São Paulo, quarta, 13 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS
O nervo exposto

A antipatia, às vezes rancor, dos meios de comunicação por Itamar Franco -o que em alguns casos tem a ver com interesses não atendidos em seu governo- está atribuindo à moratória mineira efeitos muito maiores do que houve e há no sistema financeiro internacional, e mesmo na ciranda mundial que especula com títulos brasileiros. Mas o resultado involuntário da distorção parece positivo.
A atitude de Itamar e a projeção que lhe foi dada combinaram-se, sem que qualquer das duas tivesse tal finalidade, e exibiram a artificialidade da situação brasileira dada como estável, sob controle do governo e em crise apenas transitória, de mais um trimestre.
Antes da pequena moratória mineira, já os dólares estavam fugindo aos bilhões, mais de cinco só em dezembro. Com isso, os juros foram postos nas alturas e delas não podem descer. O previsto aumento de 11% das exportações, para obtenção de dólares por meios não prejudiciais, acabou sendo mais um erro formidável do governo. O mercado de operações com títulos já estava fechado para os brasileiros. E o retraimento em relação ao Brasil já acontecia, pela constatação de que o ajuste fiscal não avança e, ainda, pelas especulações internacionais de adoção, no Brasil, de sistema monetário equivalente ao da Argentina.
A moratória de Itamar não fez acréscimo fundamental a essa realidade. Com a contribuição dos meios de comunicação, deixou mais exposta, como um nervo, a artificialidade de uma situação nacional que se abala porque um governador diz que suspenderá três prestações da sua dívida. Vale a pena notar bem: o problema foi dizer, porque manter pagamentos em atraso já é prática instituída, generalizada por quase todos os Estados e aceita pelo governo federal.
Como a situação nacional, o que é realidade deveria ficar disfarçado.
²
Marionete
Reação, aqui ao meu lado, à notícia de que Pio Borges estava sendo confirmado na presidência do BNDES: "O Mendonça de Barros voltou".
É isso.
²
Explicação
Estimulante a Folha de ontem: "Crise faz jumento e burro voltar à moda no campo".
Supunha-se que o verão é que estivesse esvaziando tantos gabinetes, naquela cidade.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.