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ELIO GASPARI
A oitava praga do Egito
Itamar Franco coisa nenhuma, o novo fenômeno da política brasileira se chama Celso
Pitta. Poucas vezes a vida nacional produziu um personagem tão grandioso no gênero,
tão transparente nos atos.
Exemplo de vida como a dele,
faz tempo que não se vê. Vendido por Paulo Maluf como a última maravilha do mundo, tornou-se a oitava praga do Egito.
Pitta acaba de impor à população de São Paulo um aumento de 15% nas passagens de ônibus, passando-as de R$ 1 para
R$ 1,15. Seria injusto chamá- lo
de oitava praga do Egito porque aumentou as tarifas.
Afinal de contas, nos últimos
três meses FFHH elevou o pedágio tributário duas vezes.
Pitta aumentou as tarifas em
15% num ano em que, havendo
1,5 milhão de desempregados
na região em que vive, registrou-se uma deflação de 1,79%.
Pior: em 24 meses de governo,
já empurrou um aumento de
56% nos transportes de suas vítimas. Ainda assim, seria injusto chamá-lo de oitava praga do
Egito só por isso. Há seguradoras impondo aumentos de 69%
a clientes sexagenários pelo
simples fato de que se tornaram sexagenários.
Comparar Pitta a essa gente é
uma injustiça. Ele é insuperável.
Aumentar tarifas, para um
administrador como ele, é coisa banal.
Sempre há empresários querendo ganhar algum e nada é
mai$ natural que atendê-los.
Diferencia-se Pitta dos demais
porque é capaz de obrigar cidadãos que não querem aumentar os seus preços a fazê-lo. Há
em São Paulo cerca de 10 mil
peruas e seus proprietários estavam satisfeitos, cobrando R$
1 por viagem. O Grande Pitta
obrigou-os não só a cobrar
mais caro, mas também a cobrar mais caro que os ônibus. O
passageiro que preferia usar as
peruas porque custavam a
mesma coisa e eram mais rápidas tomará um aumento de
50% no preço do seu transporte. Para quem faz duas viagens
por dia ao longo do mês, a conta sairá por R$ 30.
O que são R$ 30 para Celso
Pitta? Mixaria. Ele andou
apertado de dinheiro, e o empresário Jorge Yunes, presidente de honra do PPB, tesoureiro
da campanha eleitoral de Paulo Maluf e cavador de uma cadeira no Senado (era o suplente
de Oscar), emprestou- lhe R$
600 mil. O moço ganha R$
5.000 mensais e tem um patrimônio (bloqueado) de R$ 659
mil. O dinheiro que Yunes emprestou ao prefeito é suficiente
para pagar a perua de um trabalhador durante 547 anos.
Mas quem disse que "chez"
Pitta anda de perua?
Em fevereiro de 1996 aconteceu à sua família um desses imprevistos que mudam o cotidiano das pessoas que andam
de ônibus. Chegou à sua casa
um parenta adoentada. Era
preciso levá-la a consultórios,
esperar, voltar para casa. Talvez sua mulher tenha pensado
em ir para o ponto de ônibus,
mas a verdade é que se materializou um Vectra com motorista. Serviu-a por 17 dias, e o
casal ficou com a impressão de
que se tratara de uma cortesia
da locadora. (Coisa muito comum, o sujeito vem andado pela rua e pára um Vectra com
motorista perguntando se aceita uma cortesia.) A conta ficou
em R$ 6.125,71, mas foi paga
por um banco. (Coisa também
muito comum, o cidadão passa
pela porta de uma agência
bancária e o gerente lhe pergunta se está precisando pagar
alguma conta.)
Pitta é capaz de encantar um
banco a ponto de ele lhe oferecer um mimo equivalente a
5.300 passagens de ônibus, na
tarifa nova, sobrando um troco
para o suco. Isso acontece
"chez" Pitta porque, operando
com os papéis dos precatórios
da prefeitura, o Banco Vetor
ganhara, numa só operação,
R$ 9,36 milhões, dinheiro suficiente para pagar a dívida que
o prefeito tem com o benfeitor
Yunes e andar de ônibus duas
vezes por dia nos próximos
10.400 anos. (Sempre pela tarifa nova.)
Pode ser que se faça injustiça
ao Grande O Pitta. Talvez ele
seja um precursor. Na Argentina uma ONG de plutocratas
paga salários aos ministros.
Nos Estado Unidos, um grupo
de amigos do ex-presidente Ronald Reagan deu-lhe uma casa
de presente. Nas privatizações
do BNDES criou-se uma ONG
para distribuir dinheiro numa
roda de apresentadores de televisão. Mesmo tendo aumentado as tarifas, obrigado os perueiros a cobrar mais caro, recebido dinheiro emprestado de
um amigo e um mimo de um
banco mimado, talvez pudesse
aparecer alguém argumentando que o moço é distraído ao
receber e realista ao cobrar.
Afinal de contas, a prefeitura
não pode gastar mais do que
arrecada. Que tal ver como ele
se comporta na hora de pagar?
Ele se distrai também na hora
de quitar suas contas com a
Viúva. Seu patrimônio não
conferia com as fontes de renda
e no ano passado a Receita Federal multou-o em R$ 81.200.
(Setenta mil passagens de ônibus, com direito a troco.)
Parece que Pitta brigou com o
doutor Paulo Maluf. Logo que
possível, os bombeiros que estão apagando o incêndio das
relações de FFHH com Itamar
Franco deveriam entrar nesse
circuito. É essencial que Celso
Maluf e Paulo Pitta sejam condenados a uma convivência
eterna.
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