São Paulo, domingo, 13 de janeiro de 2008

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Pré-campanha aproxima PT e DEM em SP

Para enfraquecer aliança tucano-democrata na corrida pela prefeitura paulistana, petistas até apóiam projetos de Kassab

Para vereador João Antonio, PT não deixou a oposição, mas não podia ser contra "coisas que eram da gestão" da ex-prefeita Marta Suplicy

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
MICHELE OLIVEIRA

DA REPORTAGEM LOCAL

Arquiinimigos em Brasília, petistas e democratas vivem uma inusitada simbiose política nos bastidores da temporada pré-eleitoral em São Paulo: compartilham estratégias e tréguas na Câmara Municipal, trocam afagos em público e assinam como co-autores obras importantes para a cidade.
O combustível dessa relação, que tem data marcada para terminar -na campanha eleitoral-, é o desejo de ver o tucano Geraldo Alckmin enfraquecido na disputa pela Prefeitura neste ano. A aliança PSDB-DEM governa o Estado e a capital. O prefeito democrata Gilberto Kassab, apoiado por parte do PSDB, trava uma disputa ferrenha com Alckmin pelo direito de encabeçar na eleição municipal de outubro uma chapa que repita a aliança vitoriosa.
Na pior das hipóteses para tucanos e democratas, os dois saem candidatos e, dessa forma, devem dividir votos de eleitores pouco simpáticos à ministra Marta Suplicy, principal nome petista. Por isso, o PT decidiu apostar na divisão dos adversários. Na expressão de um petista, o partido caminhou "no fio da navalha" na relação com Kassab, pois não podia deixar de ser oposição ao mesmo tempo em que não trabalharia para desmontá-lo politicamente.
Segundo a Folha apurou, o acordo foi fechado nos bastidores da Câmara e vigorou em votações importantes, como a modificação do ISS e a lei que regulariza áreas municipais invadidas, ambos de interesse do prefeito, e a contratação de estagiários remunerados pelos vereadores, apoiado pelo PT.
Antes, o PT já havia contribuído para aprovar a Lei Cidade Limpa, que tirou a publicidade irregular das ruas da capital e se transformou em bandeira de Kassab. "Eu não diria que o PT deixou de fazer oposição ao prefeito Kassab. Diria que eles fizeram uma oposição consciente, o que acabou sendo bom para a cidade", afirmou o vereador Milton Leite (DEM).
"Não abdicamos de fazer oposição, mas não podíamos ser contra algumas coisas que eram a continuidade da gestão da ex-prefeita Marta", disse o vereador João Antonio (PT).
Levantamento feito pela Folha na Câmara mostra que quatro pedidos de CPI, feitos pelo PT no ano passado, tiveram como alvo a administração Kassab -o mais recente deles foi apresentado em setembro. Nenhum saiu do papel. Já na Assembléia Legislativa o PT pediu oito CPIs contra José Serra (PSDB) desde 2007.

Receita e ajuda
Em junho, Marta Suplicy esteve com Kassab na prefeitura e anunciou que ajudaria a cidade na área do turismo. Desde então, liberou quase R$ 3 milhões para o democrata. Kassab também seguiu o modelo adotado por Marta (2001-2004) ao se relacionar com a Câmara Municipal. Assim como a petista, ele se escorou no grupo que se autodenomina "Centrão" e é formado por PR, PP, PMDB e PTB.
Mas as principais "semelhanças" entre as duas gestões estão nas obras adotadas como prioritárias, a construções dos CEUs (Centros Integrados de Educação) e de grandes hospitais na periferia. "Tudo o que o atual prefeito está fazendo foi licitado na nossa gestão. É claro que isso dificulta um pouco o trabalho de oposição, que tem de ser mais conceitual", disse o vereador Antonio Donato, secretário estadual de Comunicação do PT. Segundo ele, na campanha o PT atacará Kassab.


Colaboraram CATIA SEABRA e EVANDRO SPINELLI , da Reportagem Local

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