São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC critica apoio ao PT e agrava crise entre tucanos

Ex-presidente diz que adesão do PSDB a Chinaglia na Câmara foi "precipitada"

Em contraposição a Serra e a Aécio, tucano defende a reeleição do deputado Aldo Rebelo ou o lançamento de um candidato alternativo


CATIA SEABRA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

Em dissonância com os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso condenou ontem, em nota, a manifestação de apoio do PSDB à candidatura de Arlindo Chinaglia (PT) à presidência da Câmara.
Na nota -em que se refere ao amigo José Serra apenas como "governador de São Paulo"-, FHC defende a reeleição do atual presidente, Aldo Rebelo (PC do B), e até o lançamento de outras candidaturas em detrimento da adesão ao PT.
Ao descrever seu jantar com Aldo Rebelo, FHC conta ter afirmado que, mantida sua candidatura, "não veria como o PSDB pudesse votar no candidato do PT". E que, em caso de cisão na base governista, estariam abertas alternativas para a oposição, "na linha [...] do não-comprometimento com as tantas pizzas do passado recente".
Ele diz ter avisado Serra e Aécio da conversa. "Por isso me surpreendeu a decisão, que considero precipitada, de assegurar ao PT os votos do PSDB, sem discussão política mais profunda sobre implicações e conseqüências", critica FHC.
Segundo a Folha apurou, Serra concorda com a decisão de apoiar o petista, mas discorda da forma como foi tomada.
Embora Serra e o líder do partido na Câmara, Jutahy Magalhães (BA), tenham sido procurados por FHC, parte do partido reclama que o ex-presidente não consultou a legenda a respeito da nota. Segundo tucanos, a pedido de Jutahy, FHC foi consultado por um amigo na manhã do anúncio da decisão do PSDB. Informado de uma tendência em favor de Chinaglia, teria dito que não ficaria constrangido.
Mas, numa demonstração de desarmonia em ninho tucano, aliados de Serra e Aécio criticam com veemência a terceira via defendida por FHC. "Investir na terceira via é criar um vale tudo dentro da Câmara", disse o deputado Nárcio Rodrigues (MG), nome de Aécio para a vice-presidência da Casa.
Jutahy disse que, no PSDB, "não chegam a dez" os defensores de candidatura avulsa: "O conceito da terceira via é antipartido, é antidemocrática".
Segundo Walter Feldman, da tropa serrista, o apoio à proporcionalidade terá "como desdobramento natural, o mesmo comportamento do PT nas Assembléias Legislativas".
Os governadores também avalizaram o anúncio porque almejam uma boa relação com o PT e seus ministros num primeiro momento. "Estamos criando um ambiente de destensionamento", disse Jutahy.

Reação
Descontentes com a adesão a Chinaglia, deputados ligados a FHC e a Geraldo Alckmin anunciarão uma reunião na próxima terça. Eles dirão que não aceitam o acordo e pedirão até a antecipação do congresso do partido de junho para abril.
"Desde o momento em que o PMDB, maior bancada da Câmara, abriu mão de indicar o presidente, a proporcionalidade precisa ser rediscutida", disse Edson Aparecido (SP). Procurados, Serra e Aécio não se manifestaram. Líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio pediu a convocação de uma reunião da Executiva Nacional para decidir a questão.
Chinaglia se recusou ontem a comentar a nota de FHC. "O que eu posso dar é um testemunho da absoluta correção com que o líder Jutahy se portou." O petista disse que não irá visitar o presidente Lula em suas férias no Guarujá.


Colaborou FLÁVIA MARREIRO, da Reportagem Local

Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Ex-presidente diz que decisão o surpreendeu
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.