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Grampo atingiu ex-amiga de ACM
e mais cinco pessoas ligadas a ela
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Surgiu ontem mais um indício
da ligação do senador Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA) com
o grampo que atingiu mais de 400
telefones na Bahia: sua ex-amiga
Adriane Barreto, que pertencia ao
círculo mais próximo ao senador,
e cinco pessoas ligadas a ela estão
na lista dos grampeados.
Além de Adriane, também tiveram o sigilo telefônico violado seu
atual namorado, Plácido Farias, o
pai dele, César Farias, a ex-mulher
dele, Márcia dos Reis, o irmão dela, Sérgio Reis, e o sócio de Plácido, Manuel Cerqueira.
Os celulares de Adriane e de Plácido, seu namorado, constam da
relação entregue oficialmente ontem ao Ministério da Justiça. "Isso
dá uma conotação muito pessoal
ao grampo. ACM tornou-se altamente suspeito", disse ontem à
Folha o advogado Sérgio Reis,
que é amigo e ex-cunhado de Plácido, com quem fala praticamente
todos os dias ao telefone.
Segundo Reis, "é de domínio
público que Antonio Carlos Magalhães teria tido um namoro
com Adriane, ou algo parecido".
O relacionamento, na opinião de
Reis, cria um vínculo direto entre
a motivação dos grampos e ACM,
que não teria aceitado pacificamente a decisão de Adriane de
passar a namorar Plácido Farias.
Um indicador disso, ainda de
acordo com Reis, é o fato de o jornal de ACM, o "Correio da Bahia", insistentemente publicar reportagens e notas que seriam hostis ao novo namorado da moça,
questionando suas qualificações
profissionais como advogado.
Adriane é filha do desembargador Amadiz Barreto, ex-presidente do Tribunal Regional Eleitoral.
Ele foi candidato a presidente do
Tribunal de Justiça da Bahia com
apoio explícito de ACM e mesmo
assim perdeu para o atual presidente, Carlos Alberto Dutra Cintra. Foi Cintra que entregou ontem a relação ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
A ex-mulher de Plácido, Márcia
dos Reis, disse ontem à Folha que
ela acreditava haver sido grampeada por causa do suposto relacionamento de Adriane com
ACM. "Meu ex-marido é hoje casado com uma pessoa que toda a
sociedade baiana diz que era "caso" do ACM, que é a filha de um
desembargador, Adriane Barreto", disse. "Eu acho que quiseram
saber alguma coisa [sobre Plácido] por meio do meu telefone. Só
pode ter sido isso", diz ela.
Viagem
Márcia, que trabalha como analista judiciária no TRT da Bahia,
diz que, há cerca de um ano, o ex-marido viajou para um spa e lá se
apaixonou por Adriane Barreto.
"Foi um escândalo na Bahia,
justamente porque todo mundo
conhece ela, sabe da história dela.
Eram comentários em todos os
lugares. Tenho uma filha de 14
anos, me vi exposta e quis me ver
livre o mais rápido possível daquela situação." Ela diz que se separou de Plácido em 21 dias.
"Não tenho contato com o Plácido, mas o que a gente sabe é que
a vida dele está completamente liquidada", diz ela, afirmando que
o ex-marido sofreu muitas retaliações no Estado por causa do relacionamento com Adriane.
Outro grampeado, César Farias,
pai de Plácido, afirmou à Folha
que não gostaria de se manifestar,
"por enquanto", sobre o assunto.
Informado de que a ex-nora,
Márcia dos Reis, citara o relacionamento entre Adriane e ACM
como possível motivo para um
grampo, disse: "Se ela [Adriane"
namorava Antonio Carlos, eu não
sei. Agora, que foi grampeada, talvez, por isso, foi. Porque ele
[ACM] reagiu quando os dois
[Plácido e Adriane] ficaram juntos, perseguindo Plácido, essa coisa toda".
"Doa a quem doer"
As crescentes suspeitas sobre
ACM levaram o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT), a
reagir com maior ênfase na apuração de responsabilidades e sob a
justificativa de que o grampo atingiu quatro deputados federais: o
atual líder do PT, Nelson Pellegrino, Geddel Vieira Lima (PMDB),
o atual ministro do Trabalho, Jaques Wagner, e Benito Gama, que
não se reelegeu.
João Paulo pediu ao novo procurador parlamentar, Luiz Antonio Fleury Filho (PTB), que
acompanhe as investigações sobre o grampo. E acrescentou:
"Doa a quem doer".
A frase de João Paulo foi interpretada no Congresso como a decisão do governo de não abafar o
caso dos grampos.
Ao Planalto interessa que os holofotes se voltem para ACM e deixem na sombra as gravações com
conversas de Geddel, eleito primeiro secretário da Câmara com
a mão decisiva do governo. Uma
CPI neste momento, de início de
governo, crise econômica e necessidade de aprovar reformas, é tudo o que o PT não quer.
Colaborou MÔNICA BERGAMO, colunista da Folha
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