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CONTAS PÚBLICAS
Débito dos governos estaduais com União aumentou nominalmente 8,63%, ou mais de R$ 20 bi, em um ano
Estados pagam em dia, mas dívida cresce
RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA
Os Estados brasileiros não estão
conseguindo diminuir o valor da
dívida que têm com o governo federal e com o sistema financeiro
nacional, mesmo pagando regularmente todas as parcelas relativas à repactuação dos débitos que
fizeram a partir de 1997.
Levantamento feito pela Agência Folha em relação ao período
de outubro de 2001 e outubro de
2002 mostra que a dívida dos Estados com a União aumentou nominalmente, nesse período, mais
de R$ 20 bilhões (8,63%). O valor
passou de R$ 234,9 bilhões para
R$ 255,2 bilhões, apesar de os Estados terem pago R$ 14 bilhões
nesse período.
O grande problema para os Estados foi o salto registrado no indexador dos contratos com a
União, o IGP-DI (Índice Geral de
Preços-Disponibilidade Interna),
um indicador muito influenciado
pela variação do dólar. No período analisado, o IGP-DI teve alta
de 17,4%, bem acima da variação
do IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo), que foi de
8,45%. Além da correção pelo
IGP-DI, a dívida também está sujeita a juros de 6% a 7,5% ao ano.
Os dados do endividamento são
do Banco Central e revelam a seguinte lógica predominante: como a parcela mensal que os Estados pagam está limitada a determinado teto de sua receita líquida
(que varia entre 11% e 15%), o valor acaba servindo para o pagamento de apenas parte dos juros,
sem amortização do principal.
Segundo o Tesouro, a situação
seria bem pior caso o governo não
tivesse feito a renegociação, já que
os Estados estariam sujeitos aos
juros de mercado, superiores aos
cobrados hoje. Atualmente, os Estados devem aos bancos privados
só uma pequena parte da dívida.
Para Sacha Calmon, professor
de direito tributário da UFMG
(Universidade Federal de Minas
Gerais), os Estados enfrentam
uma "tendência crônica de endividamento" que só será resolvida
com ajustes tributários, incluindo
a reforma do setor, e uma renegociação na qual a União abriria
mão de parte da arrecadação. "A
União é a reunião dos Estados, ela
não pode se colocar como credora
implacável, asfixiando-os", disse.
Calmon argumenta que cabe
aos Estados dar a contrapartida,
que seria aumentar a arrecadação
e abandonar de vez a concessão
de incentivos fiscais a grandes
empresas (a chamada guerra fiscal). "O aumento da dívida dos
Estados é fato. O que eles pagam
não dá para amortizar o principal", conclui. Outra constatação a
que se chegou no levantamento é
a de que o desempenho médio
dos Estados não cumpre a resolução do Senado que estabelece teto
máximo para as dívidas de duas
vezes a receita líquida anual.
O limite deve ser atingido até
2017, mas a resolução determina
uma redução gradual de 6,6% ao
ano. Entre outubro de 2001 e outubro de 2002, a dívida total dos
Estados se manteve em 2,3 vezes a
receita anual de todos eles.
Piores e melhores
Segundo o BC, o Estado que
apresentou a maior evolução em
sua dívida no período foi Santa
Catarina, com aumento de 22,8%.
Questionada na quinta-feira, a Secretaria da Fazenda do Estado
disse que só poderia comentar esse assunto nesta semana.
Em comparação com o PIB, o
Maranhão tem a situação mais
crítica, já que sua dívida corresponde a 56,5% de seu Produto Interno Bruto. O governo maranhense afirmou que "o índice não
preocupa". Segundo a Secretaria
da Fazenda, as contas do Maranhão estão "devidamente equilibradas" e os servidores estão recebendo seus salários em dia.
Alagoas tem a segunda maior
relação dívida/PIB, de 54,2%. O
subsecretário da Fazenda de Alagoas, Evandro Lôbo, afirmou que
a dívida é totalmente administrável, já que a parcela mensal de pagamento está condicionada ao teto de 15% da receita. "O equilíbrio
quanto ao pagamento está mantido até o ano de 2028."
Os únicos Estados que conseguiram diminuir o valor nominal
de suas dívidas, de acordo com
dados do BC, foram o Amazonas
(-2,3%) e o Rio (-11,7%).
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