São Paulo, sábado, 13 de fevereiro de 2010

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CRISE CAPITAL

Defesa reclama que Arruda não foi ouvido

Advogado Nélio Machado afirma que STF "recebeu informação parcial" ao tomar a decisão de manter seu cliente preso

Defensor diz que governador afastado nega o chamado esquema do mensalão do DEM e tentativa de suborno a uma testemunha do caso


HUDSON CORRÊA
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A defesa de José Roberto Arruda (sem partido) reclamou ontem que o governador afastado até agora não foi ouvido pela Polícia Federal e pela Justiça sobre acusações do mensalão do DEM e suposta tentativa de suborno a uma testemunha do caso -que o levou à prisão.
O advogado Nélio Machado afirmou esperar não ter de recorrer à lei de proteção aos animais, como fez o advogado Sobral Pinto (1893-1991) ao defender na década de 30 o dirigente comunista Harry Berger, cuja defesa era ignorada.
Machado disse que aguardará o julgamento do habeas corpus pelo pleno do STF (Supremo Tribunal Federal), o que só ocorrerá após o Carnaval.
"Ele [o ministro] recebeu uma informação parcial. Não ouviu a defesa. Nós não tivemos a oportunidade de contraditar, de contestar, apresentar argumentos", disse Machado.
Em entrevista à imprensa, o advogado se concentrou no argumento de que Arruda não foi ouvido nas investigações da PF.
Ele reclama que o STJ (Superior Tribunal de Justiça) também não ouviu os advogados do governador ao decretar a prisão. "A defesa não falou em nenhum tribunal", disse. "O que se assegura a qualquer do povo, a ele [Arruda] não se garantiu."
"[Isso é] extremamente grave e revela no fundo o açodamento que timbrou essa investigação. Há dois meses e meio esse assunto tem ocupado espaço nos meios de comunicação e até agora, mesmo tendo se apresentado espontaneamente à prisão, ninguém se interessou em ouvir" o governador, disse.
Conforme o advogado, Arruda nega o esquema do mensalão do DEM e a tentativa de suborno a uma testemunha da investigação, o jornalista Edson Sombra. Nessa linha de defesa, Machado desqualifica o flagrante da PF em que um suposto emissário da Arruda foi preso na semana passada ao entregar R$ 200 mil a Sombra.
"O flagrante tem a marca, em princípio, de ilegalidade", disse, alegando que o suposto emissário, Antônio Bento da Silva, foi preso e interrogado sem a presença de um advogado.
Em outra frente, a defesa de Arruda desqualifica o próprio Sombra como testemunha e, portanto, a necessidade de o governador suborná-lo.
"O depoimento desse senhor Sombra não tem nenhuma finalidade, serventia, porque ele é uma pessoa envolvida em todos os episódios que remontam ao Durval [Barbosa, o ex-secretário de Arruda que delatou o esquema do mensalão]".
"A Justiça acredita numa pessoa que irá depor sem o compromisso de dizer a verdade, mesmo neste flagrante o governador não é ouvido", reclamou mais uma vez o advogado.

Visita
José Gerardo Grossi, outro advogado de Arruda, visitou o governador à tarde, antes de o STF manter a prisão. Indagado sobre a defesa, Grossi afirmou que iria recorrer a "ONU, Otan ou quem sabe até a Deus".


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