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Arrozeiros vão manter plantações em reserva
Produtores de RR afirmam ter esperança de que os oito ministros do STF que já votaram pela saída deles da área mudem voto
Rizicultores, que só devem deixar terra após decisão final do Supremo, querem indenização de R$ 90 mi, mas Funai pagou R$ 2,2 mi
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA,
NA RAPOSA/SERRA DO SOL (RR)
Um dia após ministros do
STF (Supremo Tribunal Federal) terem votado a favor da retirada dos produtores de arroz
da reserva indígena Raposa/
Serra do Sol, em Roraima, os fazendeiros afirmaram que vão
continuar plantando.
A Folha falou ontem com
quatro dos sete rizicultores que
deverão deixar a terra indígena
se a votação for mantida. Todos
disseram que continuarão a
produzir enquanto puderem. O
arroz plantado agora poderá
ser colhido a partir de abril.
"Eu vou plantar. Tenho funcionário que trabalha comigo
há dez anos. Vou fazer o quê?
Mandar todos embora? E a família desse povo faz o quê?",
disse o gaúcho Ivo Barili, que
está em Roraima há 28 anos.
Ele disse empregar atualmente
cerca de 40 pessoas.
Anteontem, 8 dos 11 ministros votaram pela manutenção
da demarcação contínua da
terra indígena com ressalvas. O
julgamento foi suspenso com o
pedido de vista do ministro
Marco Aurélio Mello e deve ser
concluído no início de 2009.
A reação dos produtores à
votação no STF é de revolta e
de indignação. Alguns têm esperança de que os ministros
mudem seus votos quando o
julgamento for retomado.
"Vamos pensar no que fazer,
mas, a princípio, não vamos
sair. Só aqui em Roraima que
não se tem direito à propriedade, pois foi o Incra que vendeu
esta área. Você viu alguém
mencionar isso ontem [anteontem, no julgamento]?",
questionou Ivalcir Centenaro,
que está em Roraima há 28
anos. "Pagamos impostos todos os anos e agora somos chamados de invasores."
O paranaense Nelson Itikawa, que preside a associação
dos arrozeiros e também está
há mais de 28 anos no Estado,
disse esperar mudança nos votos. "O ministro Marco Aurélio
vai aprofundar [o estudo do caso] e deve expor a realidade do
Estado. Os ministros que já votaram podem modificar seus
votos. Nada é impossível."
O gaúcho Paulo César Quartiero, que está em Roraima há
32 anos, disse que está terminando o plantio na próxima semana. "Estamos plantando e
vamos colher. Até maio, temos
500 mil sacos para retirar."
A reportagem percorreu ontem a lavoura de arroz da fazenda Depósito, uma das duas
propriedades de Quartiero
dentro da terra indígena. Na
área -a mesma onde dez indígenas foram feridos em maio
deste ano após invadi-la- a
plantação se estende por centenas de metros, como um
grande tapete verde. Parte deve
começar a ser colhida em cerca
20 dias. Outras áreas foram semeadas recentemente.
Os funcionários da fazenda
estão proibidos de dar declarações pelo rizicultor. Um deles
afirmou, no entanto, que, depois da votação de anteontem,
já espera ser demitido. "Nem
sei o que vou fazer", disse.
Os produtores esperam também o julgamento de uma ação
sobre o valor pago pelo governo
como indenização. Eles querem acima de R$ 90 milhões,
segundo avaliações de peritos
contratados por eles. A Funai
(Fundação Nacional do Índio)
pagou R$ 2,2 milhões, já depositados na Justiça, pelas benfeitorias instaladas na área.
Colaborou MARLENE BERGAMO, enviada
especial à reserva Raposa/Serra do Sol
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