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2002 SEM RUMO
Estudo encomendado a Bresser Pereira ataca postulados da era FHC
Tucano abre nova crise com
crítica à política econômica
MARTA SALOMON
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mal os tucanos conseguiram assumir o ministro José Serra (Saúde) como pré-candidato ao Planalto, acharam um outro bom
motivo para acirrar os ânimos no
partido do presidente Fernando
Henrique Cardoso: o destino da
política econômica do governo.
No palanque, o discurso tucano
será de total compromisso com a
manutenção da atual política econômica. Nos bastidores, a história
não é bem assim.
""O grande desafio que a política
macroeconômica brasileira enfrenta hoje é sair desse ponto de
equilíbrio perverso. (...) A taxa de
juros é aberrantemente elevada. O
equilíbrio é instável, e a situação,
inviável no longo prazo", escreveu o economista tucano Luiz
Carlos Bresser Pereira em colaboração ao programa de governo do
partido encomendada pelo presidente do PSDB, José Aníbal.
Com as palavras acima e mais
algumas outras, o economista
atacou o principal instrumento de
política econômica do governo no
momento: as altas taxas de juros.
Para Bresser, as taxas podem segurar a inflação e continuar
atraindo capital externo para o
país fechar suas contas, mas fará
isso a um preço alto demais, brecando o crescimento da economia e tornando cada vez mais cara a dívida do país a ponto de criar
a suspeita de que o Brasil não poderia honrar os pagamentos.
É o que a oposição e economistas ligados aos demais partidos da
base aliada já diziam publicamente. Na ponta da caneta de um tucano, a crítica deu início a uma
nova crise.
O documento de 31 páginas intitulado ""Uma estratégia de desenvolvimento com estabilidade", produzido em dupla com o
economista Yoshiaki Nakano,
ambos professores de economia
da Fundação Getúlio Vargas de
São Paulo, abriu uma guerra interna no partido e levantou uma
polêmica que FHC e Serra gostariam de manter adormecida.
A polêmica não é nova no governo FHC, já pôs em confronto
antes as duas principais correntes
que disputaram o poder na economia. A primeira, de economistas ligados à PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro, tem o ministro Pedro Malan como principal expoente no
governo e, fora dele, o economista
Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real e atual presidente da Andib (Associação Nacional dos
Bancos de Investimento), como
principal artilheiro. O segundo
grupo é mais identificado com os
tucanos paulistas e Serra.
Durante o primeiro mandato de
FHC (1995-1998), os dois grupos
brigaram muito a propósito da
política cambial. Na época, Luiz
Carlos Bresser Pereira ocupava o
Ministério da Administração e fazia coro com Serra na defesa da
desvalorização do real, que só
veio em janeiro de 1999.
O documento de Bresser fala em
dólar a R$ 3 em 2003, primeiro
ano de mandato do sucessor, e redução de 40% das taxas de juros
-essa última feita de forma gradual. As metas da "nova política
econômica" que propõe seriam o
crescimento da economia de pelo
menos 5% ao ano e o crescimento
das exportações de cerca de 15%
ao ano. Bresser classifica o produto da era FHC de "quase estagnação" econômica.
"As modestas taxas de crescimento e o acúmulo de passivo externo de mais de US$ 200 bilhões
tornam insustentável a manutenção desse modelo, comprometendo ainda mais o futuro", diz ainda
o texto.
O presidente do PSDB, que havia encomendado o trabalho a
Bresser, decretou silêncio sobre o
debate. Combinou um contra-ataque com Edmar Bacha, que
enviou a Bresser uma carta contestando suas propostas, com cópia ao próprio José Aníbal.
"Há um compromisso total de
manter a política econômica em
vigor, mas essa política não é uma
coisa estática, é um processo",
disse Aníbal, que pretende produzir até março um caderno com o
resultado do debate.
Seu limite já ficou claro: "Debater faz bem, mas dizer que é outra
coisa [outra política econômica",
isso coisa nenhuma".
Outra discussão que angustia os
tucanos atende pelo nome de política industrial. Bresser defende
incentivos públicos a empresas
exportadoras e que substituam
importações.
"Essa proposta nada tem a ver
com a ingênua política de liberalizar e tirar o Estado da economia,
abrindo [o país" às importações e
ao fluxo de capital externo e privatizando empresas públicas,
pois "o resto será feito pelo mercado". Somente a ação do Estado poderá criar condições para que as
empresas brasileiras tenham
acesso a recursos", diz outro trecho do documento.
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