplos de nobreza de caráter, coerência de atitudes, patriotismo, humildade, honradez e generosidade". Não houve formando orador no sábado.
O Clube Militar -reduto de oficiais da reserva e reformados- elogiou a escolha do general que "soube conduzir o país com firmeza e equilíbrio, levando-o a atingir os mais altos índices de desenvolvimento registrados em nossa história".
"Lamento profundamente", reagiu a presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-RJ, Elizabeth Silveira e Silva: "Fico triste que um pessoal tão novo não tenha feito a leitura do que representou a permanência de Médici no poder. A tortura era uma política de Estado".
Em nota, o Exército afirmou que a escolha do nome "foi uma decisão da turma de formandos e respeitada de acordo com a prática e a efetivação dos valores democráticos vigentes e cultuados pelo Exército Brasileiro". Sobre Pinochet, a Força não quis se pronunciar, "uma vez tratar-se de personagem da história do Chile".
O ministro-chefe da Secretaria dos Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, preso político durante a ditadura, disse preferir "não comentar".
Para Celso Castro, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas e autor do clássico estudo antropológico "O Espírito Militar", a nomeação do patrono é quase sempre escolha do comando, não dos alunos. "Reflete a mentalidade do comando, e não dos alunos." (MM)


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