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Economista diz que pensa "parecido" com Serra
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O economista Luiz Carlos Bresser Pereira adianta que o ministro
José Serra (Saúde) é seu candidato
ao Planalto. Então colegas na Esplanada, os dois fizeram dobradinha nas críticas à política econômica no primeiro mandato de
Fernando Henrique Cardoso. Para Bresser, ambos ainda pensam
parecido. E mais: ele acha que sua
estratégia pode ser tocada sem dificuldade por Armínio Fraga, presidente do Banco Central.
Na entrevista a seguir, Bresser
defende o que chama de política
econômica alternativa e afirma
que economia não se faz só com
"escolhas boas":
Folha - Por que tanta reação ao
documento entre tucanos?
Luiz Carlos Bresser Pereira - Eu
duvido que o Arthur Virgílio tenha dito que minha proposta dava suporte técnico às idéias da
oposição. O documento não é
idéia da oposição coisa nenhuma.
O Bacha me mandou uma carta,
ele discorda, é claro. A diferença
entre Bacha e as minhas posições
ficaram claras desde 95, quando o
Pérsio Arida [presidente do Banco Central à época] saiu do governo porque não conseguiu fazer a
desvalorização [do real]. Naquela
época, o Bacha continuava achando que a política estava correta, e
eu achava que estava errada.
Folha - O que o sr. propõe é uma
nova política econômica ou é um
remendo na atual? É só mais do
mesmo, como dizem por aí?
Bresser - Depende de como você
encarar. Nós mostramos que as
taxas de juros podem ser reduzidas, que é importante ter uma taxa de câmbio valorizada. Achamos que o país tem de se desenvolver com recursos próprios, e
não com a poupança externa.
Folha - O documento menciona
que a situação atual é inviável a
longo prazo.
Bresser - Nós não sabemos com
que taxa de câmbio você vai conseguir um superávit comercial suficientemente grande para evitar
o risco de "default" [calote da dívida". E além do equilíbrio a longo
prazo da economia brasileira,
existe um problema de retomada
do desenvolvimento, o Brasil está
há 20 anos semi-estagnado. É impossível crescer a uma taxa maior
com essa taxa de juros.
Folha - Armínio Fraga poderia
conduzir o que o sr. propõe?
Bresser - Sem dúvida, é um homem competente. Um homem
que pensa, que debate.
Folha - E pelo ministro Pedro Malan também?
Bresser - Tenho o maior respeito
pelo Malan, mas, como ele tem
adotado uma posição muito diferente da nossa desde o início do
governo, há um conflito maior.
Folha - Essa estratégia seria assumida pelo Serra?
Bresser - Eu acho que não explicitamente. Porque eu conheço
bem o Serra, e o grau de explicitação que ele dará na campanha não
será tão detalhado. Serra é o meu
candidato e tem de adotar uma
estratégia mais geral.
Folha - Mas ele pensa como o sr.?
Bresser - Eu acho que, em grandes linhas, nós sempre pensamos
muito parecido. O Serra, o Fernando Henrique, o Sérgio Motta.
Folha - Vai ser complicado na
campanha defender incentivo para
indústria com dinheiro público?
Bresser - Isso não é o centro do
documento. Se querem me pôr de
desenvolvimentista versus os modernos, não vai dar. Está muito
claro que a política industrial que
defendemos consiste fundamentalmente em financiar as indústrias com capacidade de exportar
e de substituir importações.
Folha - Não dói a quem defendeu
a privatização dos serviços públicos defender agora dar dinheiro
público a empresas concessionárias para compensar eventuais perdas com uma tarifa menor para segurar a inflação?
Bresser - Essa é uma idéia que
nós tiramos do Sérgio Werlang,
que aprendeu economia com Mário Henrique Simonsen e foi diretor do Armínio Fraga no Banco
Central. Ora, contratamos com as
empresas que foram privatizadas
que elas teriam seus preços indexados. Agora, se vamos cobrar
dos brasileiros isso diretamente
em termos de tarifa ou vamos cobrar isso do contribuinte para não
cobrar em termos de juros no final, é uma coisa a ser estudada.
Esse negócio de doer, dói profundamente você ter de pagar juros tão altos, isso dói muito no
bolso de cada brasileiro e impede
o desenvolvimento do Brasil. Mas
economia não é algo que a gente
possa fazer só com escolhas boas.
Folha - O economista Paulo Rabello de Castro, responsável pelo esboço do programa de Roseana Sarney, prevê um primeiro ano de
mandato do sucessor de FHC difícil,
com economia de guerra.
Bresser - Eu acho exagero porque o trabalho que vem sendo feito na área do ajuste fiscal é notável. Mas é um trabalho como o do
Sísifo, porque você faz um enorme esforço para cortar despesa
pública, mas no dia seguinte
mantém os juros que liquidam
boa parte desse esforço.
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