São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

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RUMO A 2006

Assinaturas favoráveis à formação do Partido Municipalista Renovador foram recolhidas na saída de cultos da igreja

Igreja Universal vai criar partido político

RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO

A Igreja Universal do Reino de Deus iniciou os trabalhos para a criação de um partido político controlado pelos bispos da denominação religiosa, o PMR (Partido Municipalista Renovador).
A Folha apurou que as assinaturas necessárias para a criação do novo partido (cerca de 400 mil) foram colhidas nas portas de templos da Universal, ao final de cultos. A empreitada é dirigida atualmente pelo pastor Vitor Paulo Araújo dos Santos, ligado à igreja.
Santos aparece como requerente do registro provisório do Partido Municipalista Renovador em dois pedidos feitos a Tribunais Regionais Eleitorais em 2004 a que a Folha teve acesso -de São Paulo e de Roraima. Assessores do pastor em São Paulo, procurados pela reportagem, afirmaram que Santos é o "presidente" do PMR -que, no entanto, ainda não teve pedido de registro feito ao Tribunal Superior Eleitoral.
Um político ligado ao PL e à Universal afirma que o partido "cresceu com a entrada da igreja", mas que, depois do inchaço da sigla após a vitória de Lula (elegeu 26 deputados, e agora tem 46), "o PL já pode prescindir da Universal". Politicamente, o partido está maior que a força política da igreja, analisa. Dos 18 deputados eleitos vinculados à Universal, nove pertenciam ao PL.
O partido começou a ser organizado em 2003 pelo deputado federal Carlos Alberto Rodrigues (PL-RJ), ex-bispo da Universal, que se afastou da função após deixar o comando político da igreja, em 2004. Rodrigues foi afastado pela Universal após ser divulgado que havia feito indicações para a Loteria do Estado do Rio de Janeiro quando a autarquia era presidida pelo ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência Waldomiro Diniz -acusado de extorsão e tráfico de influência.
O crescimento do PL (que abriga o maior número de deputados ligados à igreja), que teria diminuído o poder de influência da Universal na sigla, e as resistências de outras legendas a aceitarem seus candidatos estão entre as causas apontadas para a criação da nova sigla.
Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, diz ter sido avisado por Rodrigues. "O bispo Rodrigues começou [a criação]. Ele me falou: "Tenho que fazer um partido". E eu falei: "Tem mesmo, senão o sr. não vai mais conseguir eleger o seu pessoal". Tem que ter um partido de apoio para ter o que oferecer aos outros partidos, senão não vão aceitar vocês mais", afirmou Costa Neto.
Segundo Costa Neto, políticos da denominação "já não estão encontrando lugar" entre os partidos, embora diga que são bem-vindos no PL. Os parlamentares da Universal muitas vezes defendem "os interesses da igreja" e não dos partidos a que estão filiados, diz ainda o presidente do PL.
Segundo um político próximo à Universal, a idéia é que o novo partido faça uma "engenharia política" para atrair outros segmentos da sociedade.
A antropóloga Clara Mafra, professora da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e assessora do Censo 2000 do IBGE para religião, diz que, caso o partido se restrinja à vinculação com a Universal, estará "fadado ao fracasso". Uma instituição de cunho político, diz, "deve ser uma representação alargada da sociedade".


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