São Paulo, sábado, 12 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GOVERNO x OPOSIÇÃO
Candidato petista afirma que governo errou ao criar a "ilusão" de que Plano Real resolveria tudo
País entrará em "efervescência', diz Lula

da Sucursal de Brasília

Luiz Inácio Lula da Silva, candidato derrotado à Presidência da República em 94 e 98 pelo PT, previu ontem, em entrevista à Folha, que o país vai entrar rapidamente numa "efervescência social de grandes proporções" se não houver solução para os problemas econômicos.
Na sua opinião, um dos principais erros do governo "foi criar a ilusão de que o Real resolveria tudo".
O resultado, segundo o petista, "é o desemprego brutal que vem por aí".
Na sua opinião, o governo não fez os ajustes que precisaria fazer, "ficou refém da agiotagem internacional e tudo o que arrecada é para pagar juros".
˛
Caribe
Se foi duro ao falar de economia, Lula manteve o tom cauteloso em relação ao grampo no BNDES e principalmente sobre uma suposta conta do presidente Fernando Henrique Cardoso e de outros líderes tucanos nas Ilhas Cayman, no Caribe.
"Não interessa a ninguém vincular a imagem do presidente da República a denúncias não comprovadas", disse ele, na liderança do PT na Câmara dos Deputados em Brasília.
"O processo de denuncismo não é bom para ninguém. Acho que todo mundo está sendo culpado até que prove o contrário. Para mim, todo mundo continua inocente até que se prove o contrário", declarou.
O petista se disse convencido de que "ninguém lucra, nem a oposição, se insistirem em banalizar denúncias a torto e a direito".
Por isso, disse que sua decisão de desprezar o chamado "dossiê Cayman" durante a campanha eleitoral foi uma "questão de responsabilidade".
˛
Processo
Ao lembrar que está sendo processado pelo governo FHC por dizer que houve "maracutaias" no processo de privatização das telecomunicações, Lula abordou sob dois ângulos a questão do grampo no BNDES.
De um lado, disse que o presidente da República deveria suspender todo o processo até que ficasse evidente que tudo foi feito de forma transparente e clara. Do contrário, tudo deveria ser revisto.
"Até porque o consórcio vencedor do leilão da Tele Norte Leste (o consórcio Telemar) nem tinha dinheiro para pagar e tocar aquilo tudo", ressaltou.
"As fitas foram só sobre a Tele Norte Leste. E os outros leilões? Será que também não houve favorecimentos?", indagou o petista.
De outro lado, Lula cobrou uma apuração profunda sobre os responsáveis pelo grampo que gerou a crise, um crime tipificado em lei.
"Hoje foi contra eles (o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros e o ex-presidente do BNDES André Lara Resende). Amanhã pode ser contra qualquer um de nós", declarou o ex-candidato.
"Se até telefone do ministro das Comunicações é grampeado, imaginem o do pobre Lulinha aqui", disse, rindo.
(ELIANE CANTANHÊDE)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.