São Paulo, quarta, 13 de janeiro de 1999

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CONTAS PÚBLICAS
Presidente nega boatos de demissão de Malan (Fazenda) e Franco (BC)
Dívidas estaduais não vão ser renegociadas, diz FHC

LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Sucursal do Rio

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem no Rio que o acordo da dívida favoreceu os Estados e que não deve reabrir as negociações, como pleiteiam alguns governadores.
"Como o governo não fabrica dinheiro, dinheiro é imposto do povo, não posso dar mais dinheiro do povo àqueles a quem já dei muito. Os Estados que têm problema devem se ajustar."
O presidente admitiu a existência de nova crise envolvendo o país, mas disse que o país está habituado a enfrentar dificuldades e pediu serenidade.
Sem citar Itamar Franco, FHC voltou a criticar o governador de Minas, que anunciou moratória na semana passada e disse que não ficaria como "peru em círculo de giz" -em referência à crença popular de que, embriagado, o animal não deixa a área delimitada.
"Às vezes, palavras ditas sem que tenham a intenção de prejudicar o país acabam prejudicando. Mas isso a gente supera. Não vou ficar aqui como peru em círculo de giz, sempre preso por um momento impensado de outro que não ele."
Havia rumores ontem no mercado financeiro da demissão do ministro da Fazenda, Pedro Malan, e do presidente do Banco Central, Gustavo Franco. Questionado, FHC negou, elogiou o ministro da Fazenda, mas fez menção direta a Franco. "Não existe isso. O ministro Malan é uma pessoa que é essencial para o Brasil", declarou.
O presidente também negou a intenção de realizar uma maxidesvalorização do real, em resposta à crise financeira internacional.
"O mercado pode ficar bastante calmo porque o governo sabe o que vai fazer. Sabe o que está fazendo", afirmou FHC.
FHC esteve no Rio para a inauguração do novo parque gráfico do jornal "O Globo". Em seguida, embarcou para Aracaju. Chegou à capital sergipana às 15h20 e seguiu de helicóptero para a casa do governador Albano Franco (PSDB) na praia do Saco, próxima à divisa com a Bahia, onde descansará por uma semana.
Estava acompanhado do cientista político Leôncio Martins Rodrigues e do chefe do cerimonial da Presidência, embaixador Válter Pecly. A primeira-dama Ruth Cardoso está em Paris. A seguir, asdeclarações de FHC no Rio.

Crise - "Devemos ter serenidade no Brasil. Crise? Nós estamos habituados a ter crises. Não é a primeira vez que nós enfrentamos dificuldades. Mas temos rumo. Temos um país que tem muita gente disposta a trabalhar. Nós temos que pensar grande. Pensar grande é ser humilde".
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Moratória - "A gente não pode imaginar que, por um ato de vontade, com decisões impensadas, as coisas melhorem. (...) Às vezes, palavras ditas sem que tenham a intenção de prejudicar o país acabam prejudicando. Mas isso a gente supera. Não vou ficar aqui como peru em círculo de giz, sempre preso por um momento impensado de outro que não ele".
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Renegociação - "O que o governo federal fez com os Estados? Ele baixou o volume total da dívida, deu subsídio e baixou os juros. O Brasil todo gostaria de ter os juros que os Estados pagam: 6% ao ano, 30 anos de prazo para pagar, ou então, 7,5% ao ano, 30 anos de prazo para pagar. Isso é que o Brasil todo desejaria ter. (...)
Não existe o que reclamar nessa matéria. Dá a impressão, muitas vezes, que o governo federal não está fazendo o que tem que fazer com os Estados. Está. Minas Gerais, por exemplo. Fez uma redução de dívida de quase R$ 2 bilhões nessa renegociação. O que o governo federal fez foi facilitar. (...)
E como o governo não fabrica dinheiro, dinheiro é imposto do povo, eu não posso dar mais dinheiro do povo àqueles a quem já dei muito. Os Estados que têm problema devem se ajustar. (...)
A hora agora é de trabalharmos juntos para baixar a dívida para o povo. Baixar os juros para o povo, para as economias, para as empresas. É isso que eu vou fazer. E vamos ganhar essa parada também".
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Desvalorização e demissão -"Não existe isso. O ministro Malan é uma pessoa, eu já disse ontem e repito aqui, essencial para o Brasil. Tem sempre uma capacidade enorme. Nós vamos levar todos esses problemas, que estão sendo levados, com muita tranquilidade. O mercado pode ficar bastante calmo porque o governo sabe o que vai fazer. Sabe o que está fazendo.Pagaremos as dívidas. Todos honrarão as dívidas. Não pagar dívidas é coisa antiga, que levou o Brasil ao estancamento e à dificuldade do passado. Isso está acabado".
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Papel do empresário - "Empresário (referindo-se a Roberto Marinho como exemplo) é aquele que inova, que cria, que acredita, que ousa, que se joga. Outra coisa é gerenciar. Outra coisa é investir, ganhar dinheiro. São coisas diferentes. O empresário pode ganhar ou pode perder. O que ele não pode é perder a confiança, a determinação e a ousadia".
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Garotinho - "De vez em quando ele (o governador do Rio, Anthony Garotinho) concorda comigo e eu também com ele. E isso é bom. É assim que o Brasil avança. ²


Colaboraram a Sucursal de Brasília e a Redação


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