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Resgate ético é possível, diz Singer
DA REDAÇÃO
O economista Paul Singer admite que o PT se tornou uma máquina de ascensão social -"não
criamos o partido para resolver o
problema dos petistas"- e que o
poder dos militantes foi "expropriado" pelas pessoas que assumiram cargos eletivos. No entanto, o professor da Faculdade de
Economia e Administração da
USP e atual secretário de Economia Solidária do Ministério do
Trabalho acha que o partido tem
uma obra para mostrar. "O futuro
do PT está em provar que é um
partido respeitável e que pode
continuar a mudar o Brasil." Leia,
abaixo, trechos da entrevista concedida por telefone.
(LB)
Folha - Como fica o PT depois de
perder as bandeiras da ética e do
socialismo?
Paul Singer - Precisa recuperar
as duas bandeiras. No caso do socialismo, a área em que eu trabalho no governo, a economia solidária, vai nessa direção de recuperar o socialismo, de implantar formas socialistas de produção. São
formas diferentes, claro, da antiga
economia centralizada. Já em relação à ética, os fatos do ano passado pegaram os militantes de
surpresa, ninguém sabia dentro
do partido. Por isso acho ruim
quando algumas pessoas do partido dizem que o PT fez o que
sempre foi feito na política brasileira. Isso só pode ser uma reação
de quem está pressionado, mas isso não é o PT. O PT tem de lutar
para não fazer o que os outros
sempre fizeram. Queremos fazer
com que o PT não precise de muito dinheiro para ser um partido
viável. Esse é o desafio que coloca
o aniversário do partido. Houve
uma profissionalização excessiva.
O PT tem de ser um partido de
militantes, que eduque politicamente a população e lute pelos direitos dos mais pobres.
Folha - Isso não parece muito utópico sobretudo em ano eleitoral?
Singer - Essa mudança de partido eleitoral para o partido que
queremos vai ser o tema do encontro nacional do PT. Começamos a perceber apenas recentemente que o próprio sucesso eleitoral gerou grandes mudanças
dentro do partido, que fez o PT
perder algumas de suas principais
características, de sua militância.
Os governadores, os prefeitos
eleitos ganharam muito poder
dentro do PT. Houve uma expropriação do poder dos militantes.
Claro que isso não foi um processo consciente, ninguém planejou
tirar o poder dos militantes. Mas
isso aconteceu. O PT sem militantes ficou descaracterizado.
Folha - Há quem aponte que o PT
sem ideais se tornou apenas uma
máquina de ascensão social de
seus membros. O sr. concorda?
Singer - Eu não aceito que isso
tenha acontecido com o partido.
É algo que aconteceu, mas eu não
quero. Claro que não é um problema que as pessoas tenham melhorado de vida honestamente
por causa do PT, mas não criamos
o PT para resolver o problema dos
petistas. O partido foi criado para
ajudar nas lutas sociais e populares. O fato de o partido ter sido
usado como máquina de ascensão social hoje está mais claro para nós, militantes do PT.
O movimento de refundação do
partido pretende atacar justamente esse problema.
Folha - E os eleitores que hoje se
sentem órfãos do partido?
Singer - Esse é um movimento
que aconteceu, é possível que
continue. Muita gente respeitável
saiu do PT. Mas o PT tem um futuro possível. Não significa voltar
às origens e ser um partido pequeno. Acho que o PT tem uma
obra para mostrar. Mudamos
uma parte do país, uma parte pequena, mas melhoramos o Brasil.
O futuro está em provar que o PT
é respeitável e que pode continuar
a mudar o Brasil para melhor.
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