São Paulo, segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

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Resgate ético é possível, diz Singer

DA REDAÇÃO

O economista Paul Singer admite que o PT se tornou uma máquina de ascensão social -"não criamos o partido para resolver o problema dos petistas"- e que o poder dos militantes foi "expropriado" pelas pessoas que assumiram cargos eletivos. No entanto, o professor da Faculdade de Economia e Administração da USP e atual secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho acha que o partido tem uma obra para mostrar. "O futuro do PT está em provar que é um partido respeitável e que pode continuar a mudar o Brasil." Leia, abaixo, trechos da entrevista concedida por telefone. (LB)
 

Folha - Como fica o PT depois de perder as bandeiras da ética e do socialismo?
Paul Singer -
Precisa recuperar as duas bandeiras. No caso do socialismo, a área em que eu trabalho no governo, a economia solidária, vai nessa direção de recuperar o socialismo, de implantar formas socialistas de produção. São formas diferentes, claro, da antiga economia centralizada. Já em relação à ética, os fatos do ano passado pegaram os militantes de surpresa, ninguém sabia dentro do partido. Por isso acho ruim quando algumas pessoas do partido dizem que o PT fez o que sempre foi feito na política brasileira. Isso só pode ser uma reação de quem está pressionado, mas isso não é o PT. O PT tem de lutar para não fazer o que os outros sempre fizeram. Queremos fazer com que o PT não precise de muito dinheiro para ser um partido viável. Esse é o desafio que coloca o aniversário do partido. Houve uma profissionalização excessiva. O PT tem de ser um partido de militantes, que eduque politicamente a população e lute pelos direitos dos mais pobres.

Folha - Isso não parece muito utópico sobretudo em ano eleitoral?
Singer -
Essa mudança de partido eleitoral para o partido que queremos vai ser o tema do encontro nacional do PT. Começamos a perceber apenas recentemente que o próprio sucesso eleitoral gerou grandes mudanças dentro do partido, que fez o PT perder algumas de suas principais características, de sua militância.
Os governadores, os prefeitos eleitos ganharam muito poder dentro do PT. Houve uma expropriação do poder dos militantes. Claro que isso não foi um processo consciente, ninguém planejou tirar o poder dos militantes. Mas isso aconteceu. O PT sem militantes ficou descaracterizado.

Folha - Há quem aponte que o PT sem ideais se tornou apenas uma máquina de ascensão social de seus membros. O sr. concorda?
Singer -
Eu não aceito que isso tenha acontecido com o partido. É algo que aconteceu, mas eu não quero. Claro que não é um problema que as pessoas tenham melhorado de vida honestamente por causa do PT, mas não criamos o PT para resolver o problema dos petistas. O partido foi criado para ajudar nas lutas sociais e populares. O fato de o partido ter sido usado como máquina de ascensão social hoje está mais claro para nós, militantes do PT.
O movimento de refundação do partido pretende atacar justamente esse problema.

Folha - E os eleitores que hoje se sentem órfãos do partido?
Singer -
Esse é um movimento que aconteceu, é possível que continue. Muita gente respeitável saiu do PT. Mas o PT tem um futuro possível. Não significa voltar às origens e ser um partido pequeno. Acho que o PT tem uma obra para mostrar. Mudamos uma parte do país, uma parte pequena, mas melhoramos o Brasil. O futuro está em provar que o PT é respeitável e que pode continuar a mudar o Brasil para melhor.


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